Nacional

Os sofrimentos da etnia cigana

Luís Filipe Santos
...

Os ciganos são “esquecidos e incómodos porque não dão dividendos políticos†– denuncia Francisco Monteiro.

Os ciganos portugueses “sofrem muitoâ€. Perante esta situação, Francisco Monteiro, director executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) apela a medidas concretas para que se “resolvam os problemas urgentes†da etnia cigana. Depois da apresentação pública do Relatório das audições efectuadas sobre portugueses ciganos no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, este responsável disse à Agência ECCLESIA que este sofrimento tem origem nos factores básicos da exclusão dos ciganos: “habitação, educação e empregoâ€. Desde há 500 anos que os ciganos “são vítimas de discriminação†– denunciou. Socorrendo-se do relatório apresentado na Assembleia da República, Francisco Monteiro realça que as “feiras estão a acabar e são o «pão-nosso» dos ciganosâ€. E exemplifica: “A Câmara de Almada está a acabar progressivamente com a feira diáriaâ€. Neste quadro sombrio, o director-executivo da ONPC cita o exemplo da escola de Barqueiros que lecciona aulas separadas para ciganos. “É totalmente contra a constituição e a própria política do Ministério da Educaçãoâ€. Se o Ministério abriu um parêntese para a Direcção Regional da Educação do Norte (DREN), “nós não sabemos, mas na prática parece isso mesmo†– afirma Francisco Monteiro. E adianta: “o estarem separados é discriminaçãoâ€. Os próprios pais dos alunos ciganos da referida escola sublinharam que “os filhos sentiam-se mal porque estavam isoladosâ€. Estes casos são frequentes. “Há ciganos que são colocados no fundo da sala e têm recreios separados dos restantes alunos†– desabafou. Acontecem casos também em que “não há lugares para os ciganos no pré-escolar†e “para os outros hᆖ lamentou Francisco Monteiro. Estes acontecimentos passam-se num país “que se diz multiculturalâ€. Com cerca de 50 mil ciganos a viverem em Portugal, o director-executivo da ONPC sublinha que a Comunicação Social não lhes dá a devida atenção, visto que, muitas vezes, “são esquecidos e incómodas porque não dão dividendos políticosâ€. Mergulhados neste mundo discriminatório, os ciganos “revoltam-se e, ás vezes, criam problemasâ€. No mundo laboral, as dificuldades também são frequentes. “Quando o empregador descobre que é cigano manda-o embora†– disse. Também existem “casos positivosâ€, mas “nós preocupamo-nos é com os casos negativosâ€. E esclarece: “há iniciativas que não «colam» nos ciganos†porque “são pensados de cima para baixo e não o inversoâ€. Ao olhar para a vizinha Espanha, este responsável salienta que “aí os ciganos têm peso†porque “são cerca de 600 milâ€. Para alterar o panorama, Francisco Monteiro apela “á consciência das autoridades públicasâ€. “É preciso ter a coragem para começarâ€. Os ciganos estão “disponíveisâ€. Nas questões do realojamento, Francisco Monteiro frisa que este “deve ser acompanhado antes, durante e depoisâ€. Existem casos de “pleno sucesso†porque “ninguém gosta de estar numa barraca à chuva e ao ventoâ€. A Assembleia da República publicou uma lei sobre os mediadores socioculturais – “são a chave da solução da educação dos ciganos†-, mas a lei “está no tinteiro porque o Ministério da Educação não quer resolver o problema da carreira dos ciganosâ€. E exemplifica: “há dezenas de mediadores socioculturais ciganos que estão no desempregoâ€. Sobre o relatório, apresentado ontem (17 de Março), Francisco Monteiro refere que “todos estamos à espera que ele se perpetueâ€. E finaliza: “não temos esperança nenhumaâ€.


Pastoral dos Ciganos