Óbito/Setúbal: Bispo evoca «sonho de uma sociedade fraterna e solidária» de D. Manuel Martins
D. José Ornelas presidiu à Missa exequial no Mosteiro de Leça do Balio, terra natal do falecido bispo
Leça do Balio, Porto, 26 set 2017 (Ecclesia) - O bispo de Setúbal recordou hoje na Missa exequial de D. Manuel Martins, primeiro responsável pela diocese sadina, o “sonho de uma sociedade fraterna e solidária” do seu antecessor.
“Ergueu a voz em denúncia das atitudes, políticas e economias que se esquecem dos milhões de pessoas – sobretudo dos mais frágeis e indefesos”, disse D. José Ornelas, na homilia da celebração que decorreu no Mosteiro de Leça do Balio, terra natal do bispo falecido este domingo, aos 90 anos de idade.
D. Manuel Martins foi recordado como uma voz que denunciou injustiças e deu “voz de indignação” contra os que “exploram ou se demitem de denunciar e reverter as situações de injustiça e de exploração”.
D. José Ornelas quis evocar, neste contexto, os emigrantes e refugiados que encontram “muros de rejeição e de preconceitos” ou os que estão sem trabalho e se deparam com “pessoas e sistemas que os exploram ou tornam impossível a dignidade”
O bispo de Setúbal falou do primeiro responsável da diocese como “um homem solidariamente criativo, para apoiar e cuidar dos que eram deixados à margem das grandes manobras económicas, para congregar pessoas de boa vontade e promover obras que servissem os que mais precisavam”.
“Por isso se tornou homem de pontes e de diálogo, buscando consensos e colaborações, para que, com todas as pessoas de boa vontade, possamos criar juntos um mundo mais humano e justo”, acrescentou.
D. José Ornelas elogiou a dimensão de interioridade e de oração do falecido bispo, que deixou como herança “o bem que fez a tanta gente, as dores que aliviou, as esperanças que criou, a fé que testemunhou, com a palavra e com a vida”.
O responsável deixou uma palavra de gratidão aos familiares de D. Manuel Martins e à Diocese do Porto, onde aprendeu com “outras vozes proféticas”, como a de D. António Ferreira Gomes, a erguer-se para “denunciar injustiças e apontar caminhos”.
“Agradecemos a Deus e a todos pelo dom precioso, aqui nascido e que floresceu em Setúbal, deixando Igreja em Portugal uma preciosa herança de humanismo, de fraternidade, de coragem e de fé”, prosseguiu.
A homilia concluiu-se com uma oração de agradecimento por esta “figura tão inspiradora” para a Igreja, o país e o mundo.
Fora do mosteiro foram instalados ecrãs gigantes, para as pessoas que não puderam entrar no local de culto.
Segundo o desejo expresso pelo próprio, D. Manuel Martins foi sepultado junto dos seus pais, no cemitério próximo do Mosteiro de Leça do Balio, sua terra natal, onde nasceu a 20 de janeiro de 1927.
Manuel da Silva Martins nasceu a 20 de janeiro de 1927, em Leça do Balio, concelho de Matosinhos; foi ordenado sacerdote em 1951, após a formação nos seminários do Porto, seguindo-se a frequência do curso de Direito Canónico na Universidade Gregoriana, em Roma.
Pároco da Cedofeita, no Porto, entre 1960 e 1969, D. Manuel Martins foi nomeado vigário-geral da diocese nortenha em 1969, antes de seguir para Setúbal.
No dia 23 de abril de 1998, o Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de resignação ao cargo.
O bispo emérito foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de Cristo, durante as comemorações do 10 de junho de 2007, em Setúbal, e com o galardão dos Direitos Humanos da Assembleia da República, a 10 de dezembro de 2008.
OC
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