Igreja/Portugal: Congresso multidisciplinar analisa «contributo civilizacional» de Fátima
Objetivo é «a partir das fontes» encontrar novas «chaves de leitura» para este acontecimento
Fátima, 22 jun 2017 (Ecclesia) – O Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, está a acolher até ao próximo sábado um congresso internacional integrado no Centenário das Aparições, e que pretende perspetivar o fenómeno Fátima a partir de uma abordagem multidisciplinar.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Marco Daniel Duarte, que integra a comissão organizadora do evento, destaca um acontecimento que desde há 100 anos tem gerado “uma série de reações que podem ser percecionáveis por diferentes áreas do saber”, que aqui estão “convocadas”.
No congresso ‘Pensar Fátima’ participam dezenas de oradores e especialistas de diferentes áreas, como a História e a Política, a Psicologia e a Sociologia, a Geografia, a Cultura e a Arte.
Esta é uma oportunidade para, sempre “a partir das fontes”, olhar para o acontecimento Fátima de forma renovada, colocando de lado “chaves de leitura cristalizadas”, e avaliar o “contributo civilizacional” que Fátima tem tido, “não só para uma história local, nacional, mas internacional”, considera Marco Daniel Duarte.
Para o professor e historiador José Manuel Sardica, ‘a universidade pode e deve interessar-se por Fátima como um objeto de estudo importante”.
Antes de mais por ser uma mensagem que toca de modo “universal e intemporal” aqueles que são os anseios das pessoas.
De acordo com o docente da Universidade Católica Portuguesa, o segredo da vitalidade de Fátima é a forma “como ela é constantemente reinterpretada e lida, à luz daquilo que são os desafios que quer a agenda nacional quer internacional vai tendo”.
E tal como em 1917, também agora Portugal e o mundo são confrontados com situações de “guerra, de instabilidade política e institucional, de incerteza e sofrimento físico e espiritual”, que fazem com que as pessoas busquem caminhos de redenção, de esperança, de via”.
Na opinião da irmã Ângela Coelho, este congresso está a mostrar que “a ciência, a fé, a cultura, embora possam ter aproximações diferentes ao mistério, com metodologias diferentes, não estão em concorrência mas são uma complementaridade umas das outras”.
“Esta é a grande síntese a retirar”, frisa a religiosa, responsável pelo processo de canonização de São Francisco e Santa Jacinta Marto, dois dos videntes de Fátima.
Para a canonização, foi necessário o reconhecimento de um milagre concedido por Francisco e Jacinta em intercessão de uma criança que estava gravemente ferida, o que envolveu não só a “teologia” mas também a “medicina”.
Outra das “facetas onde não se exclui esta parte mais científica e racionalizável” do mistério de Fátima “é a biografia dos seus protagonistas”.
“Não estou a pôr só o Francisco, a Jacinta e a Lúcia, estou a pôr muitos outros protagonistas que foram sendo importantes ao longo da evolução do acontecimento Fátima. Elas são um dos grandes sinais de credibilidade do próprio acontecimento em si”, completa a irmão Ângela Coelho.
José Eduardo Borges de Pinho, docente da Faculdade de Teologia da UCP e que leva ao congresso o tema ‘Fátima e a questão ecuménica’, destaca a pertinência de uma iniciativa que “só enriquece a perspetiva fundamental da mensagem de Fátima”.
“Independentemente de tudo o que os teólogos, os historiadores, possam ter de dizer, há aqui uma experiência de fé para muitos milhões de pessoas que deve ser refletida no seu significado”, aponta.
Sobre a sua reflexão em concreto, aquele responsável recorda que “a questão de Maria, juntamente com a do Papa, são as questões mais difíceis do diálogo ecuménico” e “extremamente delicada no contexto português”.
“Já se viveram tempos ecuménicos, concretamente aqui em Portugal, mais abertos, mais empenhados, e isso reflete-se nesta questão. Demorará muito tempo a ser objeto de uma convergência significativa, o que para nós católicos deve ser um estímulo e um desafio”, conclui José Eduardo Borges de Pinho.
O congresso internacional ‘Pensar Fátima’, decorre no Centro Pastoral Paulo VI até este sábado, e o encerramento vai contar com a presença do presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, da Santa Sé, o cardeal Gianfranco Ravasi.
JCP
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