A Paróquia de São Miguel de Palhacana, no Concelho de Alenquer, realiza na Sexta-feira Santa, dia 10 de Abril, pelas 21h30h a Procissão do Enterro do Senhor, ou Procissão do Senhor Morto. Manifestação religiosa única da vivência da Semana Santa, esta procissão procura recordar o cortejo fúnebre de Jesus, feito à luz de archotes e, este ano, tem um novo percurso ao longo das localidades vizinhas do Mato e Ribafria. Deste modo, a Procissão inicia na Casa de S. Jerónimo do Mato e culmina com a Tumulação do Senhor e Sermão na Igreja de Ribafria.
Na Procissão vão-se apresentar alguns ornamentos renovados, com destaque para uma nova imagem de Nossa Senhora das Dores, de manto artisticamente bordado, cópia de uma imagem do século XVII. Tal como no ano transacto, estão convidadas as várias irmandades do Concelho que organizam as tradicionais Procissões de Passos ao longo da Quaresma.
As Procissões do Enterro estabeleceram-se em Portugal por devoção dos fiéis, nos fins do século XV e princípios do século XVI, trazida de Jerusalém. Começou esta procissão por ser feita com o Santíssimo Sacramento: uma das hóstias consagradas na Missa solene de Quinta-feira Santa, era encerrada numa urna, sendo conduzida processionalmente sob o pálio para um “túmulo”. Após o Concílio de Trento, esta procissão viria a ser proibida fora das igrejas, o que fez surgir um novo modo de a realizar, com a substituição do Santíssimo Sacramento pela imagem do Senhor Morto. Em algumas paróquias continuaram a realizar-se as duas procissões, como ainda acontece hoje em Braga.
Parece ter sido este o caso da Paróquia de São Miguel de Palhacana, onde alguns testemunhos confirmam que até meados do século XX, na Sexta-feira Santa, se realizava uma celebração com estas características no interior da Igreja de Ribafria, onde figuravam uma pintura em pano do Sudário de Cristo e o andor de Nossa Senhora, vestida de roxo, que era depois colocada no “calvário”.
Em 2003, procurou-se estudar e recuperar esta celebração, adaptando-a à realidade e liturgia actual: passou então a realizar-se uma procissão pelas ruas do lugar com o Sudário e com a imagem de Nossa Senhora, rezando-se os passos da Via-Sacra em várias paragens durante o percurso, procissão que foi ganhando cada vez mais expressão ao longo dos últimos cinco anos.
No ano passado, foi possível a aquisição duma imagem do Senhor Morto. A imagem, que hoje se venera na Igreja Paroquial de São Miguel, foi copiada a partir de uma imagem de Cristo Crucificado, de finais do século XVI, que se encontrava guardada no Convento de S. Francisco de Alenquer.
Esta Procissão do Enterro do Senhor é actualmente a única a realizar-se no Concelho de Alenquer, mas tendo em conta as imagens existentes nas igrejas do Concelho, certamente que se realizou em tempos passados em Alenquer, Merceana, Aldeia Gavinha e no Convento da Carnota.