Nacional

"O cristão de amanhã será um místico ou não será cristão"

Fernando Martins
...

Citando o teólogo Karl Rahner, o padre Victor Marques, Vigário Episcopal para a Pastoral Geral, afirmou, na Oração de Sapiência da Abertura Solene do Ano Académico do ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro), que teve lugar no Seminário de Santa Joana Princesa, no sábado, que “O cristão de amanhã será um místico ou não será cristão”. Ao desenvolver o tema “O desejo de Deus numa sociedade de desejos”, o orador referiu que, na cultura hodierna, marcada pela “ausência de Deus”, só terão lugar os que, “sedentos de Deus, não confundem as fontes, mas acorrem Àquela que jorra ‘Águas de Eternidade’”. Nessa linha, sublinhou que a revitalização da Igreja “tem de passar pela experiência mística da fé dos cristãos”, porque ela é “a única capaz de oferecer esse horizonte que vislumbra o sentido mais profundo da condição humana”. O padre Victor adiantou que, ao ler os místicos, apercebemo-nos de que eles “foram homens e mulheres inseridos no tempo em que viviam”, enquanto sentimos em nós como que um eco que corresponde ao desejo que os moveu na procura de Deus. Ao abordar a questão da secularização e da pós-modernidade, “que previa o desaparecimento do fenómeno religioso”, reconheceu que “o retorno ao sagrado tem hoje, como nunca teve, um impacto tal que nem a cultura, nem muitas instituições religiosas conseguiram abalar ou mesmo responder à profundidade dessa ânsia humana pelo divino”. Disse que “os novos movimentos religiosos e o cultivo do mágico e do esotérico são uma prova evidente” da procura de Deus, embora haja “um certo afastamento das religiões institucionalizadas”, talvez porque “neste retorno conta, e muito, a experiência humana que o sujeito faz do mistério”. O orador frisou que “falar de Deus numa sociedade de desejos” obriga-nos “a fazer memória da experiência de muitos homens e mulheres que, ao longo de séculos, foram ponto de referência mística, provando na nossa história que Deus não se ausentou, não fechou a porta ao mundo, antes continua a suscitar na Sua obra a sede de Si mesmo”. Parafraseando o cardeal Newman, lembrou, com oportunidade, que “uma fé só herdada, mas não exercida, está condenada nas pessoas cultas a terminar na indiferença, e nas simples a terminar na superstição”. A directora do ISCRA, Doutora Deolinda Serralheiro, informou que, no presente ano lectivo, há cerca de 400 alunos e alunas nos diversos cursos, sublinhando que a Escola do Ensino Superior que dirige se tornou um Instituto de nível nacional e internacional. Referiu que estão inscritos, por exemplo, num curso de Teologia a Distância, entre outros alunos, quatro religiosos do Rio Grande do Sul, no Brasil. Sublinhou a “acção maravilhosa da Escola de Pais, toda ela gerida por pessoas voluntárias, e que durante o ano lectivo transacto desenvolveu num colégio da região seis temas de elevado interesse educativo, estando agora a desenvolver mais três temas em escolas e paróquias, de acordo com solicitações que lhe são feitas”. Nesta cerimónia foram entregues Diplomas do Curso Teológico-Pastoral aos finalistas Élio António Simões, Fernando Alves da Silva, José Carlos Costa, Licínio Martins Marques e Reinaldo Neves Barnabé, todos diáconos permanentes recentemente ordenados. Susana José recebeu o certificado do mesmo curso. Do Curso Básico de Ciências Religiosas foram entregues Diplomas a Emília Vieira Cruz, Eugénia Lopes Valente, Maria Alexandra Figueiredo Varela e Sofia Correia Santiago. No encerramento, D. António Marcelino, presidente do ISCRA, enalteceu o trabalho que este Instituto Superior está a prestar aos agentes de pastoral e à Igreja, levando os alunos “a uma fé mais aprofundada” e “a uma mais consciente experiência de Deus”. Assim, frisou o nosso Bispo, poderemos levar outros a desejar viver essa mesma experiência. E citando Pascal, recomendou que ninguém deve ter medo de procurar Deus. A participação do Grupo Coral Capella Antiqua, dirigido pelo maestro António Mário Pinto da Costa, enriqueceu, pelo seu nível artístico, esta sessão solene.


Diocese de Aveiro