Nacional

Sebastião, o Santo de Inverno

Octávio Carmo
...

Centenas de paróquias festejam o seu padroeiro

As festas tradicionais religiosas, em Portugal, estão intimamente ligadas aos modos de vida comunitária marcados pelas estruturas sociais camponesas. Nelas se descobrem ritmos e imaginários arcaicos articulados com o calendário cristão e a ordem litúrgica do catolicismo. Os grandes marcos do tempo são as festas, dentro do que os especialistas consideram três ciclos agrários: dos “mortos” ao Carnaval estende-se o ciclo de germinação; do Carnaval ao Pentecostes alastra-se a floração; depois vem o ciclo das colheitas, dos santos populares ao São Miguel. A festa favorece assim a vida das estações, tolerando o frio e a chuva, sacudindo as geadas e desafiando os ventos. Entre os Santos de Inverno, o mais celebrado é São Sebastião, suja festa é hoje assinalada. Em sintonia com o tempo da sua festa, S. Sebastião evoca sobretudo o sofrimento e a morte. Ele estava, aliás, continuamente a ser morto, simbolicamente, no início do nosso período, durante a procissão da festa, pelos tiros de espingarda que eram dirigidos contra a sua imagem, numa aldeia da diocese de Lamego. São Sebastião é um dos mártires mais conhecidos da antiguidade. Historicamente estão demonstrados o seu martírio em Roma, no fim do século III ou princípios do século IV, a sepultura na Via Ápia «ad Catacumbas», a data antiquíssima (20 de Janeiro) da sua festa e a popularidade do seu culto desde o século IV, mas principalmente desde a Alta Idade Média, por ter sido tema entre os pintores renascentistas que o representavam “atado à árvore nu e cravado com setas”. O relato do seu martírio foi escrito século e meio depois dos acontecimentos, baseado nas chamadas Actas de Santo Ambrósio. Julga-se que São Sebastião era natural de Narbona ou Milão, oficial da Guarda Imperial, em Roma, no tempo do Imperador Diocleciano. Apesar do seu cargo, converteu-se ao Cristianismo, difundiu a Fé e protegeu os Cristãos necessitados, convertendo muita gente. Descoberto, foi sentenciado à morte e supliciado com setas. Tido por morto, abandonaram-no os arqueiros. Curado milagrosamente apresentou-se diante do Imperador proclamando a sua fé. Este mandou-o açoitar até morrer, sofrendo, por isso, um duplo martírio. Os fiéis invocam-no, desde a antiguidade, como advogado “especial” contra as pestes e epidemias. S. Sebastião é, com os Santos de Junho, dos mais festejados em Portugal. É o que resulta do recenseamento das festas populares, terminado em 1989 em todo o país, a que responderam 74% das paróquias. Os dez santos e invocações celebradas mais frequentemente eram, por ordem decrescente, S. António, S. Sebastião, N. S. da Conceição, N. S. de Fátima, SS. Sacramento, S. João, Coração de Jesus, N. S. do Rosário, Espírito Santo e S. Pedro. S. Sebastião era festejado em 282 paróquias.


Religiosidade Popular