Nacional

Pessoas com deficiência mental precisam da Igreja Católica

Agência Ecclesia
...

Fundadora do Movimento Fé e Luz esteve em Portugal e falou para a ECCLESIA

Maria Hélène Mathieu, fundadora do Movimento Fé e Luz, esteve recentemente em Portugal para lembrar que as pessoas com deficiência mental “têm um coração capaz de acolher Deus e são membros privilegiados da Igreja”, porque são pequenos e indefesos. No seu livro de memórias, o início do “Foi et Lumière” foi uma resposta ao “sofrimento dos pais”. O primeiro passo foi dado face à situação de um casal que tinha 2 filhos, com deficiência mental profunda, e pretendia ir a Lourdes em peregrinação sem que essa intenção tivesse sido atendida. “Na altura foi-lhes dito que 2 filhos tão deficientes não compreenderiam nada e perturbariam os outros peregrinos”, relata em entrevista à ECCLESIA. O facto é que, mesmo tendo decidido ir em peregrinação por sua conta e risco, estes pais se sentiram marginalizados. Esta experiência dolorosa levou à promoção de peregrinações “para pessoas feridas na mente, mas não no coração”. Durante três anos, pequenas comunidades organizam-se e preparam o grande acontecimento que vem a ser a Peregrinação Internacional a Lourdes em 1971, com 12 mil peregrinos – dos quais 4 mil pessoas com deficiência mental. “Apesar do número, continuamos a ser uma pequena família que aprendeu a conhecer-se e amar-se, reciprocamente”, aponta Maria Hélène Mathieu. A base de todo o Movimento, ainda hoje, são as comunidades com uma dimensão média de 30 pessoas, constituídas por pessoas com deficiência mental, seus pais, irmãos e amigos, especialmente jovens, que realizam um encontro mensal. Ao longo destes anos, a fundadora do Fé e Luz diz que já testemunhou momentos em que os pais aceitam os filhos “tal como eles são”, pela primeira vez, deficientes a sorrir que nunca o tinham feito. “Verdadeiros milagres”, assegura esta educadora, especializada em trabalho com pessoas com deficiência. Foi a vontade de fazer com que o “Foi et Lumière” acompanhasse os peregrinos que levou o movimento até novas , cidades, países e continentes. A fundadora reconhece que não havia um plano “predefinido”, mas que a resposta do amor e da amizade superou essa insuficiência. “A pessoa com deficiência mental não procura a beleza, nem o dinheiro, nem a glória ou a fama: procura o amor nos que o rodeiam. E foi isso que o Fé e Luz procurou oferecer”, afirma. O projecto passa, também, por procurar um espaço de acolhimento em cada paróquia, combatendo a discriminação através de uma catequese adaptada às circunstâncias. “Quem lida com estas pessoas apercebe-se de que a deficiência não atinge o essencial, eles têm muito a dar e apelam à unidade da família”, revela. O desafio colocado por estas pessoas, como reconhece Marie Hélène Mathieu, é enorme e a resposta passa, acima de tudo, por esta junto delas. “A sociedade reconhece os direitos da pessoa com deficiência, procura a sua integração, mas é mui ambivalente e contraditória. Autoriza-se o aborto quando se percebe que o feto tem deficiências, anula-se o direito à vida dos que não são perfeitos”, acusa. MOVIMENTO FÉ E LUZ O Movimento Fé e Luz é um movimento de leigos, fundado por Jean Vanier e Marie Hélène Mathieu nas últimas décadas do séc. XX. O Fé e Luz constituiu-se em torno da constatação do isolamento social e eclesial das famílias com filhos com deficiência mental. A sua acção aborda a pessoa fraca, com deficiência, doente, moribunda, sem abrigo, enquanto possibilidade de transformação da vida de quem se aproxima deles, como se lê no site do Movimento, www.foietlumiere.org. A nível nacional o Movimento tem um Conselho Nacional, dirigido por um Coordenador Nacional, eleito por três anos. O Conselho Nacional reúne duas vezes por ano e é composto pelos coordenadores regionais e pelo Capelão Nacional . É preocupação do Movimento que todas as comunidades estejam integradas nas paróquias para que se possa fomentar a integração das pessoas com uma deficiência mental nos seus contextos naturais e, em especial, na Igreja. O objectivo não é o de criar estruturas de protecção social, mas sim a criação de uma rede de suporte informal de proximidade que se articula e interage com as respostas sociais formais existentes. Inovadora é ainda a atenção especial dada aos irmãos e não só aos pais, e a criação de um meio favorável – a pequena comunidade - para o desenvolvimento de um papel activo e valorizador da experiência única de partilhar a vida com uma pessoa diferente nas suas capacidades intelectuais. Actualmente, o Movimento Fé e Luz está implantado nos 5 continentes, onde existem cerca de 1400 comunidades em 75 países. Em Portugal o Movimento está reconhecido nas Dioceses de Lisboa, Porto e Évora, tendo o Conselho Nacional convidado o Arcebispo de Évora, D. Maurílio Gouveia, a ser o seu Bispo de referência para o triénio 2002-2005.


Fé e Luz