A “Europa foi o único Continente evangelizado na totalidade e pode chegar a ser o primeiro continente que pela sua vida actual e projectos do futuro como se Deus não existisse” – alertou o teólogo espanhol Eloy Bueno de la Fuente, no último dia das XVI jornadas teológicas de Braga e subordinadas ao tema «Europa: Missão (im)possível». De 19 a 22 deste mês e promovidas pela Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia – Braga e pela revista Cenáculo, esta iniciativa contou com um leque variado de conferencistas que realçaram para a “realização de uma nova evangelização da sociedade europeia”. As situações hodiernas trouxeram novidades o que obriga a Igreja a “adaptações dos seus métodos pastorais e uma conversão missionária” – afirmou aquele teólogo espanhol.
Por seu turno, José Carlos Miranda, professor do Centro Regional de Braga da UCP, avançou que a Europa descende e funda-se em diversos aspectos que devem ser tidos em conta: “a mitologia, a geografia, as alianças político-militares, a etnologia, e acima de tudo a religião como factor preponderante”. No entanto, mais que utopia da identidade ou unidade europeia, o orador preferiu usar a expressão do passado europeu - “paraíso perdido” - como “mito propulsor do aperfeiçoamento social e político representado no actual projecto da UE”.
Os diversos componentes da identidade colectiva “não são entraves à unidade porque pluralidade não é sinónimo de desunião”. A história da Europa só comprova que “a unidade dela é possível”. Se a unidade é possível, a identidade também o é, e por isso deixa de ser uma utopia para se tornar a “saudade do paraíso perdido”. Tirar o factor cristão à Europa, concluiu o orador com ironia, “é como tirar o betão armado à ponte da Arrábida. A Europa não pode, desta forma, ser pensada e tematizada sem o contributo do cristianismo com tudo o que ele implica” – avançou José Carlos Miranda.
Com as eleições europeias á porta, Luis Lobo Fernandes, outro conferencista, sublinhou a situação europeia estaria pior se não tivéssemos uma capacidade de reflectir, de forma colectiva, os problemas que afectam a União Europeia na sua globalidade. Dai o seu parecer favorável em relação ao referendo sobre a Europa, afirmando que “não pode haver subterfúgios nesta matéria”, pois, “as elites portuguesas não podem hesitar nesta decisão e não podem recusar esta consulta aos Portugueses”. A UE está numa verdadeira encruzilhada, relacionando este aspecto com a “Constituição Europeia” o que implica uma Reforma Institucional. Neste sentido, defendeu que faltou neste processo uma união de interesses e uma “solidariedade no interior da própria União Europeia”.
Ao falarmos da “esperança da velha Europa”, temos necessariamente que dizer que a Europa está a passar por um momento de “crise de esperança, necessariamente ligada a uma crise de identidade” – apontou João Duque – mas não deixou de referir que esta “é uma Europa diferente, uma Europa seguramente melhor”