Uma Exposição de Presépios associa-se ao Nascimento de Jesus, na expressão simples e popular do Natal, com tudo o que esta palavra significa celebrações religiosas, festas familiares, solidariedade, arte....
O Mistério do Natal é o Mistério da Revelação de Cristo com tudo o que se possa traduzir nos comportamentos dos homens.
As primeiras representações do Nascimento de Jesus surgem nas Catacumbas de Roma, séculos III-IV, onde, de algum modo nasce a pintura paleocristã. Figuram-se, particularmente, a Virgem e o Menino; de seguida, século IV, figuram-se as tradicionais - Jesus, Maria, José e os magos, porquanto, a mentalidade helénica dos convertidos ao cristianismo não “entendia” que o Salvador fosse adorado pelos simples pastores, que vieram mais tarde (tal como a representação de Cristo crucificado, nu, pregado na cruz).
A partir do século IV, a expressão artística da vida de Jesus “liberta-se” daquela mentalidade “triunfalista” do Homem-Deus, para afirmar a Humanidade de Jesus.
A representação do Nascimento de Jesus fundamenta-se nos relatos dos Evangelhos que nos apresentam os principais intervenientes: Jesus, Maria, José, anjos, pastores e os Magos. A tradição cristã trouxe, desde os séculos II-III, outros figurantes inspirados nos chamados Evangelhos Apócrifos, nascidos da imaginação e piedade de escritores cristãos - acrescentando os animais do estábulo, a vaca, o jumento e outros elementos do quotidiano.
Por outro lado, une-se o dia 25 de Dezembro ao dia de Natal, a partir do século IV, depois da Paz de Constantino, grande festa da Igreja. Antes deste século, provavelmente, o Nascimento de Jesus celebrava-se a 6 de Janeiro, com a adoração dos Magos, dia celebrado, actualmente em algumas Igrejas.
A celebração a 25 de Dezembro resulta de uma aculturação feita pela Igreja, relacionada com os costumes romanos relacionados com as festas mitrais e saturnais de 25 de Dezembro. Roma celebrava o Sol, Solstício de Inverno, glorificação do Sol Invictus (apropriado pelos imperadores). A Igreja cristianiza as festas pagãs com a glorificação de Cristo, no Seu Nascimento - Sol Invictus, Sol Invencível, a 25 de Dezembro.
Há quem atribua a representação do Nascimento de Jesus, o Presépio, a São Francisco de Assis que, em 1223, criou, ao vivo, a cena do Nascimento de Cristo, em Greccio, Itália, segundo o relato evangélico.
No entanto, segundo a tradição, os primeiros presépios, assim entendidos, surgiram muito antes.
A palavra presépio vem de “Praesepe” que significa estábulo ou estrebaria, manjedoura, tomando o conjunto figurativo das personagens principais descritas nos Evangelhos - o Menino, Maria, José, anjos, pastores e magos.
Segundo a tradição, o primeiro presépio foi levantado, em Roma, feito com colunas provenientes de Belém (Palestina), “antro praesepe” ou “cova” da manjedoura, obra que motivou a construção da igreja “S. Maria ad Praesepem”. No século V, aparece um “oratório” onde se depositaram “relíquias” de Belém. Três séculos mais tarde, levanta-se uma “manjedoura” na Basílica Vaticana com o nome de “Praesepe a Sancta Maria Transtevere” que dá o nome à igreja que se construiu perto do Vaticano.
A celebração do Nascimento de Jesus expressa-se, igualmente, em formas artísticas literárias, cânticos...
Roma assiste a uma espécie de teatro, tal como a Europa através dos “mistérios medievais”, onde se representa o Nascimento de Cristo (Gil Vicente) que passou também ás representações plásticas em pintura, escultura, gravura... arte popular religiosa.
Retomando a expressão artística do Presépio, nas suas diferentes variantes, Mecenas, Ordens Religiosas e Militares, igrejas, confrarias, a devoção popular... incentivaram a produção e feitura de presépios, a partir do século XVI, a devoção ao Menino Jesus, desenvolvendo-se “o culto do Presépio” (portugueses e espanhóis deram enorme incremento, dentro da sua acção missionária). Inúmeras naus partiram de Belém, carregando presépios que foram motivo de inspiração nas colónias portuguesas. A partir do século XVIII, o culto do presépio está nas casas dos portugueses (as feiras dos Santos, 1 de Novembro, proporcionavam a compra de “bonecos” de barro para os nossos presépios). Portugal, o Alentejo, é terra de barros, matéria dúctil para a feitura de peças desta natureza.
Esta Exposição é expressão viva da arte presepista, na tradição de Machado de Castro e outros artistas e mostra a beleza da arte popular religiosa - Estremoz, Barcelos, Mafra, Caldas da Rainha, Sintra e artistas de outras proveniências - revelação de um Património de valores, de emoções e mensagens.
Coincidindo com a Exposição do Palácio de Belém em Portalegre, este conjunto de presépios e maquinetas - parte do acervo da colecção do Senhor Rui Sequeira (1933-2000) doada à Diocese de Portalegre-Castelo Branco - postado em Belém, junto ao Tejo de onde partiram as naus das Descobertas que levaram presépios para vários Continentes, aqui está, como elemento de diálogo e mensagem.
Pe. José Heitor Patrão, Sector dos Bens Culturais da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, in “Natal em Português”, ed. Museu da Presidência da República