Semana Santa em Braga Diário do Minho 08 de Abril de 2009, às 15:33 ... A Semana Santa, assim chamada por causa dos mistérios que celebra e pela opção de vida a que deve conduzir, é o fecho do tempo litúrgico da Quaresma, itinerário de preparação para a grande festa da Páscoa. Na sua origem está a vontade de historicizar os acontecimentos da Paixão do Senhor — algo que, com alguma naturalidade, se começou a fazer em Jerusalém, onde era indubitavelmente mais fácil reviver, na proximidade local, os últimos momentos da vida de Jesus. Esta intenção foi imitada pela liturgia ocidental, mediante a organização de celebrações particularizadas. Assim se chegou à Semana Santa, muitas vezes repartida por episódios parcelares. Na Idade Média, por exemplo, a dramatização da Paixão de Jesus fez com que se lhe chamasse “semana dolorosaâ€. Esbateu-se, então, o seu aspecto salvÃfico e de vitória sobre a morte mediante a ressurreição. Iniciada no Domingo de Ramos, a Semana Santa vai até à tarde de Quinta-feira, momento em que começa o TrÃduo Pascal. Em Braga, o primeiro acto com alguma solenidade no chamado “Programa da Semana Santa†realiza-se na noite do Sábado anterior ao Domingo de Ramos. Nessa noite, sai da igreja de Santa Cruz para a do Seminário Conciliar (Igreja de São Paulo) a imagem do Senhor dos Passos. É um percurso breve. Os que nele se integram têm, contudo, uma intenção que os há-de levar mais longe: participar na via-sacra, passando pelos “calvários†dispersos na cidade, de portas fechadas ao longo do ano, mas agora visÃveis na harmonia das suas cores. Quarta-feira Santa Nos últimos anos, foi recuperada e antecipada para a Quarta-feira da Semana Santa uma procissão que se realizava na noite de Sábado Santo: a “Procissão da Burrinhaâ€, assim chamada por nela se incorporar uma imagem da SantÃssima Virgem, montando um franzino jerico. Esta procissão constitui hoje um dos mais conseguidos momentos catequéticos da Semana Santa. A “Procissão da Burrinha†regressou à Semana Santa em 1998, após uma suspensão de 25 anos. Na altura em que foi suspensa, realizava-se na noite de Sábado Santo, entre a igreja de São Victor e a da Misericórdia, mas o seu conteúdo não tinha a força do actual. Quinta-feira Santa A Quinta-feira Santa é o último dia da Quaresma — com a Missa da Ceia do Senhor começa o TrÃduo Pascal). Antigamente, na manhã deste dia celebrava-se o rito da reconciliação dos penitentes, a quem tinha sido imposto o cilÃcio em Quarta-feira de Cinzas. Agora, a manhã é preenchida pela Missa Crismal e a bênção dos óleos, que hão-de ser utilizados na administração dos sacramentos do Baptismo, Crisma (ou Confirmação) e Santa Unção. É vulgar que, na homilia, o bispo diocesano sublinhe alguns aspectos da vida do presbitério, mormente glosando a Carta do Papa aos Sacerdotes, anualmente publicada, expressamente, para esta ocasião. Durante a tarde celebra-se, na Missa Vespertina da Ceia do Senhor, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio e também a proclamação solene do Mandamento do Amor, na sua nova dimensão: «Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei», como ordenou Jesus, que, para dar exemplo palpável do amor declarado, lavou-lhes os pés. Lavar os pés era um dever de hospitalidade num paÃs de viajantes descalços ou usando sandálias. Chegavam cobertos de pó, que os escravos deveriam retirar. Percebe-se, por isso, o espanto dos apóstolos, traduzido por Pedro: «Senhor, tu vais lavar-me os pés? Não; nunca...». Jesus insiste, contudo, no serviço humilde, num gesto que anuncia a entrega mas que só horas depois se perceberá. No final da Missa, o SantÃssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares. A procissão do Senhor Ecce Homo É a procissão do princÃpio da noite de Quinta-feira Santa, lembrando o momento em que Pilatos apresentou à multidão Jesus flagelado e coroado de espinhos. “ Ecce Homo†(Eis o homem), disse o Procurador, porventura acolhendo a secreta esperança de que tudo pudesse terminar por ali. Mas não; não se comoveram os circunstantes, que continuaram a reclamar, e conseguiram, a condenação à cruz. Também se lhe chama “Procissão dos fogaréusâ€, lembrando os tempos em que era precedida por um grupo de mascarados que transportava tigelas acesas e acusava, impiedosamente, os moradores das ruas por onde o cortejo passava. Sexta-feira Santa Este é o dia em que não é celebrada a Eucaristia. Sexta feira dedica-se à Paixão um especial rito comemorativo, normalmente com inÃcio à s 15h00, mediante o cumprimento de um minuto de silêncio, que convida a um exame de consciência e consequente contrição. Divide-se pela proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da Cruz e comunhão. Na Sé de Braga, no final da celebração da Paixão, o SantÃssimo Sacramento é encerrado no caixão, que será conduzido na Procissão Teofórica, até à capela onde vai ficar resguardado. A procissão do enterro do Senhor estabeleceu-se em Portugal nos fins do século XV ou princÃpios do XVI. Foi trazida de Jerusalém pelo padre Paulo de Portalegre, tendo começado a fazer-se no convento de Vilar de Frades, em Barcelos, donde se propagou por todas as catedrais. No caixão ia uma das hóstias consagradas em Quinta-feira Santa (daà o nome de “teofóricaâ€, ou seja a que leva Deus). Na Sé de Braga, as naves são escurecidas e assistem ao passar da procissão, enquanto pequenos cantores entoam lamentos: «Heu, heu Domine; heu Salvator Noster» (Ai, ai Senhor; ai Nosso Salvador). Ouvindo estes lamentos, podemos lembrar que nos funerais do tempo de Jesus as lamentações dos mortos cabiam aos parentes, amigos e conhecidos. Às vezes, a todo o povo. Também se chegava a pagar a pessoas, geralmente mulheres. Procissão do Enterro Braga participa nesta solene procissão na noitede Sexta-feira Santa. É uma procissão vivamente contrastante com a da noite da Quinta-feira Santa: não há fogaréus, os participantes vão de rosto coberto e os estandartes das confrarias e irmandades não vão desfraldados, mas caÃdos sobre os ombros de quem os transporta. O silêncio é quase total, apenas quebrado, aqui e ali, pelo gemido de uma lamentação. À frente de cada grupo de pequenos figurantes, um anjinho transporta o letreiro identificativo. Eis alguns exemplos: Moisés acompanhado pelos israelitas; Jesus com os apóstolos; Jesus a caminho do Monte das Oliveiras; Agonia de Jesus no Horto; Conforto; Prisão de Jesus; Jesus açoitado e coroado de espinhos; Jesus consola as mulheres de Jerusalém; Jesus recomenda a sua mãe o discÃpulo amado; Pai, em vossas mãos entrego o meu espÃrito; Jesus morre na Cruz; Descimento da Cruz; Esquife com a imagem do Senhor morto; Última dor de Nossa Senhora; Resignação; Penitência; As minhas palavras hão-de cumprir-se a seu tempo; Darei meu coração a todos os que invocarem meu nome; Paixão; Calvário… Sábado Santo O significado do Sábado Santo está patente na apresentação que dele faz o Missal: a Igreja permanece neste dia junto do túmulo do Senhor, meditando na Sua paixão. A única celebração primitiva parece ter sido o jejum. Actualmente, como dia de oração e repouso, encontra na oração da Liturgia das Horas o seu único momento. Deste modo, no OfÃcio de Laudes saboreia-se a salvação universal anunciada aos justos no Antigo Testamento; nas Vésperas, poucas horas antes da VigÃlia Pascal, domina a esperança perante a iminente ressurreição. Uma deficiente interpretação do Sábado Santo chegou a antecipar para o perÃodo da manhã a celebração da vigÃlia. A partir do século XIV passou para as primeiras horas da manhã; mas tudo foi reconduzido ao significado primitivo com Pio XII, em 1951. Domingo da Ressurreição O Domingo da Ressurreição é, fundamentalmente, a VigÃlia Pascal. É uma celebração nocturna, que dá cumprimento ao pedido do Senhor: «tende as vossas lâmpadas acesas». Esta noite santa rompe com o jejum e inaugura a grande festa da alegria. É a noite da celebração sacramental da Páscoa pela Palavra, o Baptismo e a Eucaristia. A grande vigÃlia atinge o seu cume precisamente na celebração da Eucaristia, que inicia o Domingo da Ressurreição. É a Eucaristia por excelência, na qual o neófito e cada cristão são absorvidos na comunhão com Cristo, nossa Páscoa, enquanto esperam a vinda gloriosa do Senhor. A vigÃlia termina antes do amanhecer. Inicialmente era a única celebração do Domingo; e na liturgia romana foi-o seguramente até ao século V. Esta Missa da VigÃlia Pascal, mesmo que termine antes da meia-noite, é a missa pascal do Domingo da Ressurreição. Compasso ou Visita Pascal O Domingo de Páscoa é, em muitas terras, dia para o Compasso ou Visita Pascal: através das ruas festivamente adornadas, o pároco, ou alguém que o represente, leva, de casa em casa, a Cruz florida em visita à s famÃlias. Foguetes e campainhas avisam que «já aà vem...», de modo que familiares e amigos se possam perfilar, atempadamente, para beijar a Cruz. Em 21 de Fevereiro de 1942, o Arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, referia-se assim a este costume: «A Santa Igreja quer que o seu representante nas freguesias, anjo custódio e pacificador das almas que lhe foram confiadas, percorra os lares do seu rebanho, aspergindo-os com a água lustral, que os guarde, proteja e defenda, como foi defendido o povo de Deus, assinalado na saÃda do Egipto, pelo sangue do Cordeiro, figura de Jesus Cristo. É nesta nobre e santificadora missão que o pároco leva a todas as casas e aos seus filhos espirituais que nelas vivem os seus votos paternais de ressurreição espiritual, eficaz e duradoura». Mais informações em www.semanasantabraga.com Semana Santa Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...