Frei Bento Domingues lamentou ontem que o «medo do Islamismo» tenha sido o pretexto para que estudiosos e políticos se sentassem à mesa do debate. Por outro lado, o dominicano defendeu a necessidade de um diálogo mais amplo da filosofia e da teologia com as outras ciências humanas e sociais.
Durante uma conferência sobre Filosofia da Religião, proferida na Universidade do Minho (UM), o pensador dominicano referiu que, neste âmbito, «a grande questão actual se encontra precisamente num confronto triangular, numa “conversa a três” com a racionalidade própria das ciências humanas e sociais».
«Não se pode apenas discutir a essência da religião a partir dos grandes filósofos, mas [no debate] também devem estar presentes a história, a psicologia e a sociologia das religiões », alertou o religioso, que falava durante o Colóquio Internacional “A Filosofia Hoje”, que reúne até hoje académicos nacionais e estrangeiros.
Com esta iniciativa, os organizadores – Departamento de Filosofia e Cultura e Centro de Estudos Humanísticos (ambos pertencem ao Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM) – pretendem realizar um balanço do estado actual dos vários domínios da filosofia.
Entretanto, Frei Bento Domingues percorreu, a partir do posicionamento dos grandes pensadores, a história das lutas e tensões travadas entre a filosofia e a religião, acabando por questionar a recorrência actual «a uma religião pós-moderna, que se baseia essencialmente na vertente emocional », e a um pensamento puramente laico mais ou menos camuflado.
Na sua alocução e em jeito de brincadeira, o dominicano chegou mesmo a dizer que, «ao contrário do que muitos pensam, a religião não está “arrumada”, mas está a “arrumar” com muitas coisas».
«As suas manifestações actuais não são idênticas às dos moribundos », disse o pensador, que iniciara a sua conferência a realçar as sucessivas expressões da religiosidade popular regionais (aludiu à situação geográfica do Campus Universitário da UM, «de onde se avista os santuários do Sameiro e do Bom Jesus…»).
Finalmente, Frei Bento Domingues lamentou que se tenha começado a aprofundar a essência das diversas religiões «por causa do medo». «Todo o interesse que existe hoje pelo Islamismo deriva do medo. Infelizmente, foi o medo que convocou novamente os estudiosos e políticos actuais», referiu o dominicano, que também rejeita «as derivas integristas e fundamentalistas que surgem de forma recorrente».