Nacional

Renovar para o encanto da vida consagrada

Nuno Rosário Fernandes
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Semana de Estudos em Fátima reflectiu sobre a beleza de uma opção radical

Refrescar os ideais de consagração a Deus, saber traduzir, com alegria, essa consagração em todos os lugares, e procurar que a relação com os outros seja encantadora, são alguns dos desafios que se colocam aos religiosos do século XXI, debatidos de 25 a 28 de Fevereiro, na XXII Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada, em Fátima, subordinada ao tema «O “Encanto†da vida consagrada». O tema desta semana, onde participaram cerca de 1300 pessoas “foi inspirado numa declaração do presidente do Congresso Internacional da Vida Consagrada celebrado em Roma, em Novembro de 2004, onde disse que o maior desafio que temos pela frente é devolver à vida consagrada todo o seu encantoâ€, explicou à Agência ECCLESIA o Pe. Abílio Pina Ribeiro, coordenador da equipa de preparação desta semana de estudos. Segundo este sacerdote missionário “trata-se de renovar, reavivar, o encanto do chamamento de Deus, da primeira hora. O mesmo entusiasmo com que um jovem, ou uma jovem, deixaram tudo. Os projectos de casamento e outros projectos de vida, para seguirem inteiramente a Cristo e o servirem na pessoa dos seus irmãos. É o renovar da fidelidade, audácia, criatividade...â€, salientou. O acolhimento, a gratuidade, a simplicidade, o diálogo, foram também tidos em conta nos vários painéis realizados nesta semana, onde se procurou fazer sobressair a beleza do seguimento de uma opção vocacional que, na Europa, tem vindo a atravessar uma situação de decréscimo. A habitual afirmação de que “há crise de vocaçõesâ€, para este sacerdote religioso, não corresponde à verdade porque, afirma “no conjunto da Igreja as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada não estão a diminuir, até existe um ligeiro aumentoâ€, acentua, justificando que a escassez de vocações verifica-se na Europa, na América do Norte, Austrália, mas nos chamados países do terceiro mundo, o numero de vocações está em aumentoâ€, sublinha. Segundo os últimos dados disponibilizados pela Santa Sé, entre 1978 e 2003 assistiu-se a uma quebra significativa no número de religiosos e religiosas no mundo (27,94% e 21,65% respectivamente). Em Portugal, dados oficiais da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), de Outubro de 2005, apontam para um total de 5431 membros de institutos femininos a residir em Portugal e 1682 membros de institutos masculinos a residir em Portugal, perfazendo um total 7113 membros religiosos e religiosas em Portugal. Mas na XXII Semana de Estudos sobre a Vida consagrada falou-se de um encanto nesta opção de vida, que se encontra, afirmou o Pe. Pina Ribeiro, “nesta doação plena com que uma pessoa, geralmente jovem, é capaz de deixar tudo porque foi seduzido, cativado por Cristo, e sente que deve realizar este sonho com uma alegria imensa, transbordante, dedicando-se a Deus, como pessoa consagrada mas, sabendo que essa consagração a projecta imediatamente para o serviço dos seus irmãosâ€. Encantos e desencantos Mas a vida religiosa também tem os seus desencantos, reconhecidos por quem vive a tempo inteiro esta forma radical de ser cristão, e para além da já referida escassez de vocações, “o envelhecimento dos nossos quadrosâ€, é um desencanto que tem por consequência uma maior dificuldade “em responder a todos os apelos e desafios lançados pela sociedadeâ€, considera este sacerdote. As causas para essa escassez, segundo o Pe. Abílio Pina Ribeiro, podem encontrar-se na própria família, “a célula base de tudoâ€, acentua. “Há falta de matéria prima! Hoje há poucas crianças e numa família onde há um ou dois filhos, o projecto dos pais não é o de os encaminhar para o sacerdócio ou para a vida consagradaâ€, comenta. Também no seio das família “as conversas que as crianças ouvem, desde pequeninas, relacionadas com o materialismo dos dias de hoje, não são terreno muito favorável. Só brotam vocações para o ministério ordenado ou para vida consagrada – continua - de famílias que sejam cristãs, que saibam valorizar o que significa esta entrega plena a Deusâ€. Mas as causas de ausência de vocações, (dos 142 institutos masculinos e femininos em Portugal, são cerca de 440 os membros em formação) também têm origem interna. “Muitas vezes a nossa falta de testemunho coerente, alegre, de felicidade, nem sempre é tão intenso, de modo a que torne mobilizador e atractivo. Essa quota parte de culpa, nós admitimo-laâ€, reconhece. “Sabemos que a questão é muito complexa e que tem a ver com a situação da Igreja e do mundoâ€. Por outro lado, releva o Pe. Pina Ribeiro, “outros factores de desencanto tem a ver com a descristianização crescente da sociedade, de um país como o nosso. As pessoas que se dedicam a anunciar o reino de Deus, nem sempre vêem resultados palpáveis. E nessa situação é preciso que não se perca de vista o essencial, que é Cristo, que nos mandou evangelizar sabendo que não depende nós o fruto a colher mas da nossa união com Eleâ€, frisou.


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