Nacional

Institutos religiosos asseguram assistência psiquiátrica

Octávio Carmo
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A saúde mental em Portugal deve muito à acção do Instituto de São João de Deus e do Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, seja na área de prestação de cuidados, seja na área de formação de agentes. “Não consigo imaginar a saúde mental em Portugal sem os Irmãos de São João de Deus e sem as Irmãs Hospitaleiras” adverte Vitor Cotovio, coordenador do VIII Congresso de Psiquiatria São João de Deus, que decorreu na UCP entre 20 e 22 de Fevereiro. Os números falam por si: mais de 50% das camas do Serviço Nacional de Saúde, para a psiquiatria, sendo que nas Regiões Autónomas a dimensão é mesmo de 100%. A capacidade de reposta assistencial dos Institutos contrasta com uma certa apatia do Estado. “A importância da assistência psiquiátrica não tem só a ver com o números de camas, mas também com a qualidade e as valências que oferecemos”, reforça Vitor Cotovio. A remodelação do modelo de gestão hospitalar traz consigo problemas acrescidos para esta área, ao excluírem do espaço dos hospitais públicos os “doentes crónicos”. O lugar do doente mental na saúde portuguesa parece assim comprometido. O director clínico da Casa de Saúde do Telhal não esconde que “essa é uma grande questão, porque parece haver incompatibilidade entre a doença mental e a gestão empresarial da área da saúde. A assistência psiquiátrica tem de ser salvaguardada, em complementaridade, com o reconhecimento formal do Estado” As camas hospitalares nos serviços públicos são poucas e respondem a casos “agudos”, pelo que o espaço para doentes de evolução prolongada é, há já vários anos, muito limitado. “Os doentes entram muitas vezes naquilo a que chamamos porta giratória – vários internamentos por ano –, ocupam a cama e o Hospital fica bloqueado. Como as famílias não conseguem dar resposta a estas situações, acabam por ser os protocolos com as nossas Instituições a resolver o problema”, revela. Um exemplo sintomático deste estado de coisas chega da área da psiquiatria de crianças e adolescentes, onde existe um serviço de internamento, no Hospital de Dona Estefânia (HDE), em Lisboa. “O HDE, porque não reúne condições no internamento de pedopsiquiatria, porque já tem adolescentes a sair e a regressar constantemente, queria fazer um protocolo connosco para haver uma cedência de camas. Como é evidente, mostramo-nos disponíveis, mas pedimos que fossem dizer à ARS que têm essa necessidade, para todos em articulação se fazer esse protocolo”, explica Vitor Cotovio. O problema da doença mental não se resolve, porém, com o internamento do doente, pelo que a necessidade de investimento na reabilitação é indispensável. “Estes Institutos foram pioneiros, porque já antes de existir legislação em Portugal que visava a integração do doente na comunidade este processo tinha sido iniciado com equipas multidisciplinares dedicadas à reabilitação psicossocial, tentando dar a maior autonomia possível aos tais doentes crónicos”, confirma. A qualidade do serviço prestado nestas Instituições está acima de qualquer suspeita e é a melhor garantia de que o futuro não se esquecerá do doente psiquiátrico, mas as parcerias entre o Estado e os Institutos são fundamentais para melhorar o actual panorama no nosso país. “Nós damos respostas no campo da reabilitação psicossocial, onde fomos pioneiros; além disso, estamos capacitados a dar resposta em casos agudos e o doente tem o direito fundamental à livre escolha. Até agora estas respostas têm surgido da generosidade e entrega dos Hospitaleiros, mas as dificuldades financeiras já se fazem sentir”, conclui Vitor Cotovio. (Entrevista Superior Provincial dos Irmãos de S. João de Deus em www.agen-ciaecclesia.org)


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