Nacional

Preparação para o Baptismo das crianças

Voz da Verdade
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O Departamento da Pastoral da Família tem a responsabilidade, desde há um ano, de acompanhar a pastoral do baptismo das crianças. Na diocese de Lisboa este trabalho já tem uma importante história que queremos continuar. Como principais actividades, na lógica daquilo que julgamos ser um Departamento Diocesano como espaço de partilha e de formação, organizámos um encontro no dia 11 de Janeiro na Igreja da Portela, que gostaríamos de repetir anualmente. Além disso, foi-nos pedido que organizássemos para a Escola de Serviços Eclesiais um programa de formação de formadores. Sem querer fazer aqui a avaliação proponho-me apenas a partilhar alguns aspectos que julgo dever realçar. 1. A preparação para o baptismo das crianças é um importante momento para as comunidades acolherem as famílias. É verdade que o acolhimento, que vai desde a maneira como a pessoa é recebida até aos encontros com as pessoas encarregadas da preparação, passando pelo sacerdote ou diácono que vai celebrar o baptismo, e incluindo as perguntas e a forma como estas são feitas, é um ponto nevrálgico. Porque, sendo verdade que muitos dos que pedem o baptismo dos seus filhos, embora tendo uma ligação com a Igreja não têm a formação e a consciência completa da nossa fé, então este acolhimento é verdadeiramente evangelizador. A comunidade é constituída, idealmente, por aqueles que tendo encontrado Jesus Cristo vivem a alegria de querer comunicar a Vida Abundante que Ele nos dá, por isso, a primeira coisa que se deve pretender é que quem aparece tenha um contacto com a alegria para que, entrando por essa porta, possa conhecer melhor o Senhor. Acolher bem, e não burocraticamente, é um aspecto a que todos nos devemos ater. Quantas vezes, pelo cansaço não somos levados a criticar aqueles que aparecem simplesmente porque nos fazem pedidos descabidos. Sim, é verdade que o fazem, mas a missão de quem acolhe não é defender as muralhas para que não entrem os impertinentes, é abrir as portas para que todos encontrem a Redenção. 2. Além do acolhimento, é fundamental a formação doutrinal. Quem acolhe pais e padrinhos em nome da Igreja é porque experimenta a força da graça baptismal na sua vida. Precisamente por isso, é alguém que terá um conhecimento doutrinal e existencial do significado do baptismo. O Catecismo da Igreja Católica é um dom que não podemos descurar. Ter bem presente o que lá se diz sobre a nossa fé, sobre os sacramentos e sobre a moral é fundamental para cada um crescer na fé. E só quem está a crescer, percorrendo o caminho indicado pela Igreja, pode ser uma ajuda verdadeira para outros percorrerem. Quantas vezes há a tentação de se pensar que como os outros estão muito atrás podemos ficar onde estamos. Essa atitude, não raro originada pelo orgulho, torna infecundo o apostolado. Entregando a responsabilidade de apascentar as ovelhas a Pedro, Jesus diz-lhe: “segue-me”. Só quem segue pode propor um caminho, só quem está a caminhar consegue atrair outros e compreender, com paciência, o ritmo e as circunstâncias dos outros. Por tudo isto, os formadores devem ser pessoas maduras na fé mas sempre a crescer, como se costuma dizer, em formação permanente. Uma formação que não se pode limitar à leitura, porque envolve a pessoa toda, fazendo-a participar na vida da Igreja. 3. Um terceiro aspecto de quem acompanha os pais e padrinhos, e que tentámos realçar na Escola de Serviços Eclesiais, é a sensibilidade pelas questões educativas. É um momento privilegiado para se falar da educação das crianças. Ter, por isso, uma ideia clara do que é a educação cristã é muito importante para poder ser uma companhia aos pais. Ora educação cristã é, antes de mais, uma educação que tem em conta a pessoa toda. É importante ensinar a rezar, é mesmo imprescindível, mas educar cristãmente é ajudar a criança a relacionar-se com a realidade toda. Por isso o mais importante é procurar a unidade de vida. Só assim não se reduz a vida cristã a um conjunto de preceitos ou ritos que nada têm que ver com a vida. Se Jesus nos diz que está connosco sempre, é porque tudo o que é importante para a minha vida tem que ver com Ele. Educar é principalmente responsabilidade e direito dos pais, mas a Igreja, a escola e todas as outras ajudas podem ser importantes. Promover a responsabilidade dos pais, sem pretender educar em vez deles mas ajudando-os a caminharem, é um dos pontos que os encontros de preparação para o baptismo podem e devem realçar. 4. Por fim, a preparação para o baptismo deve também incluir uma ajuda na preparação da celebração. Todos sabemos que o mais importante não é o instante mas a fidelidade à vida recebida nesse momento, porém, cuidar do momento é, verdadeiramente ter consciência da grandeza do que acontece. A liturgia do baptismo é cheia de simbologia que pode ser preparada e deve ser realçada na celebração. Seguindo os passos do ritual, idealmente com a colaboração do celebrante, podem os encontros de CPB ser momentos de verdadeira catequese sobre o significado teológico do baptismo. 5. Pastoralmente o cuidado com a preparação deve ser acompanhado pelo cuidado com a celebração. Aceitando a realidade das pessoas actuais como ela é, muito afectiva e carente de uma atenção pessoal, julgo que sempre que possível as famílias devem ser tratadas com uma relação personalizada. Procurar não cair nem no individualismo nem na massificação, para que a família se aperceba que o baptismo é entrada na comunidade, mas se sinta especial, amada como é e não diluída numa celebração que se chama comunitária mas pode ser vivida como uma coisa anónima e massificante. Além disso, a importância do baptismo é antes de mais uma experiência que o celebrante faz na sua própria vida. Comovido por ser filho de Deus ele deve procurar comunicar esse entusiasmo com uma celebração cheia de alegria, sem que essa alegria tenha de implicar alterações ao ritual. Na verdade, a nossa alegria vem de pertencermos à Igreja, só sentindo-nos em nome dela e não em nosso nome, só na fidelidade à sua doutrina mas também à forma celebrativa, não caímos na tentação de fazer da pastoral uma coisa à nossa imagem, mas um serviço que leva as pessoas a Cristo. O Departamento da Pastoral da Família pretende nos próximos meses ter pronto um subsídio pastoral de apoio aos formadores dos CPB que estiveram no curso da ESE, mas disponível para todos os que desejarem. Com o apoio dos formadores que cuidaram dos vários temas no curso, vamos tentar uma publicação que seja de ajuda para as comunidades. Padre Duarte da Cunha, In “Voz da Verdade”


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