Na contemplação do presépio, ver o mundo com o olhar da eternidade Pe. Jacinto Farias 16 de Dezembro de 2005, às 14:39 ... Há dias alguém me enviou fotografias do pequeno Samuel, o qual, ainda no útero materno, foi submetido a uma delicada operação, que lhe permitiu a sobrevivência, sendo agora um menino de perfeita saúde, motivo de alegria e felicidade para os seus pais. O maravilhoso desta história é que no final da operação o bebé introduziu a sua pequenina, mas bem desenvolvida mão através da abertura e agarrou-se ao dedo do médico cirurgião, atónito com o que estava a acontecer, vindo depois a confessar ter sido aquele um dos momentos mais emotivos da sua vida. O cirurgião ficou como que gelado, paralisado durante alguns segundos, o tempo suficiente para que este momento tenha sido recolhido em fotografias que deram a volta ao mundo e que o NY Times designou como a mão da esperança! Os milagres que a ciência e a tecnologia podem fazer quando colocadas ao serviço da vida!... Dar a mão, deixar-se agarrar pela mão que nos conforta, nos anima, no entrelaçar dos dedos que simbolizam uma comunhão que vai para além dos corpos, que une ou deseja unir os corações, num apelo de transcendência espiritual, no face a face das linhas da vida onde se escreve o nosso destino eterno, porque os nossos nomes estão gravados nas mãos de Deus!..., por outra mão bendita, que nos preparamos para contemplar no mistério do Natal! Essa mão bendita do Menino Jesus, que veio revelar-nos o grande mistério do pensamento de Deus a respeito do homem, erguida em gesto de bênção, com os dedinhos unidos a recordar-nos as duas naturezas, porque Ele é homem e Deus verdadeiro!... E fez-se o que nós somos, Filho do homem, para que o homem se torne Filho de Deus!..., no colo da Virgem Mãe!... No mistério da Incarnação o Verbo faz-se carne, fez-se o que nós somos, para nós sermos o que Ele é… Ele desceu para que o género humano subisse. O cristianismo é incarnação redentora, e o Natal celebra este mistério e é por isso que o povo de Deus exulta de alegria, na contemplação do que aconteceu naquela noite em Belém, no presépio, quando a Virgem Maria deu à luz o seu Filho primogénito, porque o primeiro de uma multidão de irmãos, daqueles que serão gerados, como Ele, não pela vontade do homem nem dos sangues, mas de Deus (Jo 1, 13). Cabe à Igreja, a todos cristãos velar para que não se esqueça hoje o mistério profundo do presépio, porque aà está a revelação da dignidade para a qual o homem foi chamado: Recorda-te, ó homem, da tua dignidade, porque és o amado de Deus, dizia S. Leão Magno num dos seus sermões de Natal! S. Francisco intuiu a profundidade deste mistério que irradia da beleza do silêncio de Belém. Na manjedoura não estava o Menino, porque ela foi transformada em altar onde se celebrou a Eucaristia. O Santo de Assis percebeu que o Natal é o mistério da Incarnação, que é celebrado na Eucaristia, o verdadeiro corpo nascido de Maria: Salve, ó corpo verdadeiro, nascido da Virgem Maria!... A Incarnação continua hoje na Igreja, na Eucaristia, e o presépio é o sacrário, seja o que está nas nossas igrejas, seja cada um de nós, em cujo coração o Verbo quer nascer, hoje, como então em Belém… É o nascimento do Verbo de Deus na alma, que a transforma num presépio vivo. Aqui está o segredo do humanismo cristão, da hospitalidade, da atenção cuidada e atenta ao nosso próximo, no qual, como em S. Martinho de Tours, no pobre, pode disfarçar-se o Senhor: Sempre que fizeste isto a um dos meus irmãos mais pequenos, foi a mim que o fizeste! (Mt 25, 40). É urgente que se constitua uma corrente de solidariedade e de caridade entre nós, que envolva neste tempo o mundo inteiro, assinalado por tantos focos de violência, de ódio, de destruição, de marginalidade. Quantos imolam a vida (própria e dos outros) no idolátrico altar do poder, da cobiça e da ambição: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4, 9). Vivemos tempos difÃceis, de um autêntico tsunami espiritual, de uma diabólica onda devastadora que está a arrasar o mundo, a destruir o homem, e que investe violentamente contra a Igreja, o último reduto, a rocha firme, onde ainda se pode encontrar esperança, mas infelizmente também danificada!... Desde Paulo VI até Bento XVI, os pontÃfices não se têm cansado de nos alertar para este perigo, que agora é realidade, quando todos nós somos perseguidos pela nova ideologia intelectual do culturalmente correcto, sendo já cristãos (leigos ou sacerdotes) levados a tribunal ou difamados na opinião pública, apenas por terem a coragem e a ousadia de discordarem do pensar dominante! Porque os crucifixos vivos incomodam!... Não nos deixemos adormecer, neste Natal! Deixemo-nos envolver pela sabedoria e pela graça do Menino, pelo seu olhar simples e profundo, que o gesto da mãozinha acompanha, a recordar-nos que só Deus é grande, que é necessário erguer os corações ao alto, e deixar que sejam os mortos a enterrar os mortos, que estamos em trânsito, que devemos olhar o mundo com a simplicidade e pureza do coração, com o olhar da eternidade! Que Ele nos dê a força e a coragem para o martÃrio!... José Jacinto Ferreira de Farias, scj Natal Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...