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São João: Festa popular celebra figura bíblica que anunciou austeridade e esperança

Agência Ecclesia
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Frei Fernando Ventura sublinha importância de «sonhar a salvação coletiva»

Lisboa, 23 jun 2016 (Ecclesia) – O frade Capuchinho frei Fernando Ventura vai festejar o São João no Porto e destaca que a figura bíblica do Batista é “voz proclamada no deserto” num “tempo desesperadamente necessitado de esperança gritada”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o religioso da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos explica que a figura de São João Batista que se encontra na Bíblia está ligada “a uma austeridade de vida” mas, “acima de tudo”, indica um caminho de esperança, “visibilidade e esperança que chega à história, aponta a salvação de Israel”.

Para frei Fernando Ventura, simbolicamente, é tempo de encontrar “as possibilidades de sonhar a salvação coletiva”, quando se vive um “deserto existencial muito marcado” pela “ausência de esperança, de alguém que aponte caminhos”.

São João Batista, sublinha, é “voz proclamada no deserto”, sentido da esperança “gritada na história” num tempo “desesperadamente necessitado de esperança gritada” e levada à consciência coletiva, “celebrada em espírito de comunhão e comunidade”.

O religioso assinala que participar e viver a festa de São João “é tão antigo quanto a própria comunidade” onde encontram-se tradições pagãs, ligadas “à vida, à renovação” desde logo na sua simbologia, “que encaixa no solstício de verão que acontece em paralelo com o solstício de inverno”.

Frei Fernando Ventura exemplifica e explica os símbolos que são usados na noite maior da cidade d o Porto, como o alho-porro, “símbolo fálico; o manjerico, a cidreira, símbolo feminino” e a água que remete para as “orvalhadas” e a que “cai do céu, a mistura do fogo e da água”.

“A tradição do café e pão torrado nas brasas de São João; o saltar da fogueira, a superação das dificuldades. A alegria que chega à história, não só esperança latente mas certeza que se vai vendo nos frutos maduros, nos rebanhos”, acrescentou ainda o entrevistado comentando a ligação de São João Batista à “pictografia do cordeiro e a tradição de se comer o anho, o borrego”, que acabou por ser substituído por “questões económicas” pelas sardinhas que aparecem “mais tarde” porque “eram mais baratas na época”.

O frade menos Capuchinho recorda que viveu a festa de São João desde pequeno, nasceu num bairro operário da Senhora da Hora (Matosinhos) onde todos os anos faziam a tradicional cascata de São João, que era movida pelos mais pequenos.

“Era o nosso encanto são joanino, fazíamos mover toda aquela maravilha. A cascata é um presépio onde a figura central é João Batista e colocam-se todos os elementos da aldeia, da comunidade, movida a água com uma manivela”, acrescentou.

O sacerdote observa que o São João no Porto tem uma “dimensão urbanística” com a “ideia de ilha” [ndr, pátios noutras regiões], um espaço rodeado por casas mas “comum” onde a vida acontece, “onde celebram as grandes festas, os grandes acontecimentos da vida de todos os dias”.

Segundo o entrevistado, de alguma forma, “toda” a cidade transforma-se numa ilha com as pessoas na rua, “a horizontalidade de relações” marcada por elementos da cultura pagã com os símbolos utilizados.

Frei Fernando Ventura, que vai celebrar o São João “entre amigos” no Porto, sobre a dimensão festiva ser menos popular e mais determinada pelas lideranças comenta ainda que é preciso que “não sejam só enfeite, de autopropaganda”, mas possibilitar a “celebração real da festa e da vida a acontecer”.

O programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, às 22h45 tem esta semana como tema ‘O São João, o santo popular e os seus festejos’.

PR/CB



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