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Na Colômbia a construir paróquias

José Carlos Patrício
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Aventura e desconhecido são palavras que andam, muitas vezes, próximas daquilo que significa ser missionário. A estes conceitos, o padre Manuel Dias junta ainda o verbo construir, porque de facto toda a sua vocação tem girado à volta da construção de autênticas pontes de fé, entre as populações que serve actualmente na Colômbia, e Deus.

O sacerdote foi o primeiro português, da Congregação dos Missionários da Consolata, a vir para aquele país da América do Sul, em 1984, tendo contribuído para o reavivar da fé cristã em muitas paróquias locais.

Natural de Ferreira do Zêzere, perto de Tomar, onde nasceu em 1937, confessa que “sempre sentiu um desejo de fazer o bem aos outros”, algo que o levou a entrar para o Seminário dos Missionários da Consolata, em Fátima, aos 22 anos.

Depois de ter concluído os estudos em Itália e ter trabalhado em Fátima durante 12 anos, pediu para partir para fora, “porque era para isso que se tinha tornado missionário”.

“Enviaram-me para a Colômbia para fomentar o carisma internacional da congregação”, recorda o padre Manuel Dias, em declarações à agência ECCLESIA

O trabalho dos Missionários da Consolata naquele país passa actualmente pelo trabalho com camponeses, indígenas, afro-descendentes, nas periferias urbanas, nas comunidades paroquiais e nos centros de Animação Missionária e casas de Formação.

Há 26 anos atrás, num mundo que não conhecia bem, “nem sequer a língua”, que aprendeu durante um mês, o sacerdote português teve como primeira missão a zona conturbada de Caqueta, mais concretamente na paróquia de Cartagena del Chaira, conhecida por ser uma região com muita guerrilha e entregue ao tráfico de drogas.

Evangelização e mediação de conflitos fizeram parte do seu dia a dia durante sete anos - “Estive em sítios onde não se via um padre há muito tempo”, realça o missionário da Consolata, que visitou povos e aldeias perdidas no meio da selva.

“Foi como que uma primeira evangelização, contactar as pessoas, com a comunidade, baptizar as crianças, deixar um líder para preparar a primeira comunhão”, explica ainda.

Apesar de grande parte das pessoas já ser católica, a percentagem de praticantes era muito reduzida. As crenças supersticiosas eram muitas vezes mais fortes, provocando um afastamento da igreja.

“Foi preciso reavivar essa fé e a evangelização que fazíamos era nesse sentido”, refere o padre missionário, que teve como um autêntico desafio a (re)construção de comunidades cristãs, das suas paróquias, ao mesmo tempo que se procurava dar mais condições de vida às populações.

“Quando cheguei, tivemos que fazer um poço para ter água, reconstruir a casa paroquial e levantar uma Igreja, de raiz”, recorda.

Depois, havia que contar com o fenómeno da violência, levada a cabo pelas guerrilhas espalhadas pela região (especialmente as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), associada ao problema do tráfico de droga, situações que afectavam a vida daquelas populações.

“Havia muitos sequestros e mortes e via nas pessoas a tentação de levar uma vida fácil, produzindo e vendendo cocaína” lamenta o sacerdote.

“Cheguei a encontrar-me com todos esses movimentos de guerrilha, falei com eles, são situações em que temos antes de mais de ter cuidado com o que dizemos” ressalva o missionário, que usou como “armas” o carinho e a amizade, para procurar resolver conflitos.

“Essas pessoas aceitam bem o missionário estrangeiro, respeitam-nos porque sabem que estamos no país para ajudar os pobres” refere o padre Manuel Dias, acrescentando que “a pouco e pouco, elas vão ouvindo as orientações que damos, onde procuramos fazer ver aos guerrilheiros e traficantes o mal que estão a fazer”.

Depois de vários anos em que exerceu funções administrativas nas Casas da Comunidade Missionária, em Medellin, Manizalles e Bogotá, actualmente, o padre Manuel Dias encontra-se a trabalhar em Bucamaranga, como director do Centro de Animação Missionária, na paróquia de La Consolata.

“Ao mesmo tempo tenho um bairro, chamado Monte Redondo, onde estou a levantar uma comunidade já há quatro anos”.

Trata-se de um bairro bastante pobre, com cerca de 5 mil habitantes, que muito em breve vai ter a sua própria Igreja – será mais uma paróquia a ser construída.

“As pessoas têm estado a colaborar muitíssimo”, conta o sacerdote, avançando que “aquilo que começou com 17 pessoas a celebrar missa num prado, conta hoje com cerca de 500 pessoas que participam, cada domingo e duas vezes por semana, nas celebrações eucarísticas”.

Para além disso, foram formados 9 grupos de oração em todo o bairro, depois os catequistas, acólitos e cantores, “procurando dar-lhes vida, porque isso é o mais importante numa comunidade” defende o padre Manuel Dias.

Com o regresso a Portugal cada vez mais no horizonte – “já tenho alguns anos” brinca o sacerdote – diz que da Colômbia vai levar no coração “uma gente que sempre o acompanhou e se mostrou muito aberta ao trabalho e à oração”.



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