Portugal rende-se a Vieira Octávio Carmo 07 de Fevereiro de 2008, às 10:37 ... Ano comemorativo iniciou-se em Lisboa e estende-se ao paÃs e ao mundo Lisboa acolheu a sessão oficial de abertura das Comemorações do IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira, na qual AnÃbal Cavaco Silva recordou o jesuÃta como uma “figura Ãmpar da história portuguesaâ€. “Ao comemorarmos o quarto centenário do nascimento do Padre António Vieira, no começo do século XXI, o que mais nos impressiona é talvez a actualidade com que esta figura maior da nossa história continua a surgir aos nossos olhosâ€, referiu o presidente da República. A sessão, que decorreu na Academia das Ciências de Lisboa, contou com a presença do Cardeal-Patriarca. D. José Policarpo. Cavaco Silva recordou “o virtuosismo do pregador ou a argúcia do diplomata ao serviço da independência nacional†de António Vieira, bem como “a grandeza e a majestade da sua escrita, que levou Fernando Pessoa a chamar-lhe «imperador da lÃngua portuguesa»â€, “a tenacidade com que defendeu os direitos das populações amerÃndiasâ€, “o realismo do conselheiro do rei, a quem se deve o restabelecimento dos contactos com a colónia judia na Holandaâ€. “Muitos consideram, e com razão, que os seus sermões, a par dos LusÃadas, representam os mais extraordinários monumentos alguma vez erguidos em lÃngua portuguesaâ€, indicou, frisando que “toda a obra do Padre António Vieira é simultaneamente uma demonstração de génio e uma demonstração de féâ€. “Fé em Deus, certamente, como se pode adivinhar pelos relatos que ele próprio faz da sua actividade como missionário. Mas fé, também, no destino de uma nação e nas possibilidades de um Estado cuja independência ele viu restaurar, em 1640, e ajudou depois a consolidarâ€, precisou. Segundo o Presidente da República, “tal como acontecia há 400 anos, a diversidade dos povos e civilizações precisa hoje, porventura ainda mais, de polÃticos e mediadores como Vieira, que acreditem realmente no valor da pessoa humana e sejam suficientemente inspirados para estabelecer as pontes que levem à pazâ€. Celebração colectiva O presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Adriano Moreira, deu inÃcio à sessão apelando a uma "uma meditação colectiva" sobre o Padre António Vieira, após salientar "actualidade" do seu pensamento. "A meditação a que somos chamados nesta circunstância do centenário de Vieira e de viragem do milénio ensina uma vez mais que não são os impérios que duram, são as culturas que têm a vocação da eternidade", disse. "O Vieira mestre da lÃngua e da oratória, a brasilidade de Vieira, a determinação perante a adversidade, o universalismo que para ele seria católico, mais Igreja Império em todo o mundo do que império nacional, tudo são referências que definiu a partir de antigas cogitações mas que encontram réplica em exigências prementes deste milénio", acrescentou. ~ Eduardo Lourenço veio a Lisboa apresentar uma conferência intitulada "Vieira: do Verbo como Império ao Império do Verbo", arrancando gargalhadas à assembleia quando lembrou que a acção diplomática do jesuÃta fez dele uma espécie de “James Bond jesuÃta “para maior glória de Deus e de Portugalâ€. “O maior dos seus sonhos foi um Portugal condigno do reino de Cristoâ€, observou. Como seria de esperar, Eduardo Lourenço destacou a relação entre Vieira e Fernando Pessoa, que via naquele o “Imperador da LÃngua Portuguesaâ€, destacando a sua “autonomia do verboâ€, “corpo visÃvel, sonoro, da verdadeâ€. O pensador português falou ainda do jesuÃta como uma “Wittgenstein do século XVIIâ€, considerando que “os limites do nosso pensamento são os limites da nossa linguagemâ€. António Vieira, “um louco de Deusâ€, é a “expressão mais acabada da visão barroca do mundoâ€, em que importa uma restauração através da prática nova da evangelização. Segundo o ensaÃsta, a vida de Vieira foi “uma acção militante no sentido mais radical da palavraâ€, procurando a “reconquista universal sob a bandeira de Cristoâ€. “António Vieira é um pregador da palavra divina, é mesmo o pregador maior dessa palavraâ€, sublinhou. Neste sentido, os sermões são Propaganda fidei, “espectáculoâ€, e o púlpito “um teatro" divino. Cidade em homenagem O presidente da Comissão Organizadora de 2008 Ano Vieirino, Manuel Cândido Pimentel, anunciou nesta sessão que uma estátua do Padre António Vieira será colocada no Largo de São Roque, em Lisboa, numa iniciativa da Santa Casa da Misericórdia destinada a homenagear o jesuÃta português. O Ano Vieirino é uma iniciativa da Universidade de Lisboa, da Universidade Católica Portuguesa e da ProvÃncia Portuguesa da Companhia de Jesus para recordar “o inexcedÃvel escritor, orador e pensador Padre António Vieira, glória da cultura nacional, desta pátria de muitas pátrias que, pela sua vida, acção e obra ultrapassou as fronteiras de Portugal e se avantajou no mundoâ€, sublinhou Cândido Pimentel. A efeméride será igualmente celebrada em Itália, no Brasil, em Espanha, França e Bélgica. Em Portugal, indicou Cândido Pimentel, foi ontem dado um primeiro contributo para criar uma rede internacional de universidades "para o estudo da obra de Vieira", com o lançamento da do Tomo I da edição nacional crÃtica dos Sermões do Padre António Vieira (Imprensa Nacional - Casa da Moeda e CEFi - Centro de Estudos de Filosofia). O presidente da Comissão Organizadora do Ano Vieirino que deveria haver um dia "no calendário polÃtico e civil que unisse o nome de António Vieira ao da figura do Portugal intercultural", deixando como sugestão a data do falecimento de Vieira, 18 de Julho. Esta Quarta-feira foi descerrado um painel comemorativo dos 400 anos do Padre António Vieira, junto da rua e da casa onde nasceu, perto da Sé de Lisboa. Foi ainda inaugurado o “Eléctrico Vieiraâ€, carreira carreira 28E, que liga o Martim Moniz a Campo de Ourique. Uma parceria entre a Carris e o IPAV resultou igualmente na colocação de cartazes alusivos ao evento em toda a frota de eléctricos, na disponibilização de folhetos sobre as comemorações e na decoração de 26 paragens da carreira 28E com frases alusivas à obra e arte do Padre António Vieira. Por outro lado, centenas de pessoas acorreram ao CCB para a leitura de Sermões do Padre António Vieira e a projecção do filme «Palavra e Utopia», de Manoel de Oliveira. FOTOS: Revista «Amar&Sevir»/Lusa/Presidência da República Dossier AE • Padre António Vieira JesuÃtas Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...