Lisboa lembra massacre dos Judeus LÃgia Silveira 22 de Abril de 2008, às 16:49 ... D. José Policarpo diz que a memória do passado é carregada de responsabilidades presentes e futuras Uma esfera, sÃmbolo do mundo, que truncada, evoca a violência e o caos: “Em memória dos milhares de judeus vÃtimas da intolerância e do fanatismo religioso assassinados no massacre iniciado a 19 de Abril de 1506 neste largoâ€. O Largo é o de São Domingos, em plena Baixa da cidade de Lisboa, onde esta Terça-feira foi inaugurado um memorial evocativo da intolerância religiosa que há mais de 500 anos o povo judeu foi alvo. Hoje, mais do que evocar o passado, este memorial é sÃmbolo do futuro. Reconciliação e tolerância formam palavras sublinhadas por todos os presentes. Numa outra escultura constituÃda por duas colunas e pedra unidas por uma faixa de metal estão inscritas palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa, num encontro inter-religioso “Oceanos de Pazâ€, que teve lugar em Lisboa em 2000. As esculturas em pedra, sÃmbolo da intemporalidade, estão ladeadas por um muro, que escrito em dezenas de lÃnguas diferentes, chama a atenção para “Lisboa, cidade da tolerânciaâ€. D. José Policarpo, presente na inauguração, afirma que a memória do passado é carregada de “responsabilidades presentes e futurasâ€. O diálogo entre estas duas comunidades religiosas pode ser encarado como “progresso da humanidadeâ€, considera, pois “o diálogo não se circunscreve ao interno das confissões religiosas, mas diz respeito à humanidadeâ€. O Cardeal-Patriarca não quis deixar de sublinhar que católicos e judeus são “como irmãos. Continuamos a ler a mesma BÃblia, a fazer as mesmas orações, a acreditar no Deus do mesmo projecto de aliançaâ€. D. José Policarpo espera que este memorial seja “um alerta para o futuro e memorial da esperançaâ€. Para o Cardeal-Patriarca, a intolerância que o memorial evoca não está ausente da sociedade. “Devemos estar contentes pela civilização do ocidente ter vencido e ultrapassado expressões tão violentas e primárias, mas elas existem no mundo de hoje, por vários motivos, entre os quais religiosos. O Patriarcado de Lisboa assume a formação da fé, onde se inclui a abertura à diferença e ao diálogo inter religioso. Lisboa é cada vez mais uma cidade multicultural, o que constitui um desafio para a Igreja católica. “Se motivada por pressões polÃticas e condicionalismos sociais a Igreja se afirmou num monolitismo cultural, perdeu com issoâ€, assume o Cardeal-Patriarca, para quem "a Igreja católica deve ser uma afirmação do universalismoâ€. Jose Oulman Bensaúde Carp, Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, confessa que há muitos anos a comunidade esperava este momento: “É a primeira vez que há uma manifestação da nossa presença e nossa história que marcou e contribuiu para a história nacionalâ€. O memorial é também uma prova do existente diálogo inter-religioso. O Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa afirma que este dialogo não se deve restringe aos intelectuais. Com o memorial “o diálogo saiu à ruaâ€. Museu judaico Jose Oulman Bensaúde Carp lembra que Lisboa é a única capital europeia que ainda não tem um museu judaico. Uma situação que em breve vai ser alterada. António Costa, Presidente da autarquia adianta à Agência ECCLESIA que este espaço foi já encontrado. A freguesia de Alfama vai acolher o futuro Museu Judaico. O edifÃcio será ainda objecto de restauro, mas os esforços já desenvolvidos indicam que “ambas as partes estão em acordoâ€. Esta poderá ser uma de outras iniciativas que a autarquia da capital está a desenvolver com outras confissões religiosas. Os vestÃgios do bairro islâmico são outro exemplo de futura cooperação entre autarquia e comunidades religiosas. António Costa sublinha Lisboa como a cidade da tolerância. O memorial, mais do que evocar uma tragédia, expressa o “perdão e reconciliação†e devem também “inspirar para futuras atitudes a tomar perante outros fanatismos e fundamentalismosâ€. Em nome da história, “é preciso lembrar que os fanatismos não terminaram e por isso a tolerância tem de ser construÃda todos os dias, não só a religiosa mas em relação a todas as diferentes formas de vida, isto é decisivo para viver em sociedadeâ€, lembra o Presidente da autarquia. A vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Ester Muznick afirma que o Memorial não serve para alimentar ressentimentos históricos, mas nasce de uma relação solidária e fraterna com a Igreja católica. Este é um memorial “virado para o futuro, não para o passadoâ€, mostrando que memória e reconciliação são construtores de “um futuro de convivência pacÃficaâ€, onde a religião é parte integrante da sociedade. Ester Muznick afirma que as religiões não podem ser exiladas do espaço público. Se o debate social envolve questões culturais e polÃticas, “com a mesma legitimidade as religiões devem dar o seu ponto de vista, tal como os polÃticos e os partidos, pois a prática religiosa faz também parte do exercÃcio da cidadaniaâ€. “O Estado laico e neutro religiosamente e a participação das religiões no debate público são parcelas distintas, logo não há motivo porque as Igrejas não possam debater também várias questões sociais e da vida quotidianaâ€, assume. Mário Soares, Presidente da Comissão de Liberdade Religiosa afirma que este é um memorial didáctico que integra a cultura cÃvica e cultiva a não violência e a paz, indispensável a qualquer paÃs civilizado. O memorial significa “um passo a favor da tolerância entre diferentes religiões e a caminho da pazâ€. Soares assume que os esforços para o diálogo têm sido desenvolvidos, com esforço de todas as Igrejas, pois todas elas têm de dar um contributo para a paz no mundo. Diálogo inter-religioso Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...