Inserida na dinâmica resultante do ICNE, decorreu esta semana na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa a Conferência sobre o tema “Casas de Deus. Identidades do Espaço Sagrado”.
Especialistas da área juntaram-se a representantes cristãos, islâmicos e judaicos para uma reflexão sobre a conceptualização e o uso dos seus espaços de culto.
O arquitecto Pedro Janeiro, um dos promotores do evento, refere à Agência ECCLESIA que o desafio era “construir ciência”. “As faculdades, enquanto organismos autónomos, são pólos de conhecimento e de liberdade e por isso discutimos abertamente questões que nunca tinha visto discutidas”, relata.
O balanço do encontro é “muito positivo” e deixa desafios para o futuro. “Temos de perceber que a Arquitectura não é o objecto, mas a disciplina, aquilo que está entre mim e o objecto arquitectónico”, sublinha Pedro Janeiro.
Para este arquitecto, há caminhos abertos para o debate quando se olha para alguns espaços sagrados “amplos, sob o ponto de vista religioso, onde qualquer pessoa pudesse ter contacto com o sobrenatural, independentemente da sua religião”.
A série de conferências promovidas em várias universidades, aquando do ICNE, deixa muito satisfeita a directora do Serviço Diocesano da Pastoral Universitária em Lisboa, Helena Neves. Para esta responsável, era importante “trabalhar com as pessoas da casa” para poder manter esta dinâmica de encontro e de debate.
“Já há ideias para continuar”, assegura à Agência ECCLESIA.
O ciclo encerra-se este sábado, no Instituto Superior Técnico, com uma conferência sobre o tema “O terramoto de 1755 e o sentimento religioso”, promovida pelo Departamento de Engenharia Civil.
“Casas de Deus”Sinagoga
Já no Judaísmo, as sinagogas (Beit Haknesset) são uma casa de reunião e de assembleia da comunidade. A passagem do Templo à sinagoga marca uma transformação histórica do papel do indivíduo no rito: a oração substitui os sacrifícios animais e os sacerdotes são substituídos pelo “minian”, o colectivo de dez homens necessários à oração colectiva. A Sinagoga torna-se também num espaço polivalente destinada simultaneamente à oração, ao estudo e à reunião da Comunidade.
A Sinagoga de Lisboa "Shaaré Tikvá" (Portas da Esperança) tem uma origem marcada pela Carta Constitucional de 1826, a qual reconhecia o Catolicismo como a única religião oficialmente permitida aos portugueses, remetendo os outros cultos para o foro privado dos estrangeiros.
O terreno para edificar a "Shaaré Tikvá" teve de ser comprado em nome de pessoas particulares e a própria Sinagoga, inaugurada em 1904, obrigatoriamente construída sem fachada para a rua.
Igrejas
As igrejas e capelas católicas que se edificaram na cidade de Lisboa desde o II Concílio do Vaticano (1961-1965), mostram um verdadeiro surto construtivo que merece, só por si, a nossa atenção. A igreja do Coração de Jesus é apresentada como o símbolo máximo destas mudanças, além de várias outras igrejas novas de muito elevado interesse, que são a prova viva do esforço que o Concílio realizou para atingir um novo entendimento da vida da Igreja e do seu papel na sociedade em que está inserida.
A acentuação do carácter de serviço comunitário da comunidade cristã, a valorização da participação dos fiéis, a preponderância da reunião da assembleia, tudo isto leva ao ensaio de novos esquemas e conceitos na construção religiosa.
A utilização de materiais tradicionalmente considerados como menos nobres (o betão, o vidro) e o primado da funcionalidade nas edificações são apenas a face visível de um fenómeno de renovação em Portugal. Nestas igrejas, os católicos vão celebrar, virar-se para Deus, receber a Palavra e o Pão. Os espaços interiores são marcados por estes dinamismos relacionais, verticais (para Deus) e horizontais (para o outro), incarnando as expressões da fé cristã e as tentativas de a viver nos nossos dias.
Mesquita
A Mesquita de Lisboa foi edificada na rua da Mesquita, (Bairro Azul), perto da Praça de Espanha. É de tipo oriental com a sala de oração ampla, dominada por uma cúpula, e Minarete (torre) com rampa exterior. Foi construída entre 1979 e 1985 (Arquitectos A. M. Braga e J.P. Conceição) com ajuda de um grupo numeroso de países islâmicos, o empenho da Comunidade Islâmica de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa que cedeu o terreno. Possui finalidades religiosas e também sociais de apoio aos muçulmanos.
A Mesquita constitui para os crentes muçulmanos lugar de oração e meditação individual e colectiva e um espaço de descanso, convívio e partilha social. Sendo simbolicamente muito importante para os muçulmanos, este edifício não tem regras arquitectónicas totalmente padronizadas, mas há algumas regularidades e alguns elementos obrigatórios - entre eles os elementos que permitem assinalar a direcção de Meca (a denominada “Qibla”).