Santos populares: tradição actualizada em Sesimbra A. Silvio Couto 20 de Junho de 2005, às 11:04 ... Todos nós somos crianças / reluzentes como o sol. Na barca cheia d’esp’ranças / temos Deus como farol. O nosso pão é bem duro / neste mar, cada vez mais. Nosso barco está seguro / É São Pedro o nosso arrais. (…) Esta Sesimbra... Embalada pelo mar, Gaivota linda, nele gosta de poisar. És tu piscosa... O meu berço, minha terra, Gaivota airosa, entre o céu, o mar e serra. É com esta letra que a marcha infantil da Paróquia de Santiago – Sesimbra sai à rua pelo terceiro ano consecutivo e como único representante desta tradição popular na Ribeira sesimbrense. De facto, tem-se gerado um movimento salutar de salvaguarda do espÃrito dos ‘santos populares’ (particularmente com incidência por ocasião do São João, isto é, na época do solstÃcio do verão), que, segundo dizem, já teve forte expressão nas ruas e bairros desta vila piscatória. Numa atitude de empenhamento dos vários grupos, serviços ou movimentos da Paróquia a decoração do adro – cujo tema anda à volta de motivos marÃtimos e de actividades piscatórias – teve o contributo de cerca de uma centena de pessoas, que foram ‘fazendo’ peixes, lagostas, cavalos-marinhos e estrelas do mar num total de duas mil peças; bóias de cortiça, cerca de oitocentas; vinte e quatro fogachos iluminados; mais de trezentas bóias de salvação em miniaturas; cerca de vinte redes em tamanho real; cerca de oitenta âncoras decorativas e ainda mais de cem cabaças em miniatura… Muito e muito papel (azul e branco, como o mar e o céu) para ornamentar o adro da Igreja, com a mistura de alecrim e cedro… caldeado tudo com boa vontade, carolice e hora e horas (desde a Páscoa) de dedicação! Para que a marcha saÃsse à rua houve a necessidade de construir doze arcos com os nomes dos santos populares nas proas das barcas mais tÃpicas de Sesimbra. Só a marcha envolve mais de noventa pessoas (entre marchantes, transporte dos arcos, ensaiadores e auxiliares), desde crianças dos quatro anos e envolvendo avós, pais e netos. A marcha desfila pelas ruas de Sesimbra na noite de 23 e 29 de Junho, tendo sido ainda convidada para participar, na noite de 25 de Junho, na festa de Alcochete em honra de São João, padroeiro daquela vila. Atendendo à dimensão desta tradição actualizada, a Paróquia de Santiago tem procurado fazer o seu caminho no contexto de Sesimbra, aceitando as ajudas – parcas, calculistas e insuficientes – com que a edilidade vai tentando colmatar (economicamente) os projectos que lhe são apresentados. Tal como dissemos anteriormente há três anos atrás (em 2002) – por ocasião da exibição da marcha da Paróquia no jardim principal de Sesimbra – ‘quando os outros não aparecem nós procuramos estar presentes’… num entendimento de que as tradições devem ser renovadas custe o que custar. Desta forma o arranjo do adro recebeu um subsÃdio de cerca de sessenta da área enfeitada, enquanto os integrantes da marcha tiveram de suportar os custos da sua carolice. A fé não tem preço, embora os seus custos possam condicionar as possibilidades… Apesar de tudo vamos continuar… até que Deus queira e os (poderes) humanos o permitam! Religiosidade Popular Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...