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«Nascimento de Jesus desafia-nos a abrir caminhos novos»

José Carlos Patrício
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Bispos portugueses esperam que o espírito de Natal se prolongue muito para lá das luzes e das festas

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga considera que “o nascimento de Jesus inaugurou uma nova era”, ao trazer uma perspectiva de salvação para toda a humanidade. Um capital de esperança que, segundo o arcebispo de Braga, deve ser aproveitado para vencer dificuldades e criar condições para uma sociedade mais humana e feliz.

“Não é tempo de lamentações nem queixumes quando temos tudo ao nosso alcance para fazer do mundo um lugar de beleza” sublinha o prelado, numa mensagem deixada aos fiéis durante a Solenidade do Nascimento de Jesus Cristo, celebrada dia 25 de Dezembro na Catedral de Braga.

Para D. Jorge Ortiga, o projecto de salvação que Deus trouxe a cada homem, ao enviar o seu Filho, “desafia-nos a abrir caminhos novos”, mais coerentes com a Palavra que Cristo trouxe ao mundo.

“Que nos adianta falar de progresso humano se muitos continuam mergulhados na fome e na miséria? De que valerá apostarmos na humanização da economia se continuamos a explorar os bens naturais em favor de uma minoria?” questiona o arcebispo de Braga, apelando a todos os cristãos para que coloquem a sua cidadania ao serviço do bem comum.

Para D. Manuel Clemente, “a grande lição do Natal” está num Deus que se fez Menino, “intrinsecamente interdependente” e que “contrasta em absoluto” com as noções actuais de segurança, poder e glória.

Na sua mensagem para o dia de Natal, o bispo do Porto sublinha que as circunstâncias do nascimento de Jesus, assim como da sua morte, continuam a ser motivo de “contraste” e de “surpresa”, numa sociedade que teima em primar por uma “inveterada auto-suficiência”.

Nascido no seio de “um dos maiores impérios que a história conheceu”, o Império Romano, Jesus vem ao mundo num quadro de simplicidade. “Nem palácios, nem corte, nem guardas, nada de espantoso ou imponente” recorda o prelado.

No entanto, “num mundo cheio de luzes de variadas grandezas, juntamo-nos em torno daquele pleníssimo Menino” afirma D. José Clemente, para quem o segredo desta atracção continua a ser, dois mil anos depois, “um Deus que se dá a conhecer na humanidade de Cristo, estendida à humanidade de todos, com a sua frágil consistência, a única que dá lugar ao verdadeiro amor, que é relacional e gratuito”.

Esta ligação estreita entre Deus e o Homem, que nos fez “filhos de Deus”, continua a ser a “absoluta novidade do cristianismo” realça o prelado, que no contexto da actual crise económica identifica sinais positivos do Natal de Cristo, “activo no mundo”, tanto ao nível da simples boa vizinhança, como no papel solidário de variadas instituições sociais e empresas.

O bispo do Porto deixa contudo um alerta: “temos muito a recuperar e a desenvolver, no que aos sentimentos básicos respeita, para nos levarmos mais a sério como humanidade feliz e solidária”.

Segundo D. José Policarpo, trata-se sobretudo de acompanhar a transformação que a incarnação de Deus trouxe para a convivência entre os homens.

“Em Cristo, podemos ser, uns para os outros, caminhos de Deus” aponta o Cardeal-Patriarca de Lisboa na sua homilia do dia de Natal, convidando os fiéis a acolherem no seu íntimo o nascimento de Jesus.

“Abramo-nos, nesta festa tão bela, a esta simplicidade do coração que nos levará, com coração de criança, a tocar Deus em tudo o que é verdadeiramente humano” conclui.



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