Nacional

O cordeiro do presépio

António Jesus Cunha
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A fé dos simples

Os jovens daquela paróquia resolveram reactivar a tradição, quebrada há alguns anos, de animar a Missa do Galo com um presépio ao vivo. Os preparativos começaram com alguns meses de antecedência. O entusiasmo era muito grande, pelo que a igreja paroquial afigurava-se como espaço demasiado pequeno. Pensaram erguer uma tenda. A solução comportava desconforto, dado o frio intenso que sente na terra em Dezembro. Alguém pensou num pavilhão agrícola, praticamente desactivado. Seria uma óptima solução, mas o proprietário era pessoa pouco dada às coisas da religião. Quem teria a coragem de lhe pedir para ceder aquele espaço? Depois de muita reflexão, um dos jovens encontrou o meio de obter a cedência do espaço pretendido. A filha do dono do pavilhão tinha um filho, nascido havia alguns meses. Seria o “menino Jesus”. Os pais do menino representariam Maria e José. Mas quem iria apresentar-lhes este convite. Um dos jovens, filho dum dos empregados do dono do pavilhão, chamou a si esta tarefa. Os pais do menino, ambos médicos, viram com simpatia o convite. De facto, o espaço foi posto à disposição e praticamente transformado num amplo templo, bem decorado, com aquecimento e cadeiras para centenas de participantes. A representação, bem preparada, foi um êxito. O dono do pavilhão comoveu-se até às lágrimas por ver o seu neto a fazer de Menino Jesus. Até fez um reparo à filha que estava na altura de pensar no baptizado. Prometeu dar mais atenção às coisas da paróquia., colocando aquele espaço e outros para as actividades da comunidade. Sem que ninguém o tivesse previsto, um grande sinal foi colocado diante da população da aldeia, ali presente na sua quase totalidade. Do espaço onde estavam os animais, um cordeiro, espontaneamente, saltou para o estrado onde estavam as principais figuras do presépio e colocou-se em frente da manjedoura onde estava reclinado o Menino Jesus. Soltou um suave e prolongado balido e ali ficou de pé, diante da manjedoura. O Menino do presépio é o mesmo Jesus que se ofereceu ao Pai como Cordeiro pascal, resgatando o homem do pecado e da morte, restituindo-o à verdadeira liberdade e à felicidade prevista no acto criador, ou seja, dando-lhe o estatuto de filho de Deus. É este Jesus, o Rei anunciado pelos profetas que vem instaurar o reino de justiça, de verdade, de harmonia, de paz e de vida em abundância para todos. É este o verdadeiro Salvador, e não outro! É em Jesus que o homem, hoje mais que nunca, encontrará, se quiser, o segredo da liberdade, da felicidade e da paz. O mundo e os seus critérios continuarão a oferecer apenas vãs esperanças e falsas seguranças. É neste Jesus que os governantes das nações, os responsáveis pelos partidos políticos, mesmo que não acreditem n’Ele, devem pôr os seus olhos e aprender d’Ele a sua mensagem de amor, de paz, de justiça, de verdade, pela qual Ele deu a sua vida no alto da Cruz.


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