Nacional

Olhar o deficiente com outros olhos

Luís Filipe Santos
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Olhar o deficiente com outros olhos “A maneira como nós olhamos para as pessoas com deficiência está a mudar: deixámos de olhar para as pessoas como doentes e passámos a olhar para as pessoas como cidadãos†– referiu à Agência ECCLESIA João Paulo Nunes, do conselho científico do congresso euromediterrânico sobre a pessoa com deficiência, a decorrer em Lisboa, de 27 a 29 de Março. Apesar das pessoas com deficiência terem características peculiares “devem ter os mesmos direitos e deveres que os outros†apenas com uma diferença “na consecução desses mesmos direitos e deveresâ€. E adianta: “estes terão que ser subsidiados pela sociedade†– sublinhou João Paulo Nunes, no Congresso “Rumo a uma nova cultura da deficiênciaâ€, uma iniciativa da União das Misericórdias. Para uma pessoa que tenha uma paralisia cerebral “não podemos esperar um desempenho totalmente autónomo†mas “podemos criar condições para que se possibilite os seus direitos e deveresâ€. A legislação portuguesa relacionada com esta problemática “é muito avançadaâ€. O problema reside “na deficiência de sistema e em termos de aplicação†para que essa legislação possa ser vertida na realidade. Tudo está contemplado mas existe uma mudança que “não se faz por lei: a alteração das mentalidades†– salienta. Quando se fala da «nova cultura da deficiência», “entendemo-la como aquilo que vai na alma das pessoasâ€. Se nesse núcleo de decisões “tivermos novos conceitos sobre a pessoa com deficiência†a situação sofrerá “alteraçõesâ€. Mudanças que poderão acontecer no seio das famílias que têm deficientes porque estas sentem que são “insuficientemente apoiadas pela sociedade para poderem ter esse filhoâ€. Quando um casal ambiciona ter um filho “está a arriscar†porque “um filho é um risco†mas quem beneficia em uma análise desse risco “é a sociedade porque ele pode contribuir para o bem comumâ€. Ao querer contribuir para uma melhoria na sociedade, muitas vezes o casal “tem em mãos um filho portador de deficiência†e aí a “sociedade esquece-se dessa família†– lamenta João Paulo Nunes. Para ajudar as famílias que têm a seu cargo pessoas com deficiência existem “bastantes instituições que prestam esses cuidadosâ€, embora o número seja “sempre insuficienteâ€. É o caso da União das Misericórdias Portuguesas, que tem dois equipamentos sociais, um em Fátima e outro em Viseu, “que pretende ser um espaço onde as pessoas tenham uma vida digna†mas “nunca assumindo esse acolhimento como um estado definitivo†– disse o coordenador científico do congresso. Uma situação que “raramente acontece†porque as famílias sentem que “os seus estão bem acolhidosâ€. Em relação ao Ano Europeu das pessoas com deficiências, a celebrar durante 2003, João Paulo Nunes considera “pouco importante esta comemoração†porque “devemos ter uma consciência permanente sobre esta realidade†e não apenas “em situações ocasionais†– concluiu.


Pessoa com deficiência