Nacional

Sínodo de Viana discute "comunhão e participação"

Paulo Gomes
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Assembleias do Sínodo chegam ao fim no próximo sábado

As Assembleias do Sínodo Diocesano de Viana do Castelo chegam ao fim, no próximo sábado, com a votação das propostas respeitantes ao último tema - Comunhão e participação na vida da Igreja – numa altura em que se iniciam as comemorações anuais da criação desta parcela de “Povo de Deus”, desmembrada da Arquidiocese de Braga, a 3 de Novembro de 1977. Na Assembleia do passado fim-de-semana, onde se iniciou a discussão desta temática, padre Jorge Barbosa, com uma intervenção introdutória, referiu que as respostas sobre a temática, obtidas através de inquérito, revelam «estamos no início do caminho». Esta leitura é reforçada, explicou pela forma como «foi genericamente encarada pelos diversos agentes e intervenientes, a proposta, a convocatória, a preparação e desenvolvimento dos trabalhos deste Sínodo». Recorrendo a uma imagem do mundo da música apresentou a «verdade» como «uma sinfonia» e a unidade como «comunhão na verdade, onde as diferenças não se decompõem nem se auto-isolam em particularismos ruinosos, mas se solidificam numa reciprocidade de amor que olha sempre ao bem maior». Assim, frisou, na Igreja, «não temos uma verdade única que todos devam reproduzir» , nem se trata de um espaço onde alguém «propõe as ideias, dá as ordens e os outros se limitam a acompanhar», mas uma realidade onde «é necessário o contributo de todos, cada um à sua maneira e dentro das suas possibilidades, na procura de um consenso que é a verdade do Evangelho proposta para cada tempo e cada lugar». Por isso, «comunhão e participação» são conceitos que «definem a identidade e a acção da Igreja, no sentido de encontrar e propor a verdade do Evangelho para os homens de hoje», alertou aquele sacerdote. Numa leitura das respostas chegadas à Comissão Sinodal, o padre Jorge Barbosa encontrou a «denúncia da existência de comunidades» onde «os agentes da pastoral se limitam a dizer “amém” à palavra sábia de alguém que impõe as suas regras e vê a comunhão como a obrigação de os outros comungarem das suas ideias». Expressões e atitudes do género “faço isto porque aqui quem manda sou eu” ou afirmações como “eu dei ordens para que…” ou “quando tiver dúvidas eu consulto-vos” revelam que «vai por aí um grande alheamento da comunhão na Igreja». Este tipo de atitude, esclareceu, não só «inibe os outros à colaboração ou participação», mas, igualmente, «nega a própria identidade da Igreja que pretendemos construir e a verdade do Evangelho que queremos apresentar». Este tipo de «exercício do poder» e de «afirmação pessoal», acaba por «contaminar» os próprios leigos, bem espelhado naqueles que «se deixam aliciar por ofertas ou pela oportunidade de controlar dinheiros ou outras formas de poder» e, muitas vezes, denunciou, os movimentos de apostolado, «em vez de serem factor de comunhão, transformam-se em capelinhas, manifestando tendências egoístas». A Igreja desenha-se na sua inseparável dimensão de comunhão dos cristãos com Cristo e de comunhão dos cristãos entre si, sublinhou o sacerdote que advertiu para a necessidade de não interpretar a comunhão eclesial «simplesmente como uma realidade sociológica e psicológica». «Atingir a verdade» é o grande objectivo da realização da Igreja que só será alcançado no exercício da «caridade», na cujo roteiro é a «comunhão de vida», inspirada pela Trindade. Neste capitulo é «fundamental», defendeu, que se deixa a ideia de fazer concessões no sentido de «permitir aos leigos que exerçam determinadas funções na Igreja», mas antes se «promovam as funções e ofícios que pela condição de leigos só a estes pertencem». Em Viana do Castelo, concluiu, falta «um verdadeiro conceito de Igreja-comunhão onde todos e cada um tenham consciência da realidade e da missão da Igreja, onde todos e cada um conheçam, possam e queiram exercer com dignidade as implicações do seu Baptismo, Matrimónio, Ordem e sobretudo da participação na Eucaristia». É urgente reflectir, prosseguiu, «que Igreja somos, que Igreja queremos ser, que é que a sociedade de hoje, que já não sente necessidade da fé e rejeita os valores cristãos, pode ainda esperar dos discípulos de Cristo enquanto presença viva da Palavra e como Boa Nova também para ela».


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