Nacional

O politicamente correcto

D. Januário Torgal Mendes Ferreira
...

Quem experimenta os meios da comunicação social e por eles vai contactando com o grande mundo, não lhe escapa a atribuição de culpas a esses mesmos sectores pela simplicíssima razão de entrevistarem o cidadão X em detrimento dos demais, valorizando o dito de algumas pessoas, e silenciando, ao mesmo tempo, o corpo alargado de que aquelas são membros. É como alguém que todos os dias está atento aos telejornais, exclamasse: “Aos canais televisivos só lá vão os da localidade X. Ora o país não se reduz a essa geografia. O mais aconselhável é deixar de os ouvir, e se, os ouvir, não confiar mais na informação. Eles escolhem, de propósito, só cidadãos de uma parte do paísâ€. Bem sei que as estruturas da comunicação são selectivas: desde os programas do mais puro entretenimento até aos da mais exigente atenção cultural é inquestionável que, quem lá vai, é convidado ou escolhido por um determinado perfil ou por qualidades (ou não…) apropriadas. É normal que assim suceda. Sem qualquer discriminação, há uma orientação editorial que está muito mais interessada num tipo concreto de interventor ou participante. Mas os demais, que não foram ai incluídos, não foram objecto da mínima exclusão. Numa emissão de discos pedidos, quem solicita uma concreta execução musical, exibe uma legítima preferência, sem prejuízo de todas as outras produções. É totalmente diferente o caso de se praticar a censura, por intenção expressa: alguém não é convidado nem nunca o será, unicamente porque pensa duma certa forma, longe do mesmo comprimento de onda. O critério, aqui, não é o do gosto. É o do desgosto… Devo, entretanto, referir , por tantos casos conhecidos, que muitos foram contactados. Só que não quiseram ir. Ainda há tempos, a jornalista Fátima de Campos Ferreira o anotava, sublinhando que, de determinadas instituições, quase ninguém aceita uma solicitação deste género. No domínio destas questões continua socialmente a denunciar-se este ou aquele, como sendo emissores de pareceres “politicamente correctosâ€, ao contrário de quem lhe cola tal rótulo, que não é “como os outrosâ€, incorrectos e pecadores… O “politicamente correcto†é o resultado de uma pressão social pois constitui um discurso proferido em nome do agrado e da conveniência. O seu autor é uma personalidade doentia ou um invertebrado mental. Não tem ideias; exibe as de outros: Não traduz convicções; utiliza oportunismos. Não respeita o pluralismo; enverga o mesmo uniforme. É, à porta destes, que batem jornalistas, de antemão sabedores da resposta mais apropriada. Mas, quem utiliza esta nomenclatura como condecoração de quem não pensa como o outorgante, não será ele - ele, sim - o perfeito exemplar daquele adereço? Não será ele o ser passivo de uma doutrina ou o resultado de um clube? A agremiação, a que pertence, não lhe administra directrizes e princípios, os quais, sempre longe de qualquer reflexão, são praticados como quem enverga o uniforme de um jardim de infância ou de um colégio? Não será o caso de alguém se submeter a uma cartilha, que nem sequer leu? Não será este o drama do “correctoâ€, ou seja, do bom tom, do que está na moda, ou do que se diz, com rigor de maneiras, na mesma rua ou na mesma associação? Hoje há, nos meios de comunicação social, espaços onde qualquer pessoa pode intervir. Por que o não faz? Lisboa, 11 de Março de 2005


Igreja/Política