Nacional

O Natal de sempre

Jornal «O Mensageiro»
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Entre a cidade e a aldeia

O Natal é uma festa comemorada em todo o mundo. Não importa o idioma, a raça, a condição económica, a idade ou o clima. Cor, alegria, esperança, amor, presentes, música criam o clima festivo desse evento universal e cada país segue uma tradição, respeitando na linha evolutiva do tempo, os costumes elaborados pelos antepassados. Embora a essência da festa de Natal seja a mesma em cada pessoa as manifestações de alegria sucedem-se. Entoam-se os Cânticos do Nascimento do Menino, tão lindos como sugestivos, tão ingénuos como variados! Estes cânticos de Natal constituem um completo romanceiro de toda a Vida de Jesus. Neles transparece, profundamente, o sentimento de religiosidade do nosso Povo. A Noite de Natal - Noite Grande - passa-se em Família, em casa, à lareira, em volta do madeiro tradicional, que arde acariciadoramente. Durante o serão, que dura até quase de madrugada, canta-se em louvor do Deus Menino, contam-se histórias e romances da vida, come-se e bebe-se… Perto da meia noite - a Hora Redentora - a boa nova do Nascimento de Jesus é sentida entre todos. Neste Natal de 2005, o jornal “O Mensageiro†foi conhecer duas vivências natalícias diferentes. Conhecemos o Natal de dois idosos e de um casal jovem. Duas formas distintas de comemorar a noite da consoada. Mas em ambos os casos, encontrámos sentimentos comuns: o Natal é a época de reunir a família e comemorar o nascimento de Jesus. O Natal mexe com pessoas de todas as idades. Nas diversas fases da vida, conferimos aspectos diferentes, outros sentidos, para celebrar esta data de grande importância no calendário religioso. Natal sem idades Adelaide Rodrigues de 89 anos e o seu filho Jorge Antunes de 52 anos vivem um natal na aldeia. Em Colmeias, junto à velha lareira da sua cozinha, descobrimos como comemoram o Natal. Esta mãe e filho (deficiente) sempre vivera juntos e já não esperam pelos presentes no pinheiro de Natal. O que mais apreciam nesse dia é a vinda da família (alguma do estrangeiro) para se reunirem e festejar o Natal. Adelaide Rodrigues é natural do Minho e lembra “antigamente o Natal era vivido com outra entrega, com outro espírito de solidariedadeâ€. O consumismo desenfreado a que nunca se adequou provoca-lhe alguma tristeza, salientando que “neste momento o Natal é comercial, sem que o Menino Jesus e o seu verdadeiro significado sejam vividosâ€. Na sua terra natal, os poucos brinquedos artesanais que eram oferecidos, o bacalhau e as couves, a aletria e as rabanadas, eram ingredientes que significavam felicidade. Bastava isto para as pessoas viverem felizes esta quadra do ano. Adelaide Rodrigues gosta da noite natalícia porque consegue juntar os filhos, netos e bisnetos e desfruta das alegrias da família que, juntos, tornam aquele dia como “mágico e de grande significado para a minha vidaâ€. Salienta que vive cada Natal com a esperança de que cada pessoa “procure a paz interior e consiga viver melhor a sua vidaâ€. Embora resida numa casa humilde de aldeia, o conforto e os enfeites de cada Natal nunca estiveram ausentes. Faz questão de continuar com este hábito todos os anos. Neste ano de 2005, espera a vinda de toda a família, aproveitando “para ver com os meus olhos os netos a correr e brincar, ouvir os relatos dos filhos que moram mais longeâ€. Residentes na cidade mas com o coração na aldeia Descemos à cidade de Leiria e conhecemos um jovem casal que já vive um Natal com outro deslumbramento. Aquiles Pinto de 30 anos é natural de Pataias e Ana Azinheiro é de Monte Redondo e residem em Leiria há 4 anos. Esta família, embora esteja ligada aos hábitos e costumes da aldeia, assume que por força das circunstâncias que teve de vir para o mercado de trabalho na cidade, adoptando nas suas vidas muitas realidades, próprias de quem vive no mundo citadino. Aquiles Pinto recorda o Natal como um dia preenchido com muito trabalho. Os seus pais são proprietários de ourivesarias e por isso, foram muitas as noites que estiveram nas suas lojas até às 11 horas da noite porque ainda havia clientes que pretendiam adquirir os seus presentes. Refere que “o típico português faz as compras à última da horaâ€, tendo Aquiles Pinto de ficar junto dos seus pais nos estabelecimentos comerciais. Mas o Natal em família, com os pais e irmã, era sentido com a mesma “magia†só que mais tarde. Na mesa, para a ceia de Natal, depois do dia exigente de trabalho, esperava-os “as caras de bacalhau, as filhós e o arroz doceâ€. Recorda que não existiam as pendas como hoje, recebendo muito poucos brinquedos. Numa altura onde as crianças recebem de tudo, lembra, “o meu filho com dois anos já recebeu neste período de vida mais brinquedos que eu durante toda a minha vidaâ€. Na casa dos pais existem duas lareiras. Uma no primeiro e outra no segundo andar. Ele e a irmã andavam sempre para cima ou para baixo para verificar em qual das lareiras estavam as prendas que o Pai Natal deixava. Os presentes eram sempre deixados onde eles não se encontravam. Aquiles Pinto ainda guarda os seus cinco carros em ferro que foi recebendo nos seus Natais. Hoje as crianças “têm tanta coisa que para além de não explorarem os brinquedos não os conseguem valorizar pela excessiva ofertaâ€. No dia 25 de Dezembro costumava ter o hábito de ir para Cantanhede, terra dos avós. Lá é o Menino Jesus que traz os presentes. O Pai Natal “costuma deixar os presentes durante a noite e o Menino Jesus tem o hábito de depositar as surpresas durante a manhãâ€. Nesta noite de Natal de 2005 vai estar entre a família da esposa em Monte Redondo e em casa dos seus pais em Pataias. A maior felicidade é o facto de ser o segundo Natal que o seu pequeno vai viver e o facto de ele “começar a sentir esta festa com mais percepçãoâ€. Ana Azinheiro sempre passou o Natal em família juntamente com os pais e os sete irmãos. Fazem a ceia, distribuem os presentes e passam a noite em convívio. Para esta jovem “a tradição das caras de bacalhau, couves e batatas são a ementa sempre presenteâ€. Ana Azinheiro nunca esperou pelo Pai Natal porque os seus pais nunca fizeram questão que ela acreditasse neste “velhinho de barbas que traz os presentes às criançasâ€. Vai passar este Natal de 2005 em Monte Redondo (casa dos pais) e em Pataias (casa dos sogros). Felizmente não tem de viver esta festa na cidade. Considera que “quem vive a quadra no meio citadino passa-a de forma mais solitária porque na aldeia existe outra intensidadeâ€. Joaquim Santos


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