Imigração: um desafio que exige respostas concretas
Questão de grande actualidade na Europa e fenómeno ainda recente em Portugal, a imigração pede aos cristãos um olhar sobre a pessoa estrangeira também a partir da fé e da experiência bíblica do povo de Deus. Ver na “mobilidade crescente” de pessoas e famílias um dom de Deus para a fraternidade e no encontro de povos e religiões um precioso contributo para a paz são o maior desafio colocado actualmente á acção das comunidades cristãs.
Há uma nova esperança a brotar profeticamente das migrações na Europa. Elas interpelam a vida quotidiana das pessoas para a prática universal do diálogo ecuménico, intereligioso e intercultural. Não reconhecer na imigração um meio privilegiado para o diálogo e para o encontro, não acolher as potencialidades humanas e universais que encerra, é perder uma oportunidade providencial para a consolidação da paz no mundo.
A Imigração em Portugal esteve em reflexão num dos “workshops” do segundo dia do 27º Encontro Europeu de Jovens, promovido pela Comunidade de Taizé. A Igreja de Arroios, em Lisboa, acolheu uma centena de jovens de várias nacionalidades para escutar testemunhos e encontrar respostas concretas para “um futuro de paz e não de infelicidade”. Foram intervenientes o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas de Lisboa, o projecto “Âncora” da diocese de Évora, um leigo missionário brasileiro e um jovem cristão húngaro que vive no meio dos muçulmanos na Argélia.
De facto, para “um futuro de paz” é preciso repensar a atitude e o espírito que anima a acção social de muitos cristãos. O “espírito de Taizé” convida a ir além de um olhar redutivo e “fatalista” que teima em entender os imigrantes exclusivamente sob a óptica da pobreza, como pessoas a acolher, e não como portadores de cultura, de civilização, de nova evangelização e genuínos construtores de “redes de paz”.
Autêntico “tesouro escondido”, eles são enviados hoje com uma missão de renovação das relações entre as pessoas e clamam um apelo á confiança no próprio homem onde Deus continua a revelar-se simplesmente.
Aos cristãos, já muito comprometidos nas respostas que a Sociedade civil está a dar, é pedido um aprofundamento do seu conhecimento “pessoal” da realidade com vista a desenvolver um olhar positivo e mais dignificante sobre a imigração actual, não se ficando apenas pelo “discurso” sobre os benefícios económicos, demográficos e culturais que essa produz, em favor, sobretudo, da sociedade de acolhimento. Somente, deste modo, se poderão vencer os medos, preconceitos e demagogia que impedem o diálogo libertador das diferenças que a mobilidade proporciona e inevitavelmente provoca, de modo espontâneo, no ambiente de trabalho, na escola, na família e na Igreja.
Reconhece-se ainda não ser a imigração uma questão consensual na sociedade portuguesa, na igreja e na opinião pública. Algumas das razões podem ser encontradas na situação de emergência social, nas respostas implementadas ainda descoordenadas, muito fragmentadas e na abordagem excessivamente política e económica, também dentro da Igreja, que torna vulnerável e deixa “na margem” da integração a vida de muitos imigrantes.
Tal como os 40.000 jovens das mais variadas línguas e confissões cristãs, designados por “peregrinos de confiança através da terra” acolhidos de modo admirável por famílias das dioceses de Setúbal, Lisboa e Santarém, também os imigrantes que estão em Portugal – homens e mulheres, lusófonos ou não – reclamam um acolhimento digno e oportunidades de integração.
Eles, ao experimentarem na própria pele, a beleza e o conflito que comporta a construção responsável de uma terra de paz para todos, são o “tesouro escondido” que a Europa e Portugal teimam em descobrir e em reconhecer profeticamente como parte da solução para uma “sociedade integrada”.
A experiência do “espírito de Taizé” em Portugal, nesta quadra natalícia, veio mais uma vez demonstrar, de modo eloquente, que Portugal tem ainda muito para dar e receber, para partilhar e exigir dos imigrantes que, a procura legitima de uma vida de qualidade, trouxe e traz simplesmente até nós como peregrinos de um futuro de paz.
Rui Pedro