Dado o elevado volume de filmes produzidos em todo o mundo, apenas uma percentagem reduzida chega a Portugal. Escassas centenas em cada ano estreiam nas salas de projecção, havendo um número bem maior lançado directamente em vídeo e DVD, ou televisão, seja em canal aberto seja em codificados.
Quando o filme estreia em sala está sujeito a regras que, mais por tradição que por imposição legal, se tem vindo a cumprir ao longo dos anos: a edição vídeo ou DVD aguarda seis meses a partir da estreia; a televisão aguarda outros seis meses sobre o lançamento em vídeo/DVD. As chamadas “janelas” de seis meses têm permitido um certo equilíbrio do mercado que parecia satisfazer todas as partes. Mas como nada é imutável tudo leva a crer que se aproximam tempos tempestuosos.
Para além dos videoclubes tornou-se prática corrente a venda de vídeos/DVD associados a publicações, sejam elas em fascículos com textos cinematográficos seja como complemento de jornais ou revistas generalistas.
Beneficiando da concentração de meios de produção, distribuição e edições jornalísticas, esta associação de obras cinematográficas a publicações tem-se multiplicado, com algum risco para o negócio dos vídeoclubes. A venda em massa permite a prática de preços baixos, incidindo os lançamentos, de forma geral, sobre filmes que já fizeram o seu percurso comercial.
Em data recente uma obra de grande sucesso - Fahrenheit 9/11 – foi lançado como suplemento de um semanário decorridos apenas três meses sobre a sua estreia. É uma obra que fica “queimada” em termos de videoclubes, que tinham uma elevada perspectiva de negócio com este título da autoria de Michael Moore. O editor garante uma antecipação de receitas, mas abre um precedente que se arrisca a provocar um desequilíbrio no mercado. As associações ligadas ao sector iniciaram já os seus protestos, mas tal não garante que não se esteja no limiar de um novo arranjo do mercado com consequências ainda imprevisíveis.
Francisco Perestrello