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Reforço das instituições necessário para o fim das guerras em África

Agência LUSA
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O presidente da Conferência Episcopal Angolana defendeu, no passado Domingo, em Fátima o reforço das instituições democráticas daquele país, considerando esse processo um «factor decisivo» para a paz em Angola. No final de uma conferência integrada nas Jornadas Missionárias 2004, que decorreram em Fátima, D. Damião Franklin, Arcebispo de Luanda, mostrou-se confiante no processo de paz mas apelou a uma maior afirmação das instituições democráticas. Para o prelado, o fim das guerras em África passa pelo reforço das instituições de modo a que os conflitos entre as partes possam resolver-se no quadro eleitoral ou parlamentar. «Quanto maior for a dimensão institucional, menor será o risco de guerras», afirmou. Em Angola, a relação com o Governo é «muito diferente do tempo do marxismo» e decorre agora no quadro de «uma visão democrática e de uma laicidade responsável», explicou o prelado. «A Igreja angolana está ao lado do povo e apoia a formação de consciência democrática», sublinhou. O facto de o mundo ocidental apostar na paz em África como um factor de desenvolvimento é também outro facto que dificulta o surgimento de novos conflitos, considerou D. Damião Franklin, embora reconhecendo que no caso do Sudão «ainda há muito a fazer». «A questão do Sudão deve-se ao fundamentalismo e falta de respeito pelo multiculturalismo religioso», afirmou. Neste caso, o bispo considerou essencial o reforço do diálogo inter-religioso entre povos, até porque o «papel salvífico da fé» não é exclusivo de nenhuma crença. Contudo, o diálogo com a religião islâmica é ainda condicionado por algum «fundamentalismo nas duas partes», sendo o conflito no Sudão um exemplo desses problemas. «Em África, o diálogo inter-religioso é um imperativo» e «o esforço de tolerância pode ser um exemplo para a sociedade», afirmou. Seminários sobrelotados O trabalho prático, além da simples formação pastoral, é outra das apostas das dioceses angolanas, que procuram desenvolver projectos na área da saúde e educação. «As novas Igrejas podem dar alguma coisa à Europa. Hoje, o mundo é pequeno e os imigrantes ajudam as Igrejas antigas a serem mais activas». Contudo, para que o trabalho missionário tenha sucesso, é necessário «manter as tradições dos povos e adaptar os métodos para ensinar a fé». Nesse sentido, uma das maiores preocupações das Igrejas africanas é prevenir a «aculturação» dos crentes com normas e dogmas europeus que se veiculam através da fé. Além de África, D. Damião Franklim destaca o trabalho das missões na América Latina, que «fez uma opção teológica pelos mais pobres» numa «atitude mais prática», incentivando ainda o aumento de vocações sacerdotais. «Nas terras de missão não temos espaço para os nossos seminaristas. E nos países da Europa, os seminários são transformados em hotéis», notou. «A questão vocacional é uma questão séria em África», onde muitos jovens buscam os seminários como forma de melhorar a sua qualidade de vida e fugir à guerra. Para escolher as verdadeiras vocações, a hierarquia da Igreja Católica angolana pretende reforçar a qualidade dos formadores dos seminários. Apesar do aumento do número de padres, D. Damião Franklin reconhece que já existem sinais de que este “boom” irá diminuir, não apenas pela influência do «positivismo da indiferença», que é veiculado pelos média ocidentais, mas também pelo facto de as condições das famílias estarem a melhorar. «O filho dos outros pode ir para a vida religiosa mas o nosso não. Mas depois queremos escolas com padres ou madres e hospitais geridos pela Igreja», desabafou. O trabalho de missão está a mudar de destino e, agora, muitos jovens africanos são chamados a desempenhar trabalho pastoral na Europa, que se depara com a falta de vocações, sublinhou D. Damião Franklin. No entanto, «muitos dos nossos sacerdotes são muito jovens e precisam de um enquadramento antes de virem para a Europa», reconheceu.


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