A Obra do Ardina atravessa um período de sérias dificuldades de sobrevivência. O grito de alerta é de Alexandre Martins, responsável há mais de duas décadas pelos destinos desta instituição que apoia e acompanha crianças e jovens em risco. Ao todo, são mais de meio milhar de crianças que dependem directa ou indirectamente desta Obra imaginada em 1942 por Monsenhor Moreira das Neves e concretizada por Maria Luísa Ressano Garcia e um grupo de outras mulheres noëlistas de então. Seis décadas mais tarde, o futuro destas crianças em risco continua a ser uma incógnita. A Obra do Ardina tem a seu cargo, hoje em dia, 52 crianças e jovens residentes nos seus lares em Lisboa e dá apoio a cerca de meio milhar de crianças em ATL’s e jardins de infância. São jovens e crianças provenientes de bairros problemáticos como a antiga Curraleira, Picheleira, Musgueira, Intendentes-Anjos ou Chelas. São jovens órfãos ou provenientes de famílias disfuncionais, alguns com os pais detidos, outros já envolvidos nas teias da justiça e que são encaminhados para a Obra do Ardina através do Instituto de Reinserção Social, Tribunais de Menores, Misericórdias e da Conferência de São Vicente de Paulo “A manutenção da Obra tem custos muito elevados”, diz Alexandre Martins, acrescentando que o seu financiamento resulta exclusivamente de “protocolos estabelecidos com a Misericórdia e com a Segurança Social, que não cobrem mais de um quarto das nossas despesas e das dádivas que nos chegam essencialmente através do nosso jornal”. Este é o drama da instituição. Com custos permanentes superiores às receitas que consegue obter, a situação financeira tem vindo a degradar-se a ponto de Alexandre Martins temer mesmo pelo seu futuro: “neste momento temos dívidas superiores a cem mil contos”, esclarece. Para tentar ultrapassar este dilema, fez um pedido de auxílio urgente à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, afirmando mesmo que “a Obra do Ardina vive uma das horas mais difíceis da sua já longa história”. Em carta enviada a Paulo Bernardino, presidente do Conselho de Administração da Fundação em Portugal, o responsável da Obra do Ardina afirma-se “constrangido, após 43 anos de colaboração nesta Instituição e de 28 à frente dos seus destinos, a pedir-lhe humildemente uma ajuda, a título de urgência e excepcional para colmatar um pouco das nossas tão grandes dificuldades”. Como primeira resposta a este apelo, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre fez uma oferta imediata de cinco mil livros para a Obra do Ardina, cuja venda poderá render uma verba superior a 25 mil euros, mostrando-se disponível para uma avaliação futura de outras acções de apoio.
Paulo Aido