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Presépio: há séculos na nossa casa

Agência Ecclesia
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Falar do Natal implica falar de algumas tradições que nos procuram envolver neste espírito de festividade, pelo nascimento do Menino numa gruta de Belém. Quantos de nós, cristãos, não passa um Natal sem que, num cantinho da casa, se arranje lugar para colocar, pelo menos, as três imagens principais do Presépio. O Menino Jesus, São José e a Virgem Maria são o elenco principal deste «palco» onde há 2000 anos atrás nasceu Aquele que viria a ser chamado de «O Salvador». O presépio faz, assim, parte da vida de muitos portugueses, numa tradição que chegou até nós pela mão dos frades Franciscanos, embora sem uma data precisa. Em 1925 Luís Chaves lançou para o domínio público um manuscrito da Biblioteca Nacional de Lisboa (cod; 14-A. 21-4, fl.3) no qual se podia ler que o primeiro presépio de Lisboa se encontrava no Convento do Salvador. Outro estudioso, Diogo Macedo, afirma também que no Convento Dominicano de São Salvador, no século XVI, existia já um presépio, e outro especialista brasileiro, Luís da Câmara Cascudo, afirma que nesse convento as freiras faziam presépios pelo menos desde 1391. As informações são contraditórias, mas o que é certo é que há um presépio quinhentista feito pelo escultor Bastão D. Artiaga para a irmandade dos livreiros em 1558. Durante o século XVI os presépios floresceram nas ordens monásticas e no século seguinte apareceram nas igrejas, para na segunda metade dessa mesma centúria, as casas particulares da, capital armarem os seus próprios presépios. Durante o século XVI a pintura portuguesa legou-nos uma série de trabalhos onde se imortalizou o nascimento do Menino. O século XVIII é considerado o século de ouro dos presépios portugueses, modelados pelos Franciscanos, Dominicanos e portugueses vindos recentemente de Itália onde tinham estudado por conta de fidalgos. Os frades de Alcobaça e de Mafra, as escolas de Lisboa e do Alentejo, e artistas como Joaquim Machado de Castro e Alexandre Guisti tomaram- se famosos nesta época. Os barristas desta época construíram personagens curiosas colocando-as em cenários um pouco exuberantes onde muitas vezes o estábulo de Belém aparece apenas como uma pequena parte do mundo enorme que ali é representado. Machado de Castro, artista de Coimbra nascido em 1731, é um dos mais conhecidos escultores de presépios, tendo modelado inúmeros trabalhos deste género, cheios de fantasia, humanismo e imaginação, que hoje podemos encontrar na Sé Catedral de Lisboa, em Campolide ou mesmo na Basílica da Estrela, local onde podemos observar um dos mais famosos presépios, constituído por 500 figurinhas muito humanas e cheias de sentimentos. António Ferreira foi outro barrista da mesma época que modelou figurinhas cheias de fantasia, que hoje se encontram no convento da Cartuxa de Laveiras e no da Madre de Deus em Lisboa. No século XIX as guerras que se fizeram sentir em Portugal fizeram com que não houvesse ambiente para se fazerem presépios. A extinção de conventos levou a que muitos presépios desaparecessem. Em algumas casas particulares nobres, os seus presépios também se perderam, no entanto ficaram frequentemente as figuras principais: o Menino, a Virgem, S. José, o burro e a vaca. No século XX e até hoje as tradições dos presépios não desapareceram. Um pouco por todo lado esta tradição mantém-se com recurso a uma genuína criatividade e, por vezes até, alguma aventura. Na área geográfica da diocese de Lisboa, a Vila de Alenquer, conhecida por muitos como a «vila presépio» pela sua peculiar colina, vê-se povoada, no meio de luzes festivas, de um colorido presépio, com as figuras em madeira pintada da Virgem Maria, de São José, do Menino, dos anjos, dos pastores, dos Reis Magos e dos animais. Imagens concebidas ao gosto dos presépios tradicionais portugueses. Esta é uma tradição que se mantém naquela vila desde o ano 1968, e este ano não foge à regra suscitando, à passagem, o olhar daquele que por ali circula. Entronização do Menino nos presépios portugueses As representações do nascimento de Jesus em pinturas, relevos ou frescos começaram a surgir desde o século IV. No ano de 1223, S. Francisco de Assis decidiu celebrar a missa da véspera de Natal com os cidadãos de Assis de forma diferente: assim, esta missa, em vez de ser celebrada no interior de uma igreja, foi celebrada numa gruta, que se situava na floresta de Greccio (ou Grécio), que se situava perto da cidade. S. Francisco transportou para essa gruta um boi e um burro reais e feno, para além disto também colocou na gruta as imagens do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José. Os presépios passaram a ser assim entendidos como uma pequena narrativa, inspirada nos relatos dos Evangelhos, mas a verdade é que em Portugal alguns deles representam uma outra interpretação teológica, mais ligada à entronização do Menino. No número 987 do semanário da Agência ECCLESIA, o Pe. José da Cunha Duarte explicava como a região da Provença (sul de França) foi o grande centro de irradiação do presépio com raízes medievais. No Natal, surge o Menino Jesus glorioso, triunfante, o Salvador o senhor e Rei do mundo. Este presépio foi levado pelos portugueses para a Ilha da Madeira, para os Açores e para o Brasil. Em Portugal, ainda podemos ver este presépio no Baixo Alentejo e no Algarve. O Presépio tradicional algarvio conserva as raízes medievais. É um trono ou altar armado em escadaria. O Menino Jesus está de pé, no cimo do trono. À volta coloca-se verdura, Ramos de laranjeira. Na escadaria colocam-se laranjas e searinhas germinadas. No início da década de oitenta o pároco de São Brás de Alportel iniciou a recolha das imagens feitas pelos pinta-santos algarvios. Na Igreja Matriz arma-se o presépio tradicional, em escadaria, com laranjas e searinhas e o Menino em cima do trono. A igreja também se reveste de panos como foi tradição nos séculos XVII e XIX. Na Madeira, este presépio é conhecido como “lapinha”. O Menino Jesus está de pé, no cimo do trono. À volta coloca-se verdura e na escadaria coloca-se fruta com as “searinhas”. Uma lamparina acesa está sempre presente. A imagem do Menino Jesus fica em cima do altar. Estas imagens apresentam o Menino com coroa, ceptro real, manto, mundo na mão, para assinalar a realeza e a senhoria de Cristo, de acordo com o espírito medieval.


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