Senhor dos Navegantes preserva cariz religioso Diário do Minho 04 de Agosto de 2005, às 11:02 ... As tradicionais festas em honra do Senhor dos Navegantes, nas Caxinas, são este ano marcadas pela evocação do 20.º aniversário da inauguração da igreja paroquial daquela freguesia de Vila do Conde. As festividades da singular comunidade piscatória começam hoje e prolongam-se até domingo. A paróquia está empenhada em preservar a vertente religiosa dos festejos, apesar da existência de actividades paralelas. Um dos pontos altos do programa é a exposição “Caixas de esmolas e outras representações de Almasâ€. Preservar a Festa do Senhor dos Navegantes como festa religiosa tem sido, ao longo dos tempos, uma preocupação da paróquia das Caxinas. A organização de actividades profanas paralelas é inevitável mas, António Lima garante que «tudo é feito para que a festa não seja profanada». Para tal, os cuidados com a preparação do programa é grande e são escolhidas actividades e artistas «que não colidam com o carácter religioso da festa», sublinhou o mesmo responsável. No dia da procissão, os homens do mar organizam-se e decidem entre as embarcações aqueles que vão levar os andores. Num costume já centenário, existe a tradição de cada embarcação dos pescadores “dar o quarto do Senhorâ€. Este é um donativo feito pelos homens do mar que, todas as semanas, para o Senhor dos Navegantes. É com base nesses fundos que é organizada a festa da paróquia. Entre os 16 maiores “quartos†de um ano são escolhidos aqueles que levarão os andores no dia da procissão. Aniversário da igreja As tradicionais Festas ao Senhor dos Navegantes, nas Caxinas, são este ano marcadas pela evocação do 20.º aniversário da inauguração da igreja paroquial daquela freguesia de Vila do Conde. As festividades daquela singular comunidade piscatória começam hoje e prolongam- se até domingo. A “Igreja do Barco†– como é apelidada por muita gente – foi inaugurada e dedicada no dia 4 de Agosto de 1985 em cerimónia presidida pelo Arcebispo de Braga de então, D. Eurico Dias Nogueira. Ainda hoje, aquele templo é tido como um projecto arrojado, inovador, que não deixa ninguém indiferente. A autoria do projecto de arquitectura é do padre Manuel Gonçalves, que não veria, contudo, a sua obra acabada, uma vez que faleceu a meio da construção da igreja, que durou cerca de três anos e meio. Segundo relatou o pároco ao Diário do Minho, a actual igreja veio substituir uma antiga, implantada no mesmo local, num processo que se revelou tão melindroso quanto pacÃfico. «A igreja antiga tinha sido inaugurada em 1928 e serviu a comunidade durante 53 anos, o que, para uma igreja é relativamente pouco tempo », referiu o padre Domingos Ferreira Araújo. Na altura em que foi apresentado o projecto de construção do novo templo, o sacerdote recorda que, apesar de nunca ter existido qualquer contestação pública, algumas pessoas pretendiam que a “velha†igreja não fosse demolida. «Houve até uma pessoa que se disponibilizou a doar um terreno, mais no interior, para que lá fosse construÃda a nova igreja», lembrou o pároco, acrescentando que o conselho paroquial entendeu que a igreja dedicada ao Senhor dos Navegantes tinha de ficar situada à beira mar e, por isso, no local onde estava o antigo templo. O projecto foi lançado e a obra executada. «Só depois de verem a nova igreja é que muitos dos que defendiam a preservação da velha igreja deram “a mão à palmatória†e concordaram que, de facto, só um novo espaço litúrgico como o que actualmente existe era capaz de satisfazer as necessidades da paróquia», afirmou o padre Domingos Ferreira Araújo. Apesar do antigo templo ter sido demolido, o pároco sublinha que «toda a talha existente foi aproveitada » e nada foi vendido, apesar de não terem faltado interessados em adquiri-la. Essa talha está agora colocada parte na cripta da igreja paroquial e nas capelas do SantÃssimo Sacramento e de S. Brás. Mesmo assim, ainda sobraram algumas peças que estão guardadas e que serão, posteriormente, aplicadas noutros locais da paróquia. Reconhecida por todo o paÃs e no mundo pela sua peculiar forma em barco, a igreja paroquial das Caxinas tornou-se uma referência daquela terra e da própria Arquidiocese de Braga. «O mais importante é que ela continua a estar cheia de pessoas, não só desta paróquia como de outras provenientes das mais diversas partes», destacou o padre Domingos Ferreira Araújo. O secretário do Conselho Económico Paroquial revelou ainda ao DM que, ao fim destes anos, a paróquia está a ponderar executar algumas obras de remodelação na igreja, quer no interior como no exterior. No entanto, António Gomes Lima refere que ainda não existem verbas para tal intervenção, pelo que, primeiramente, será desenvolvido um processo de angariação dos fundos necessários. Exposição mostra devoção à s Almas Do programa deste ano destaca-se a realização da exposição “Caixas de Esmolas e outras representações de Almasâ€. A mostra está patente na cripta da igreja das Caxinas até ao dia 4 de Setembro. O património exposto — propriedade do Museu de Vila do Conde — mostra diversas caixas de esmolas e retábulos pintados com cenas do Purgatório. De acordo com a documentação e explicação técnica que pode ser lida no local, é referido que «o culto das almas ao ar livre é fruto do fervor religioso do povo que, assim, manifesta o seu protesto contra a Reforma e afirma a sua devoção à s almas dos fiéis defuntos», pode ler-se num placar, o qual diz também que foi no século XVIII que a representação do Purgatório ao ar livre mais se intensificou, concretamente, na construção das conhecidas “alminhasâ€. Dedicação reconhecida «Se as Festas ao Senhor dos Navegantes são o que são, isso deve-se à generosidade e ao empenho pessoal do nosso pároco », frisou ao DM António Gomes Lima, também ele responsável pela organização das festivi- dades. De facto, a acção paroquial do padre Domingos Ferreira Araújo – que conta com quase 30 anos – é elogiada pela generalidade dos seus paroquianos. António Lima destaca de todo o programa a realização da procissão, o momento alto das festas paroquiais. «A nossa procissão tem uma grande organização e isso deve-se ao nosso pároco que faz catequese com todos os figurantes que a integram», asseverou o mesmo responsável. De acordo com o secretário da paróquia, o padre Domingos Ferreira Araújo organiza ensaios e explica a cada um dos figurantes a razão pela qual integram a procissão e o significado das vestes que envergam. «Assim, todos sabem qual a sua função e o papel que têm de cumprir e não há desorganização nem improvisos», acrescentou. Por este facto, «muitas das pessoas, que não dispensam de virem apreciar a procissão todos os anos, apercebem- se que há qualquer coisa de diferente nesta procissão que a distingue de tantas outras», sublinhou António Lima, apontando que essa diferença é sustentada pelo facto «das pessoas que lá vão saberem o que vão a fazer». Integram a procissão 500 figurantes, 16 andores, as confrarias e movimentos da paróquia das Caxinas, «num total de cerca de 1.100 pessoas», afirmou o responsável. O cortejo religioso cumpre-se num trajecto de dois quilómetros e 100 metros, o dobro da extensão da procissão que atinge cerca de um quilómetro. Religiosidade Popular Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...