Nacional

Rezar pelas vocações

Lígia Silveira
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Durante a presente semana, a Igreja olha para dentro dos seus seminários. Olha e reza. Pelo nascer, pelo fortalecimento das vocações, pela disponibilidade de ouvir o chamamento e aceitar descobrir, este ano sob o lema «Quem semeia com generosidade, assim colherá». Da responsabilidade do Pe. Vitor Novais, Reitor do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, em Braga, foi elaborado um guião para a Semana dos Seminários. Uma proposta de oração para a catequese, para as paróquias, mas também para as famílias, porque afirma o reitor do seminário, onde houver um nascimento há uma vocação. Durante esta semana “é essencial orar, sensibilizar e criar uma cultura vocacional. Quem está ligado à pastoral vocacional tem de ter a capacidade de acreditar no dono da messe”, exprime o sacerdote, que rejeita a retórica dos números. “Em cada tempo haverá pessoas. A nós, cabe-nos rezar e sensibilizar para que cada pessoa se deixe tocar pelo chamamento e, percebendo-o, seja capaz de lhe responder com generosidade”. Este será o grande objectivo desta semana, para fazer despoltar a cultura vocacional que a Igreja precisa. Os discursos de crises vocacionais “não ajudam. É antes preciso ter uma esperança a partir dessa cultura”. Os documentos da Igreja afirmam que toda a pastoral ou é vocacional ou não será pastoral. “O fundamental é que cada acção pastoral, mesmo que à partida não tenha esta dimensão vocacional, ela terá de ter no horizonte a vocação”, sublinha o Reitor de Braga. “Ao falarmos da vocação, parece que estamos numa atitude de inquietação. Era bom que a Igreja, em cada tempo, pudesse ler o que vai no mundo, e saber fazer a proposta sabendo chamar o homem de cada tempo”, aponta. O guião para a Semana dos Seminários propõe um trabalho na catequese, “tentando chegar aos pais e às famílias, como essenciais para promover a vocação”. No entanto, centra também uma proposta na lectio divina. O Pe. Vitor Novais aponta que as comunidades paroquiais estão a “apostar na leitura orante, espalhando depois esta prática nas famílias”. A proposta no guião incide em São Paulo, para que, “nele e por ele sejamos capazes de mostrar às famílias de hoje as dificuldades que também Paulo sentiu, mas também a beleza e o encanto”. O peso dos números e a vocação Reconhecendo que os números são indicadores, o sacerdote lembra também que “a cultura ocidental pede uma produção quantificada e não qualificada”. Esta linha de pensamento é também “transportada para as instituições”. Ao pensar nos seminários, “pode pensar-se nos seminários com as multidões de outros tempos, mas que hoje não é possível”. E enumera um conjunto de situações – “a descristianização, o ambiente, as famílias, solicitações exteriores que podem não ser favoráveis”, mas, relembra, “neste contexto, é importante que a Igreja perceba que, apesar do decair dos números, não indicam dramatismo, mas antes devem orientar uma cultura de esperança”. O pré-seminário confronta os alunos e candidatos ao sacerdócio com a sua história vocacional. “O que procuram, porque o procuram, como o querem procurar”, enumera o Reitor. A leitura desta “história vocacional” é fundamental para que “no ingresso no seminário, os candidatos terem uma motivação própria de quem quer fazer este seguimento”. O Pe. Vitor Novais apresenta este discernimento e amadurecimento fruto do processo em si, “até porque se o meio não favorece, o processo de formação tem de criar mecanismos para ver como é que os seminaristas dão os passos”. O Reitor reconhece que “o mundo hoje é exigente, não só na vida da Igreja. Por isso, temos de ter bem assente onde está o centro da nossa missão ou corremos o risco de não sermos pessoas felizes”. O discernimento vocacional impõe-se “não apenas na esfera do religioso”. O sacerdote lembra que também as escolas têm psicólogos para orientar os jovens. “Onde há um nascimento há uma vocação e é bom que todos os mediadores – padres, pais, escola – ajudem o jovem para encontrar o seu caminho”. Processo vocacional em Braga Há cerca de um ano a arquidiocese de Braga decidiu instituir uma equipa que acompanha todo o processo vocacional. O objectivo era “afirmar a centralidade do Seminário para renovar a arquidiocese”. Foi instituído um Seminário Menor e um Seminário Maior, com casas distintas, com um só reitor a tutelar todo o processo vocacional, estando como responsável o Pe. Vitor Novais. Foram criadas equipas em diferentes âmbitos – pré-seminário, seminário menor, e seminário maior, para, em diferentes dimensões, acompanharem os seminaristas. Após a frequência dos seis anos de formação no Seminário “e se assim se entender, o seminarista é ordenado diácono, faz estágio numa paróquia e é ordenado sacerdote”, explica o Reitor. Ainda nas paróquias de estágio, os diáconos são acompanhados, uma presença que continua após a ordenação sacerdotal. “No primeiro ano de ordenação, os sacerdotes continuam ligados ao seminário, onde se alimentam espiritual e intelectualmente”. Ao longo dos três anos seguintes, haverá encontros entre os sacerdotes que depois, “naturalmente se incluem na formação permanente do clero que a arquidiocese promove”. A formação deve incidir nas vertentes pastoral, intelectual e na dimensão humana e espiritual. O Reitor aponta o acompanhamento essencial para “uma transição entre o mundo onde estiveram vários anos e fizeram a sua formação, para o mundo da pastoral, no qual, a integração nos primeiros momentos pode ser complicada”. Ainda sem resultados “que poderiam ser prematuros”, o Pe Vitor Novais salienta que “o projecto está a ganhar corpo e beneficia dos contributos de cada pessoa”. O Reitor salienta ainda que, numa reunião entre Reitores de Seminários “era comum o sentir desta lacuna de acompanhamento após a ordenação”. Havia acções esporádicas, “mas não como um projecto assumido por cada seminário”. A psicologia nos Seminários Recentemente a Congregação para a Educação católica publicou o documento «Orientações para a utilização de competências psicológicas na admissão e na formação de candidatos ao sacerdócio». O Reitor do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo adianta não ser “muito frequente a presença de uma psicóloga na equipa, mas a equipa formadora, em Braga, integra uma psicóloga “há cerca de um ano” e com benefícios, desde que, sublinha “não substitua a dimensão espiritual, todo o acompanhamento do director espiritual e a dimensão da reconciliação”. Se a psicologia ajudar a “clarificar a história vocacional, é uma mais-valia”, aponta. A psicologia pode ajudar a esclarecer “as motivações da escolha do candidato”. A psicologia é “um auxílio sem pretender ser mais”. O documento «Orientações para a utilização de competências psicológicas na admissão e na formação de candidatos ao sacerdócio» “alerta, com clareza, para o facto de os seminários estarem atentos para não haver substituição da dimensão espiritual”. Bem usada “a psicologia será uma mais-valia para a instituição Seminário”.


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