Jornadas pastorais para o Clero da diocese do Porto na celebração do Ano da Eucaristia
Realizou-se de 3 a 6 de Janeiro de 2005, na Casa de Vilar, no Porto, o segundo turno das Jornadas Pastorais para o Clero, com o tema Mysterium Fidei: Eucaristia, Igreja, sacerdócio. Tal como no primeiro turno, as Jornadas foram orientadas pelo Bispo de León e Presidente da Comissão Episcopal de Liturgia da Conferência Episcopal Espanhola, Don Julián López Martín. Participaram cerca de oito dezenas de sacerdotes diocesanos, contando com a presença do Bispo Auxiliar do Porto, D. António Taipa, e do Vigário Geral, Mons. Godinho de Lima. No último dia realizou-se um encontro presidido pelo Bispo da Diocese, o qual acentuou os aspectos mais salientes da celebração do Ano da Eucaristia. No final foram elaboradas e aprovadas as seguintes conclusões, que procuram ser um resumo e consequência das reflexões e vivências produzidas ao longo das duas realizações das Jornadas:
1. A Eucaristia é “fonte e centro da toda a vida cristã”, como afirma o Concílio Vaticano II (L.G., n.º 11), e consequentemente “está no centro do processo de crescimento da Igreja” como conclui João Paulo II, na Ecclesia de Eucharistia (n.º 21). Com efeito, são ainda palavras da Lumen Gentium (n.º 3), “Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual ‘Cristo, nossa Páscoa, foi imolado’ (I Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só Corpo de Cristo (cf. I Cor. 10,17)
Daí que toda a força e eficácia da acção pastoral da Igreja da Eucaristia derive e para ela convirja.
2. Esta centralidade exige de todos, pastores e fiéis, um renovado fervor na celebração e adoração de tão grande Mistério, que venha a reflectir-se não apenas nos seus aspectos celebrativos, mas a assumir-se como projecto de vida, na base de uma autêntica espiritualidade eucarística, como é indicado pela Congregação para o Culto divino e a Disciplina dos Sacramentos, nas suas sugestões e propostas. A autenticidade da celebração não depende de circunstâncias nem de pessoas, mas da fé e da verdade com que a comunidade a celebra.
3. Muito particularmente aos sacerdotes, a quem compete oferecer a Eucaristia in persona Christi, é-lhes pedido que aprofundem os aspectos teológico-pastorais deste mysterium fidei onde Cristo se torna para nós mistério de luz, e cultivem uma consciência viva da presença real de Cristo de modo a testemunhá-la nos gestos e nos comportamentos, como recomenda o Santo Padre na Carta Apostólica Mane nobiscum, Domine (cf. n.º 11 e 18). Cuidem também, para ser menos indignos representantes seus, que a sua vida se configure cada vez mais com os mistérios da Páscoa do Senhor.
4. Compete também aos sacerdotes promover uma celebração decorosa destes santos mistérios, segundo as normas estabelecidas, valendo-se dos diversos ministérios para as funções que lhes estão atribuídas, tirando partido do canto e da música litúrgica e cuidando a homilia, que deve ajudar a compreender a palavra de Deus e a actualizá-la na vida dos fiéis, para que a Eucaristia seja uma verdadeira epifania de Cristo na Igreja e no mundo. Tenha-se em conta também a qualidade a arquitectónica que convém ao espaço sagrado onde se realiza a celebração. Evitem-se todas as improvisações, manipulações abusivas dos textos litúrgicos e variações desconexas e desorientadoras dos fiéis. Tenha-se bem presente a “Instrução Redemptionis Sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia”.
5. Promova-se uma catequese de ripo mistagógico, ao longo do ano litúrgico, destinada a abranger todos os grupos da comunidade paroquial, incluindo as crianças, os adolescentes, os jovens e as famílias. Na Carta Apostólica Mane nobiscum, Domine (n.º 17), o Santo Padre sugere como “compromisso concreto deste Ano da Eucaristia”, “um estudo profundo dos praenotanda da Instrução Geral do Missal Romano. Um caminho privilegiado para se introduzir no mistério da salvação que se realiza nos santos “sinais” continua a ser o de observar fielmente o desenrolar do ano litúrgico”.
6. A centralidade da Eucaristia não se esgota na celebração litúrgica. Tal como consta do programa do Bispo da Diocese, exposto no primeiro dia deste ano de 2005, há que inventar, neste ano da Eucaristia, e concretizar projectos que revelem a Eucaristia como p grande e Santíssimo Sacramento:
- fomentar as visitas ao Santíssimo Sacramento
- despertar os lausperenes
- dinamizar as procissões eucarísticas, sobretudo a do dia do Corpo de Deus
- reactivar as confrarias do santíssimo Sacramento
- formar na atenção e reverência que nos merece o sacrário
- promover conferência com tema eucarístico
- fazer, a todos os níveis, catequeses extraordinárias
- levar a cabo exposições de arte sacra sobre a Eucaristia.
Em ordem a toda esta mobilização em torna da Eucaristia, preparem-se subsídios litúrgicos, devocionários, manuais, repertórios musicais e desencante-se do tesouro da Igreja “coisas novas e velhas”.
Estejam ainda as Igrejas abertas em tempo útil para os fiéis, e os horários estejam devidamente publicados e publicitados.
7. Tudo o que se vem ensinando e aprendendo acerca da leitura crente da Bíblia (lectio divina) esteja subjacente à celebração da Palavra e possa contribuir para a verdadeira compreensão do que se realiza no Altar.
A Igreja, iluminada e alimentada pela Palavra, traz ao altar e nele depõe o que, mediante o exercício do sacerdócio hierárquico, vai ser oferta ao Pai, não já o pão e o vinho, mas o que esses elementos passam a ser: o verdadeiro Corpo do Senhor imolado, e cujo sangue é sacrifício redentor e salvador para o mundo.
8. Este Ano da Eucaristia deverá constituir uma oportunidade de renovação e de novo empenho para cada pessoa e cada comunidade no amor a Cristo na Eucaristia que sempre nos transforma quando a ela nos expomos.
6 de janeiro de 2005.