Nacional

São Paulo: De noite e de dia, como pai e mãe

Miguel Miranda
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S. Paulo em chave maternal e paternal – como pai e mãe das comunidades que fundou. Tal como um pai e uma mãe não abandonam os filhos após o nascimento, assim o Apóstolo nunca deixou de acompanhar o crescimento das igrejas. Sofrendo por elas, corrigindo-as quando necessário, Paulo, directamente, por carta ou através de “cooperadores”, esteve sempre perto destes seus filhos, evangelizando as pessoas uma a uma (método personalizado), “de noite e de dia” (a tempo inteiro). Foi este o pano de fundo da segunda sessão dos Encontros com São Paulo, iniciativa da Arquidiocese de Braga desdobrada por Balazar, Braga, Guimarães e, agora, dado o massivo interesse despertado pela proposta, também por Famalicão. Na última quinta-feira à noite, em Guimarães, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição voltou a registar lotação esgotada para escutar o bispo auxiliar de Braga, D. António Couto. Se o primeiro encontro se baseou na temática da graça, a partir da abertura e conclusão das cartas de Paulo, desta vez a viagem pelo corpus epistolar paulino teve como leit motiv o carinho transmitido por S. Paulo às comunidades cristãs. Como disse D. António Couto, o discurso de Paulo pode-nos parecer por vezes frio, rigoroso, muito intelectual, distante. Interessava, pois, descobrir e aprofundar esta sua faceta materna e paterna. E o bispo fê-lo apresentando um conjunto de verbos utilizados por Paulo para dar conta deste seu amor pelas comunidades, que outra coisa não é senão reflexo ou eco de um amor louco por Cristo, cujo nome “Paulo não consegue estar muito tempo sem escrever”. Gerar. Dar à luz. Verbos de alegria e simultaneamente de dor. Mas, em Guimarães, D. António quis ir mais longe e apresentou à assembleia um vocábulo paulino, sem tradução no dicionário português, que dá bem conta do ponto a que o Apóstolo levou o seu amor pelas comunidades. Na verdade, “não temos em português uma palavra para dizer a dor de um pai ou de uma mãe que perderam o seu filho”. Ao contrário, diz-se órfão ou órfã. Mas para o inverso não há termo. “Desfilhado” é, pois, a proposta do bispo auxiliar de Braga para o sentimento evocado por Paulo numa palavra que nem sequer o grego admite. Mas existe no hebraico: Shikulim pode encontrar-se em Isaías, em Baruc ou nas Lamentações. Mais uma vez, D. António utilizou com a assembleia uma pedagogia interactiva que a todos parece cativar, convidando os participantes a ler consigo os textos projectados em tela, numa apresentação em powerpoint que, mediante as nuances na coloração e tamanho dos caracteres, permite apreender toda a riqueza do texto paulino. Miguel Miranda


Ano Paulino