A Igreja não pode continuar a ter medo da comunicação social e tem de investir em porta vozes que possam responder aos desafios que a comunicação social lança. Esta posição foi assumida por Alexandre Manuel, jornalista, que considerou que a Igreja “olha os meios de comunicação com estima para difundir, mas com receio porque já não os controla”.
O jornalista, que se encontra a concluir uma tese sobre a imprensa regional da Igreja, afirma que “se a Igreja precisa de púlpitos próprios para difundir a sua mensagem deve antes marcar presença no lugar onde se faz opinião, nos meios laicos e lutar antes por católicos nesse lugares”.
A intervenção da Igreja nos media continua longe do desejado. “Continuam a existir conflitos pequenos mas suficientes para emperrar a relação entre os media e a Igreja” Este jornalista afirmou que a hierarquia escolhe protagonistas que pouco têm a ver com a lógica e pouco contacto com pessoas que a tempo possa responder e reagir.
“A Igreja tem de estar preparada para reagir em alturas difíceis e por isso apostar em porta vozes que possam lidar com os media. A missão deverá ser entregue a quem dela sabe. Falar do púlpito para baixo, é muito diferente de falar em comunicação social. É preciso radical mudança de alguns responsáveis, principalmente os que vêem como mero instrumento de veículo de mensagem”, sublinhou o jornalista Alexandre Manuel no painel da manhã de Sábado no 7º Congresso da AIC.
Este jornalista é de opinião que a Igreja não deverá investir num único órgão de comunicação, pois “mais importante do que dispor de uma semanário ou quinzenário, é o poder intervir num jornal profissional. A Igreja deveria investir na diminuição do número de jornais e apostar na profissionalização”.
Contraste litoral e interior
Uma clara “litoralização do país” e um “dramático processo de interiorização” foram indicadas por Francisco Cepeda, professor catedrático e convidado para reflectir sobre a imprensa regional no contexto das regiões.
“Portugal é formado por pequenas arquipélagos, e mais algumas ilhotas dispersas pelo território. Grande Porto, Grande Lisboa, Algarve e zona de Leiria – Fátima onde o crescimento é notório”. Mas “os custos das metrópoles não são diferentes da interioridade”.
“O desenvolvimento do país é difuso ao longo de todo o território nacional. Alto Douro tem tendência para agravar a falta de desenvolvimento”, denunciou professor, recordando um “centralismo do poder preocupado com litorização da economia e desertificação do interior”.
A regionalização é o caminho indicado para ultrapassar barreiras. “Um espaço nacional não é igual ao espaço regional – tem dimensões e realidades diferentes”. A regionalização faz-se praticando, corrigindo os percursos e não deve ser “diminuída à dimensão política, o que aconteceu”. A regionalização não é um fim em si mesmo, considerou o professor. “Tem como objectivo cimeiro o desenvolvimento, não é uma arma política. A regionalização será um processo em constante exercício e reformulação”.
Sobrevivência da imprensa regional
César Urbino, ex-director de Voz do Nordeste, traçou as dificuldades e aos mesmo tempo, os desafios que a imprensa regional atravessa. A sobrevivência económica, consequência da crescente profissionalização por força da maior exigência dos leitores e da maior concorrência. “O Estado tem diminuído os subsídios, tem criado novas exigências”.
A Entidade Reguladora da Comunicação “não existe para melhorar o mundo jornalístico, mas para dificultar as actividades dos jornais”. César Urbino criticou a mentalidade retrógrada e a cultura limitada dos juizes portugueses. “O sistema judicial traz custos altos aos jornais, se quiserem ser interventivos e não instalados”. A sustentabilidade dos projectos jornalísticos foram agravados pela crise mundial.
O ex- Director apontou ainda o desafio de espírito de missão. “O jornalismo é um contra poder. Muitos jornalistas fazem-no pelo poder que têm, mas o jornalismo é mais do que profissão é uma missão. Deve pautar-se pela ética cívica, contribuindo para uma sociedade transparente, participativa e solidária”.
Por último o desafio da objectividade e da verdade. César Urbino indicou haver uma “confusão entre verdade e a verdade de cada pessoa. Há quem diga que não existe, mas isso não desobriga a não procurá-la, o que implica o respeito, no mínimo, pelo código deontológico”.