A Inquisição é um campo aberto, onde os investigadores ainda têm muito por descobrir e aprofundar. A constatação vem do maior congresso internacional de sempre sobre a Inquisição em Portugal, realizado no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, entre 20 e 22 de Outubro.
Organizado pela Província Portuguesa da Ordem dos Dominicanos e pela Faculdade de Letras de Lisboa, o Congresso “Inquisição - Tempo, Razão e Circunstância” abordou esta instituição nas suas mais variadas vertentes, em diferentes épocas e países, com Portugal em destaque.
Nas conclusões do Congresso, recolhidas pela Agência ECCLESIA, foi destacado que a Inquisição não é uma questão fechada, é uma instituição de mil faces, um espaço “intra e entre” poderes políticos e religiosos, económicos e culturais. Luís Filipe Barreto, professor do Departamento de História da Faculdade de Letras de Lisboa e um dos relatores do Congresso, referiu que “é necessário pensar no espaço e no tempo próprio da Inquisição”.
“Esta é uma instituição que envolve amplos sectores da sociedade, um fenómeno orgânico”, sublinhou.
A iniciativa contou com a participação de mais de 50 especialistas e historiadores portugueses e estrangeiros, bem como centenas de outros participantes. Mais de 40 comunicações foram dedicadas à Inquisição, agrupadas em vários painéis temáticos (Inquisição e Poderes, Inquisição e Judaísmo, Inquisição e o Mundo Extra-Europeu, Inquisição e Cultura e Universos da Inquisição).
O Prior Provincial dos Dominicanos em Portugal, Fr. Miguel Martins dos Santos, referiu-se a esta iniciativa como um grande acontecimento para a História da Igreja em Portugal, dado que proporcionou “um conhecimento mais matizado e rigoroso do fenómeno complexo que é a Inquisição”.
Ao manifestar o seu desejo de que se publiquem quanto antes os trabalhos do Congresso, Fr. Martins dos Santos lamentou ainda “a superficialidade com que é tratado este tema no nosso país”.
José Augusto Mourão, membro da Comissão Científica do Congresso e presidente do Instituto S. Tomás de Aquino, fez questão de frisar que desta iniciativa resultam, sobretudo, “desafios e propostas de linhas de investigação”.
O facto é que, sobre a Inquisição, há inúmeros documentos e processos que ainda estão por analisar. A necessidade de alargar as fronteiras da problemática na análise da massa documental deixa ficar claro a urgência de se desenvolverem novos estudos e de constituírem núcleos documentais relevantes.
As categorias habitualmente utilizadas para abordar esta temática também foram questionadas. Os limites das dicotomias religioso e político, espiritual e temporal ou laico e clerical estiveram em destaque ao longo dos trabalhos, questionando-se até que ponto elas são operativas e verdadeiras.
Luís Filipe Barreto, ao apresentar as conclusões do colóquio, sublinhou que “a realidade com que estamos a lidar exige outras categorias de análise, mais adequadas para as potencialidades da massa documental”.