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Lisboa sai à rua na Solenidade do Corpo de Deus

Agência Ecclesia
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A 7 de Junho, a Igreja celebra a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpo de Deus). Na cidade de Lisboa, é a maior e mais participada procissão. Considerada por muitos a mais antiga de Lisboa, anterior à de Santo António e da Senhora da Saúde, esta é a procissão “oficial” da Liturgia da Igreja, onde se adora Jesus Cristo presente na Eucaristia. As celebrações litúrgicas, neste ano de 2007, adoptam um “formato” diferente dos anteriores. A Missa Solene do Corpo de Deus será na Sé Patriarcal, às 11 horas, presidida pelo Cardeal-Patriarca, D. José da Cruz Policarpo, seguida de vários momentos de oração, orientados por grupos e movimentos, entre as 12h 30 e as 15h 30. Às 16 horas terá lugar a oração litúrgica de Vésperas, na Sé Patriarcal, seguida da Procissão do Corpo de Deus, que passará pelas seguintes artérias da Baixa: Rua de Santo António à Sé, Largo da Madalena, Rua da Conceição, Rua da Prata, Rua da Betesga, Praça D. Pedro V, Rua do Ouro, Rua do Arsenal e terminará na Praça do Município, com a Bênção do Santíssimo. Apontamentos históricos A solenidade conhecida pelo nome de Corpus Christi (em Portugal designada Corpo de Deus) ou do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, só ganha lugar de relevo na Liturgia em 1246, quando o bispo de Liège (Bélgica) instituiu a festa, na sua diocese. Esta primeira “festa oficial” do Corpus Christi surge em consequência das revelações recebidas pela Beata Juliana de Retinne. Pela bula Transiturus (1264), o Papa Urbano IV (que antes fora bispo de Liège) estendeu a festa a toda a Igreja, como solenidade de adoração da Sagrada Eucaristia. A solenidade do Corpus Christi já era celebrada em Portugal no século XIII, desde o reinado de D. Afonso III. Era, à época, uma festa de adoração, não envolvendo a procissão pelas ruas. O rito da procissão foi instituído pelo Papa João XXII (1317). Na igreja dos Mártires, em Lisboa, manteve-se, no decurso dos séculos (e apesar das inovações havidas), o rito da festa com exposição do Santíssimo, Procissão, Vésperas solenes e Sermão. As Câmaras Municipais e as Corporações de Artes e Ofícios acolheram a devota iniciativa, pelo que, a breve trecho, a Procissão veio a tornar-se a mais vistosa e interessante de todas, merecendo o título de “Procissão das Procissões”. Constituída por cortejo cívico e corporativo, com carros alegóricos, figuras pitorescas, danças, momices e cenas de autos sacramentais, a procissão demorava horas a caminhar, vindo a constituir tanto um evento religioso como um evento social. As Câmaras, determinando instruções régias, publicaram Regimentos ou regulamentos da Procissão, indicando os usos e os costumes, os modos de vestir, as obrigações de cada Corporação, as danças (entre elas a judenga, ou dança dos judeus), as bandeiras e pendões, as coreografias (anjinhos, folias, figuras sacras...) e o lugar do Clero. Raras foram as sedes concelhias que não tiveram Regimento da Festa, mas as memórias mais expressivas acerca da Procissão ficaram em Coimbra, no Porto e em Lisboa. Celebrada em Lisboa, a festa do Corpo de Deus incluiu a Procissão, pela primeira vez, em 1389. Eram os tempos da consolidação da autonomia face a Castela e do bom ambiente criado pelas vitórias bélicas de Nuno Álvares e da influência cultural britânica (a ponto de S. Jorge - devoção inglesa, vencedor do Mal, do Dragão - ser considerado Padroeiro de Portugal). Por isso, à solenidade do Corpus Christi juntou-se a festa de S. Jorge. Desta junção, resultou a magnificência da Procissão da capital. A festa chegou a atingir surpreendente grandiosidade no tempo de D. João V, incorporando a Procissão incorporava, desde logo, as associações socioprofissionais e também as delegações das diversas Ordens Religiosas de Lisboa (Agostinhos, Beneditinos, Dominicanos, Franciscanos, Ordem de Cristo...) e militares. No cortejo, avultava a figura de S. Jorge a cavalo e a Serpe, ou dragão infernal (do tipo chinês, locomovido por figurantes), contra o qual S. Jorge lutava. Havia paragens para representação das famas ou glórias de S. Jorge; e também para uma série de danças. Representavam-se ainda as tradicionais “estações” do Santíssimo, como hoje ainda se faz na procissão de Sevilha. No final do cortejo, vinha o pálio, a cujas varas pegavam os mais altos dignitários da Corte e da Câmara, sempre representada por toda a Vereação. Sob o palio, deslocava-se o Bispo de Lisboa, ostentando a custódia com o Santíssimo Sacramento. Era ladeado pelo Rei, ou Chefe de Estado, ou dignitário similar. Dado curioso a salientar é o da tentação de realização de atentados contra as figuras régias, durante a procissão do “Corpus Christi”. Um deles, contra a pessoa de D. João IV. Sobrevivendo o monarca ao acto, a sua esposa (D. Luísa de Gusmão) promoveu a construção do Convento dos Carmelitas, na Baixa Lisboeta. Edificado no exacto lugar do falhado crime, foi chamado do “Corpus Christi”. Outro atentado famoso deu-se contra D. Manuel II, perto da Igreja da Vitória, quando a procissão passava na rua do Ouro. Mas a legislação de 1910, proibindo os dias santos da Igreja (excepto o Natal e o dia 1 de Janeiro), interrompeu o culto público, embora, nas igrejas, continuassem a ser celebradas missas solenes; e solenes pontificiais nas Sés. Em 2003, a Procissão do Corpo de Deus voltou a percorrer as ruas da Baixa, onde outrora se cumpria. A solenidade, presidida pelo Cardeal-Patriarca, teve começo com a celebração da Missa no Largo da Igreja de São Domingos, no logradouro do palácio da Independência. O término da procissão deu-se na Rua Garrett, diante da Basílica dos Mártires, com a Bênção do Santíssimo Sacramento. Estiveram presentes, na Missa e procissão, mais de cinco mil fiéis - entre os quais autoridades civis e militares.


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