Nacional

Para quê crismar em Portugal?

Octávio Carmo
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Jovens e adultos aproximam-se do sacramento da Confirmação por motivos diferentes e para muitos esse momento é um ponto final na formação cristã

As 43.622 paróquias da Igreja Católica Portuguesa preparam, todos os anos, cerca de 50 mil jovens e adultos para o Crisma, que na Igreja Ocidental é administrado como "sacramento da maturidade cristã", dado que, ao serem baptizados em crianças, foram os pais e padrinhos que pronunciaram a profissão de fé. Essa é a hora em que eles próprios pronunciam o seu "sim" à comunidade de fé que os integrou pelo Baptismo. Este momento é entendido por muitos como um ponto final na sua caminhada de formação da fé, quando não mesmo como a última formalidade que a sua condição de “católicos” os obriga a cumprir. O Fernando, a trabalhar numa paróquia do Patriarcado de Lisboa, prepara jovens e adultos que abandonaram o percurso habitual da Catequese e pretendem agora receber o sacramento da Confirmação, e explica à Agência ECCLESIA que o panorama é, por vezes, desolador: “uns vêm porque querem ser padrinhos e madrinhas numa cerimónia de Baptismo, outros porque se querem casar pela Igreja, outros porque querem evitar inconvenientes quando chegarem a essas ocasiões, e é muito difícil motivá-los”. Este tema foi abordado numa Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, intitulada “O Espírito Santo, Senhor que dá a Vida”, de 1997, onde os Bispos portugueses pedem que se dê “ênfase à pastoral da Confirmação, até como forma de proporcionar a muitos baptizados uma iniciação cristã que nunca chegaram a fazer. E aos cristãos adultos que não celebraram este Sacramento, ajudemo-los a descobrir a necessidade de o receber”. O período de 10 anos que hoje define o ciclo catequético no nosso país, culminando no Crisma, tem como principal objectivo “formar cristãos que vivam a fé em todas as dimensões: acreditar, celebrar, rezar e praticar” - como confirma o Pe. José Cardoso, director do Departamento de Catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) -, mas é opinião corrente que esta é uma ideia que ainda não foi assimilada pela maior parte das pessoas, que vêem a Catequese como uma mera formalidade ou um espaço de convívio. A Arquidiocese de Braga é, segundo os últimos dados disponíveis, aquela onde houve um maior número de Confirmações. Ainda assim, durante o último ano pastoral o seu arcebispo, D. Jorge Ortiga, referiu que muitos pensam que este Sacramento “é o abandonar, mas devia ser o recomeçar”. Já em Beja encontramos a Diocese com menor número de Crismas, pelo que as cerimónias são celebradas como grandes acontecimentos eclesiais. Neste ano pastoral, quase duas décadas depois, na paróquia de Pias, voltou-se a administrar o sacramento da Confirmação a dez jovens da comunidade: alguns já têm tarefas na paróquia como salmistas e catequistas, mas outros passam grande parte do seu tempo longe da comunidade eclesial, trabalhando ou estudando. Ana, 16 anos, recebeu este ano o Sacramento da Confirmação e vai fazer parte, no próximo ano, do grupo de jovens que terá origem no seu grupo de Catequese – o quinto grupo de jovens da paróquia. Destes grupos, contudo, sai um número considerável de catequistas e a participação dos jovens nas celebrações comunitárias é grande, assumindo mesmo a sua animação – a habitual “missa dos jovens” de muitas paróquias. “As pessoas dizem que não há jovens na Igreja, mas basta olhar para a actividade da paróquia ao fim-de-semana para perceber que são muitos os jovens que aqui estão”, aponta a Ana. Ela está consciente de que o entusiasmo inicial do seu grupo vai dar lugar às habituais dificuldades: “nós vemos pelos outros grupos que o número de pessoas baixa muito por causa dos estudos e dos trabalhos, mas também porque o pessoal pensa mais em sair aos fins-de-semanas e é difícil manter a motivação”. Este é aliás, um dos grandes problemas sentidos pelos jovens: se nível da catequese da infância há um itinerário preparado para dez anos, a catequese de jovens parece não conseguir fazer face à crise da ida para a Universidade, do namoro/casamento e do início da vida laboral. Estatísticas Algarve Paróquias (ou equiparadas) - 79 Confirmações em 2002 - 805 Angra Paróquias (ou equiparadas) - 172 Confirmações em 2002 - 4.678 Aveiro Paróquias (ou equiparadas) - 101 Confirmações em 2002 - 1.436 Beja Paróquias (ou equiparadas) - 118 Confirmações em 2002 - 213 Braga Paróquias - 551 Confirmações em 2002 - 6.588 Bragança-Miranda Paróquias (ou equiparadas) - 324 Confirmações em 2002 - 899 Coimbra Paróquias (ou equiparadas) – 267 Confirmações em 2002 – 3.100 Évora Paróquias (ou equiparadas) - 158 Confirmações em 2002 - 713 Funchal Paróquias (ou equiparadas) - 96 Confirmações em 2002 - 3.174 Guarda Paróquias (ou equiparadas) - 365 Confirmações em 2002 – 1.930 Lamego Paróquias (ou equiparadas) - 223 Confirmações em 2000 - 2.243 Leiria-Fátima Paróquias (ou equiparadas) - 74 Confirmações em 2001 - 1.890 Lisboa Paróquias (ou equiparadas) - 282 Confirmações - 5.760 Primeiras Comunhões - 11.122 Portalegre-Castelo Branco Paróquias (ou equiparadas) - 162 Confirmações em 2002 – 1.300 Porto Paróquias (ou equiparadas) - 477 Confirmações em 2002 - 6.184 Santarém Paróquias (ou equiparadas) - 111 Confirmações em 2001 - 644 Setúbal Paróquias (ou equiparadas) - 54 Confirmações em 2001 - 573 Viana do Castelo Paróquias (ou equiparadas) - 291 Confirmações em 2002 – 2.325 Vila Real Paróquias (ou equiparadas) - 264 Confirmações em 2001 - 2.847 Primeira Comunhão - 2.260 Viseu Paróquias (ou equiparadas) - 209 Confirmações em 2002 - 2.635


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