Nacional

Misericórdia de Aveiro valoriza património artístico

Fernando Martins
...

Órgão restaurado passa a ser uma referência nacional

No Dia de Todos os Santos, 1 de Novembro, também dia da Irmandade que é a Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, foi apresentada à cidade uma valiosa peça histórica de estilo barroco, restaurada, um órgão setecentista. O provedor Amaro Neves, sublinhou mesmo, na cerimónia da bênção presidida pelo nosso Bispo, D. António Marcelino, que este instrumento passa a ser uma “referência nacional”, tal é o seu valor artístico e cultural. Para D. António Marcelino, um órgão deste valor não é um luxo, “porque Deus tudo merece”, embora “o melhor que temos para dar ao Senhor seja o que sai do nosso coração”. Recordando que a igreja da Misericórdia foi a primeira Catedral de Aveiro no século XVIII, o nosso Bispo citou, na circunstância, uma frase bíblica, para recordar que “ao som dos órgãos se louva o Senhor”. Disse ainda que os povos anglo-saxónicos sempre mantiveram este instrumento musical nas suas liturgias, enquanto os latinos, “menos cultos”, o foram esquecendo. Felizmente, a Diocese de Aveiro, que tem tido poucos órgãos artísticos, começou a valorizá-los depois do Vaticano II, havendo já diversas comunidades que estão a apostar neles. Alberto Souto, presidente da Câmara Municipal, sublinhou que a Santa Casa é depositária de um património que faz parte da nossa identidade, que tem sabido preservar e restaurar. “É importante que a nossa geração possa dar continuidade ao legado das gerações que nos precederam”, afirmou o autarca aveirense, acrescentando que “a música de órgão nos faz mergulhar no mais íntimo de nós mesmos”. A ideia do restauro do órgão de tubos nasceu com a tomada de posse da actual Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, em 1998. No mesmo ano, com o protocolo celebrado entre aquela Irmandade, a Câmara Municipal e o Instituto Português do Património Arquitectónico, deu-se início ao processo que culminou nesta cerimónia de bênção e de apresentação pública, que incluiu um concerto, no mesmo dia, à noite. Posteriormente, associaram-se ao projecto a Universidade de Aveiro e o Banco Português de Investimento, colaborando ainda a Associação Pro-Organo. A primeira notícia deste órgão remonta a 1610, tendo sido adquirido em Lisboa a Sebastião de Figueiredo. Depois, ao longo dos séculos, passou por diversas alterações e reparações. Estava há muito tempo inactivo até que surgiu agora a oportunidade de o restaurar com todo o rigor artístico, histórico e científico. A tarefa coube ao Mestre Organeiro Dinarte Machado, no Atelier Português de Organaria, de Ponta Delgada, que respeitou os rigorosos parâmetros actualmente em vigor para estes instrumentos. Este projecto de restauro envolveu uma despesa global de 125 mil euros. No concerto, que teve lugar na igreja da Misericórdia, na noite do dia 1 de Novembro, actuaram Antoine Sibertin-Blanc (organista), Maria Ana Fleming (soprano) e João Pereira Coutinho (flautista).


Diocese de Aveiro