Encerramento da XIII Semana de Estudos Teológicos em Braga
É um erro pensar-se que «a ideia de Deus resulta de estratégias mesquinhas de controlo social e cultural, com base no medo, na coação, culpabilismo e punição, ou, então, que não passa de mera ilusão, fruto de mentes desajustadas e delirantes».
Por isso, «um dos desafios que se coloca ao ser humano de hoje é o de se reconciliar com a sua profundeza», referiu Isabel Varanda, docente da Faculdade de Teologia de Braga da Universidade Católica Portuguesa (UCP), na conferência que proferiu, ontem, no último dia da XIII Semana de Estudos Teológicos, subordinada à “Escola e desafios sociais do nosso tempo”.
Abordando as “Questões sociais do nosso tempo”, a teóloga direccionou o seu discurso para o conteúdo da exortação apostólica “Ecclesia in Europa”, de João Paulo II, que «fala na tentativa de fazer prevalecer uma antropologia sem Deus e sem Cristo, responsabilizando esta atitude de contribuir para a grave crise de esperança que varre a Europa e o mundo».
Apesar disso, «a sede espiritual mantém toda a sua força. O futuro do cristianismo depende da forma como o crente conseguirá desenvolver uma espiritualidade e uma sabedoria em sintonia com o mundo moderno», salientou a professora universitária.
Evidenciando formas concretas de presença cristã, Isabel Varanda realçou que «as bem-aventuranças apelam ao compromisso e à responsabilidade de cada um com o mundo, pois são portadoras de uma mensagem eminentemente política e social».
Direccionar o lazer dominical
«No Ano da Eucaristia, temos uma oportunidade única para reflectir sobre a participação na missa dominical», referiu D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, na sessão de encerramento da Semana Teológica.
Aproveitando a temática apresentada pela teóloga Isabel Varanda, o prelado alertou para «a necessidade de se conferir um sentido profundo ao lazer, sem esquecermos da exigência das celebrações festivas dominicais».
Para além disso, o Arcebispo de Braga reforçou a importância da participação política dos leigos —temática apresentada por José Ramos Pinheiro — e alertou para o facto de «cairmos na tentação de fragmentar o pensamento, através da selecção de temas que dão uma resposta directa a alguma inquietação específica».
Como sugestão, D. Jorge Ortiga, afirmou que «a realidade eclesial tem um pensamento estruturado no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que possui uma visão conjunta da realidade e deve ser assimilada globalmente».
Luzes e sombras da globalização
«A expansão da economia de mercado é uma realidade e não vale a pena chorar os seus malefícios ou louvar apenas os seus benefícios. É preciso perceber lucidamente as suas luzes e sombras», afirmou Américo Carvalho Mendes, professor auxiliar da Faculdade de Economia e Gestão (FEG) da UCP, sobre o assunto em causa.
Assim, «o cristão deve estar atento aos fenómenos de exclusão produzidos pelo mercado, e ter sempre uma atitude de ajuda para quem é excluído», disse o director do mestrado em Economia da FEG, que classificou o «incentivo constante à inovação tecnológica, novos conhecimentos, e a relação inclusiva provocada pela aproximação de compradores e vendedores» como aspectos positivos da globalização.
Aquele membro do conselho pastoral da diocese do Porto, destacou, também, «o carácter obscuro e excludente do mercado. Este exclui as pessoas que não têm rendimentos suficientes; as empresas e produtores que não produzem a preços baixos e bens adequados; regiões e países que não conseguem ser competitivos».
Para além disso, o economista mostrou-se preocupado com a assunção de um determinado tipo de ética na qual interessa apenas a operacionalidade.
«Avalia-se apenas as consequências das acções das pessoas, em função de proveitos e ganhos, em detrimento do carácter individual, princípios e motivações das acções», concluiu Américo Carvalho Mendes.
A Família na acção educativa
Na acção de formação direccionada para os docentes, Carlos Aguiar Gomes, presidente da Associação Famílias, abordou “A Escola e a Família”, «numa altura em que se assiste ao colapso e a falência do Ensino.
O Estado insiste em manter um modelo centralista e, por isso, está na altura de todos os educadores repensarem a escola».
Recordando que a escola exerce um papel complementar ao da família e não a substitui, o responsável defendeu que «a família deve ser uma unidade estruturada e ter um papel indispensável e prioritário na acção educativa».