João Paulo II e a Liturgia Voz Portucalense 01 de Outubro de 2003, às 16:16 ... Secretariado Diocesano do Porto para a Liturgia No próximo dia 16 de Outubro completam-se 25 anos desde a eleição do então cardeal arcebispo de Cracóvia para a Sé de Pedro. Trata-se de um jubileu pessoal que diz respeito a toda a Igreja e que será vivido na acção de graças ao Pastor dos pastores que jamais abandona a sua a Igreja mas antes a conduz através dos tempos mediante o ministério humano de tão dedicados «servos dos servos de Deus». Naturalmente, é tempo de balanço, também no sector da Liturgia e da Pastoral litúrgica. Vinte e cinco anos de pontificado de um Papa com uma personalidade tão vincada e um carisma tão assinalado deixam forçosamente marca na vida litúrgica de toda a Igreja católica. Porque, efectivamente, é na Sé Apostólica que reside a máxima e principal autoridade na regulação da sagrada Liturgia (cf. SC 22 § 1). Quando, por desÃgnio divino, João Paulo II foi escolhido para presidir à caridade e confirmar os seus irmãos, o processo da reforma litúrgica decretada pelo ConcÃlio atravessava um perÃodo difÃcil de estagnação e impasse que durava há, pelo menos, três anos. Com o novo Papa a Congregação para o Culto Divino (ou a respectiva secção) recuperou dinamismo e o processo da reforma litúrgica foi retomado: o plano das edições tÃpicas dos livros litúrgicos reformados por determinação do II ConcÃlio do Vaticano foi levado a bom termo (pensemos no Bendicional, no Cerimonial dos Bispos, no Martirológio, em enriquecidas novas edições do Ritual do matrimónio, do Pontifical das Ordenações, da Liturgia das Horas, do Missal romano…), ao mesmo tempo que importantes instruções e documentos com incidência pastoral foram publicados (Carta circular sobre a celebração das festas pascais; Directório sobre as celebrações dominicais na ausência do presbÃtero; Instrução sobre a Liturgia e a Inculturação; publicações várias no âmbito da preparação e celebração do Jubileu do ano 2000; Directório sobre a Liturgia e a Piedade Popular; etc). Logo no seu primeiro documento programático, a encÃclica Redemptor Hominis (4 de Março de 1979), João Paulo II sublinhou que o conteúdo da vida quotidiana da Igreja consiste na vivência do mistério pascal de Cristo, incessantemente celebrado na Eucaristia. É assim que a Igreja permanece na esfera do mistério da Redenção, que se tornou também o princÃpio fundamental da sua vida e missão (cf. n. 7). Mais adiante, no n.º 20, o Papa esboça pela primeira vez uma reflexão que reaparecerá repetidas vezes no seu magistério, até encontrar o seu mais amplo desenvolvimento na mais recente das suas encÃclicas, Ecclesia de Eucharistia. Há 24 anos escrevia o PontÃfice: «É uma verdade essencial, não só doutrinal mas também existencial, que a Eucaristia constrói a Igreja; e constrói-a como autêntica comunidade do Povo de Deus, como assembleia dos féis, assinalada pelo mesmo carácter de unidade de que foram participantes os Apóstolos e os primeiros discÃpulos do Senhor […]. A Igreja vive da Eucaristia, vive da plenitude deste Sacramento. […] O empenho essencial e, sobretudo, a graça visÃvel e fonte da força sobrenatural da Igreja como Povo de Deus é o perseverar e o progredir constantemente na vida eucarÃstica e na piedade eucarÃstica, é o desenvolvimento espiritual no clima da Eucaristia. Com maior razão, portanto, não é lÃcito nem no pensamento, nem na vida, nem na acção tirar a este Sacramento, verdadeiramente santÃssimo, a sua plena dimensão e o seu significado essencial. Ele é ao mesmo tempo Sacramento-SacrifÃcio, Sacramento-Comunhão e Sacramento-Presença. Se bem que seja verdade que a Eucaristia foi sempre e deve ser ainda agora a mais profunda revelação e celebração da fraternidade humana dos discÃpulos e confessores de Cristo, ela não pode ser considerada simplesmente como uma “ocasião” para se manifestar uma tal fraternidade. No celebrar o Sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, é necessário respeitar a plena dimensão do mistério divino, o pleno sentido deste sinal sacramental, em que Cristo, realmente presente, é recebido, a alma é repleta de graça e é dado o penhor da glória futura». A esta reflexão de fundo segue-se, justificadamente, o apelo à fidelidade na observância duma disciplina litúrgica sabiamente justificada. De facto, o essencial não está nas normas por si mesmas, isoladas do contexto que lhes dá coerência e as justifica. Dois vectores essenciais vão doravante caracterizar toda a intervenção de João Paulo II neste âmbito, quer como Mestre quer como Liturgo modelar: um sentido muito vivo do mistério da Liturgia – que é o mistério pascal de Cristo, presente e actuante na sua Igreja, nos seus ministros e nos mistérios do culto –; e a revalorização, para além de todo o subjectivismo, particularismo e arbitrariedade, da dimensão e incidência eclesial da mesma Liturgia. João Paulo II Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...