Nacional

O ninho do cuco

Francisco Perestrello
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Com melhor ou pior resultado são muitos os cineastas que abdicam da imaginação repetindo o que outros fizeram em anos anteriores. Toma-se um filme já feito, realizando um remake com novos actores e algumas ideias adicionais. A linha dorsal mantém-se, o que poupa muito esforço na busca de ideias. Em geral, mas nem sempre, o remake fica aquém do original. O modelo não é excedido pela nova imagem. No ano corrente contam-se duas obras de John Carpenter - «Assalto à 13ª Esquadra», refeito por Jean-François Richet e «O Nevoeiro», por Rupert Wainwright – que não acrescentam nada aos trabalhos originais, embora no primeiro caso se atinja alguma tensão na narrativa. Para fechar o ano estreia um novo «King Kong», que Ernest B. Schoedsack e Merian C. Cooper realizaram com um êxito assinalável em 1933. «King Kong» foi retomado inúmeras vezes, em filmes menores. Passou até pelas mãos de John Guil-lermin, em 1976, sem atingir foros de grande produção. Repete-se agora a cargo de Peter Jackson, celebrizado em função da trilogia «O Senhor dos Anéis», mas que em «King Kong» não revela o mesmo fôlego. Temos um filme grandioso; temos espaço, cor, acção e um ritmo de narrativa em geral bem conseguido, apesar de algumas delongas que se tornaram necessárias para garantir mais de três horas de projecção. Conta-se com uma técnica perfeita, com muito apoio informático e caracterizações adequadas. Falta apenas uma equipa de actores que acompanhe o bom trabalho de Jack Black, o único que encontrou o tom e a expressão capazes de dar verdadeiramente corpo ao seu papel. Ao mesmo nível apenas o gorila gigante lhe poderá fazer sombra. Dentro da relativa pobreza revelada pela produção cinematográfica no ano corrente «King Kong» está destinado ao êxito. Mas tal não impede que os mais velhos (e os mais cinéfilos) sintam sobretudo saudade da ingenuidade sincera da obra original de 1933. Francisco Perestrello


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