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Religiosidade popular: Festas mostram capacidade do cristianismo em adaptar-se às culturas

Agência Ecclesia
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Sociólogo Alfredo Teixeira destaca «tensão» e diversidade de experiências em contacto

Lisboa, 12 jun 2012 (Ecclesia) – O sociólogo Alfredo Teixeira, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), considera que a religiosidade popular e os festejos a ela associados, no cristianismo, mostram que esta é uma religião “aberta à diversidade das experiências culturais”.

“Esta ideia de um Deus que pode ter a escala humana acaba por disponibilizar muito as representações cristãs para apropriações na cultura local que, de facto, marcaram o cristianismo, de uma maneira geral, sobretudo até numa cultura cristã mediterrânica”, observa o especialista, em entrevista hoje publicada no Semanário Agência ECCLESIA.

Esta relação traduz-se em fenómenos marcantes, em particular no cristianismo latino, como “a relação das pessoas com os santos, enquanto figuras protetoras” ou “a prática da peregrinação, sob as diferentes formas”

Para o responsável do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP existe, neste universo, o encontro de práticas católicas com “uma religiosidade mais de natureza local, natural”, ou seja, “uma forma simbólica de a comunidade humana se expressar na sua relação com o meio”.

“Isso aparece muito claramente em manifestações da religiosidade popular, muitas delas ligadas aos ciclos das estações do ano, às atividades agrícolas, no fundo, a essa experiência humana fundamental, que é a da sua relação com o meio e da construção de um modo simbólico para se proteger face a ele, de o dominar, transformar”, prossegue.

Alfredo Teixeira precisa que, “deste ponto de vista, o que o cristianismo faz, de alguma maneira, é redirecionar essa experiência religiosa para um horizonte, uma significação cristã, sem, em muitos casos, dissolver essas práticas que encontrou”.

“De uma maneira geral, essas práticas subsistem em alguma tensão, ou seja, algumas coisa delas transporta ainda memória de um pré-cristianismo e alguma coisa nelas claramente se rediz, claramente, agora já no contexto cristão”, acrescenta.

Alberto Júlio Silva, autor da obra ‘Os Nossos Santos e Beatos’, apresenta, por sua vez, os santos António, João Baptista e Pedro, festejados em junho “com tanto estrondo de bailes, ceias, sardinhadas e fogueiras”.

O investigador traça o percurso de vida de “três testemunhas de Jesus Cristo, muito diferentes uns dos outros: um frade do século XIII que assombrou o mundo com a sua sabedoria; um profeta publicamente elogiado por Jesus, que pagou com a vida o seu testemunho acerca da verdade e um pescador, apóstolo de Jesus, cheio de audácias, de cobardias e de fé a quem Jesus fez seu representante”.

“Tanta austeridade contrasta com a forma ruidosa como são celebrados por todo o país”, acrescenta.

Para Alfredo Teixeira, coordenador e relator do estudo ‘Identidades religiosas em Portugal: representações, valores e práticas’ (2011), encomendado pela Conferência Episcopal Portuguesa, “aquilo que é próprio da modernidade que nos descreve é a combinação de coisas que são muito diferentes, muito heterogéneas”.

“Nós podemos ter, de facto, uma sobrevivência muito ampla de enunciados especificamente cristãos, mas eles combinam-se com dimensões do crer que são já muito mais individualizadas e reconstruídas individualmente”, sublinha.

O dossier do Semanário Agência ECCLESIA desta terça-feira é dedicado à religiosidade popular.

OC



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