Nacional

Ordem Hospitaleira aposta em Timor

Diário do Minho
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A Ordem Hospitaleira dos Irmãos de S. João de Deus está a formar voluntários leigos para integrarem a missão que está a ser desenvolvida em Timor-Leste desde Março de 2004. Neste momento, a Ordem Hospitaleira está a formar duas jovens, uma enfermeira e uma auxiliar de acção educativa. As duas voluntárias estão a aprender o tétum, uma das línguas oficiais do país (a par da portuguesa), devendo integrar a missão dentro de um ano. A notícia foi avançada ontem, em Barcelos, pelo provincial da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, irmão José Paulo Simões Pereira, à margem da festa promovida pelas casas de saúde de S. José e de S. João de Deus, dois centros assistenciais do Instituto S. João de Deus. O espectáculo, realizado no Fórum S. Bento Menni, contou com a participação de vários artistas mais ou menos conhecidos do público como Alexandre Correia, Gonzo, José Malhoa ou o duo Nelo e Cristiana. Segundo adiantou o provincial, a receita da bilheteira destina-se a pagar as despesas relacionadas com as viagens e com o alojamento dos voluntários. Na iniciativa marcaram presença a embaixadora de Timor- -Leste em Portugal, o ministro da Educação de Timor e o director geral do Ensino Superior. A missão da Ordem Hospitaleira em Timor está centrada em Laclubar, um sub-distrito do distrito de Manatuto. A localidade tem cerca de 13 mil habitantes e possui várias aldeias distribuídas pela montanha. Em Laclubar, situada no centro geográfico do território, estão a trabalhar dois irmãos, um português e um brasileiro – um psicólogo e o outro assistente social –, que têm vindo a identificar os problemas e a fazer o levantamento das necessidades da população. A partir do diagnóstico traçado, a Ordem Hospitaleira pretende desenvolver um projecto na área da prevenção primária da saúde, concretamente da saúde mental. Desde que chegaram ao território, os irmãos da Ordem Hospitaleira têm «actuado ao ritmo timorense». «Em Timor, as coisas são mais lentas, daí construirmos um projecto a partir das necessidades locais, apostando no contacto directo com o povo», notou o irmão José Paulo. O provincial acrescentou que os irmãos estão a desenvolver um importante trabalho de ligação entre as populações nas aldeias e nas montanhas com os serviços de saúde. «Outra das vertentes da missão em curso passa pela educação para a saúde e aqui os irmãos têm tido um papel importante», disse. Ajuda na saúde e acção social O irmão José Paulo explicou que a missão da Ordem Hospitaleira em Timor partiu do pedido da Igreja timorense, concretamente de D. Basílio do Nascimento, na altura bispo de Baucau e Díli. «O bispo incentivou-nos para ir para Timor e dar um contributo na área da saúde e da acção social», frisou, adiantando que Timor é um país novo que precisa da ajuda de muitas instituições e países para poder progredir. Apesar de ter começado oficialmente a 8 de Março de 2004, dia de S. João de Deus, a missão teve como ponto de partida uma visita exploratória realizada em Novembro de 2002, meses depois de Timor ter reconquistado a sua independência. O provincial da Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus lembrou que os anos de ocupação indonésia deixaram muitas marcas e traumas. «Existem muitos problemas familiares, de consumo de álcool, muito sofrimento e por isso há todo um trabalho que tem de ser feito no contacto directo com as populações», explicou o irmão José Paulo. Para iniciar o trabalho, os irmãos tiveram um tempo de adaptação à própria cultura timorense. «É um povo católico mas com uma forte vivência animista que é, no fundo, a religião nativa do povo. Nesse sentido, tem de haver algum cuidado nesta relação», disse. O irmão José Paulo falou ainda em problemas de comunicação. Apesar das línguas oficiais serem o português e o tétum, em Timor existem 31 grupos étnico-linguísticos diferentes. «Acção da Ordem Hospitaleira está a ser determinante» Na festa preparada pelos dois centros assistenciais do Instituto S. João de Deus, propriedade da Ordem Hospitaleira, instalados no concelho de Barcelos, marcaram presença a embaixadora de Timor-Leste em Portugal, o ministro da Educação e o director-geral do ensino superior de Timor. Para a embaixadora Pascoela Barreto, a ajuda dos irmãos da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus é muito importante para Timor, um país que ganhou a independência política mas que apresenta carências em todas as áreas. «Timor tem ainda muitos problemas, foram quase 25 anos de luta que marcaram muito as pessoas, algumas ficaram com traumas», notou. Em declarações ao Diário do Minho, Pascoela Barreto salientou que a acção da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus em Timor está a ser determinante, concretamente na área da saúde mental. «Os irmãos que estão em Timor, em colaboração com o Governo local, estão a fazer um bom trabalho apesar de todas as dificuldades e das poucas condições que nós podemos oferecer», acrescentou. A embaixadora não quis comentar o pedido feito pelo bispo de Díli, D. Alberto Ricardo, ao secretário-geral das Nações Unidas para a criação de um Tribunal Internacional que julgue as atrocidades cometidas em Timor-Leste, durante a ocupação indonésia. Ainda assim, Pascoela Barreto sublinhou que é preciso olhar em frente e construir o futuro para as próximas gerações. «Não esquecemos a nossa história, que foi dramática. Timor-Leste luta com tantos problemas e dificuldades, mas é preciso construir o futuro», disse. Pascoela Barreto lembrou que a Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação tem feito um trabalho de recolha e ouvido «as pessoas que pretendem desabafar e fazer chegar às mais altas entidades todo o sofrimento por que passaram».


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