Regresso às hortas na Guarda
Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos disponibilizou terrenos agrÃcolas
As hortas voltam a estar na moda na cidade da Guarda e quem trabalha a terra diz que o faz para “passar o tempo” e para assegurar “a qualidade” daquilo que consome. Em tempo de crise económica, as pequenas hortas urbanas também acabam por ser uma boa ajuda para as famílias que dedicam algum do seu tempo ao cultivo da terra.
Um dos exemplos do “regresso” ao cultivo da terra verifica-se no Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos, na zona da Póvoa do Mileu, onde os terrenos que durante anos e anos estiveram abandonados e cheios de silvas estão agora cultivados.
A direcção do Centro disponibilizou terrenos a duas famílias e a pessoas necessitadas apoiadas pela Caritas Diocesana e pela Paróquia da Sé.
José dos Reis, reformado, 64 anos, ex-emigrante em França cultiva desde o ano passado, uma parcela de terreno “para passar o tempo”. Contou ao Jornal A Guarda que no terreno que lhe foi disponibilizado plantou e semeou feijões, abóboras, couves, pimentos, cebolas, tomates, alfaces, ervas aromáticas e flores. Disse que para além de ter o tempo ocupado sempre vai “comendo a hortaliça que daqui levo e já não tenho necessidade de comprar no mercado”. “Passo um bocado de tempo, distraio-me e sei aquilo que como”, afirmou.
O reformado lembrou que antes de se “agarrar à terra e à enxada” não fazia nada, mas agora tem o tempo ocupado e só não cultiva batatas “porque não vale a pena cultivá-las porque são baratas e são todas iguais, quer sejam daqui ou cultivadas em outro lugar qualquer”.
Maria Augusta, desempregada, 59 anos, vive nas proximidades do Centro Apostólico, onde ajuda o marido no cultivo de um bocado de terreno. “Isto já não era semeado há mais de 20 anos”, lembrou, apontando que este ano, o marido “esticou-se mais porque gosta de ver tudo arranjadinho”. A família cultiva batatas, ervilhas, cebolas, alhos, feijões, cenouras, nabiças, alfaces, couves, beterrabas, etc. “O meu marido está reformado e passa aqui o tempo”, disse, explicando que quando a produção é maior “damos aquilo que não se come” às filhas e também às irmãs que estão no Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos.
“O meu marido é que gosta muito disto, porque com o dinheiro de dois sacos de semente de batata comprávamos batatas para todo o ano”, referiu Maria Augusta, que o Jornal A Guarda encontrou na horta na companhia do neto. No entanto, a mulher sempre disse que os produtos cultivados na horta “têm outro sabor e sabemos que são de qualidade e sabemos aquilo que comemos”. No terreno também tem muitas flores que utiliza para enfeitar a capela da Póvoa do Mileu.
Irmãs valorizam produtos da terra
A irmã Gracinda Antunes, que reside no Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos com mais duas servas, lembrou ao Jornal “A Guarda” que os terrenos que agora são cultivados “estiveram abandonados durante muitos anos, com mato e silvas”. “Aqui há três anos, uns casais amigos cortaram o maior e limparam. Depois, mandei lavrar. Como um vizinho já me tinha pedido um bocadinho de terreno para fazer uma horta, acabei por ceder-lhe um pouco de terreno e também a outro senhor”, relatou.
Gracinda Antunes considera que com a cedência do terreno “para além de ajudar as pessoas, também é um bem para o Centro Apostólico, porque o terreno está limpo e, como nos dão as coisas, raramente compramos hortaliças”. “Também temos a nossa horta”, indicou, salientando que “só compramos hortaliças, às vezes, quando vem muita gente, mas isso é muito raro”.
As três irmãs também têm galinhas, patos, gansos e dois borregos. No seu dia-a-dia, para além das orações e do assegurar do funcionamento da instituição, onde dão trabalho a três pessoas, também dedicam algum do seu tempo “a tratar da horta e dos bichos”.
Diocese da Guarda
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