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Terra Santa na vida de um bispo português

José Carlos Patrício
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D. Teodoro de Faria recorda o período de estudante em Jerusalém e celebração do Natal em Belém

A passagem pela Terra Santa marcou em definitivo a vida de D. Teodoro de Faria, bispo emérito do Funchal, para quem o convívio com o povo e os lugares bíblicos leva a uma leitura da Palavra de Deus completamente diferente.

“Um dos meus professores dizia que se aqueles grandes biblistas alemães, que estavam sempre dentro do seu quarto a estudar, fossem à Terra Santa, iam mudar muitas das suas opiniões” assinala, em entrevista ao Programa da Igreja Católica na Antena 1.

O prelado frequentou o curso de Bíblia em Jerusalém, entre 1957 e 1959, uma passagem que permitiu ao bispo emérito do Funchal ganhar um conhecimento profundo do povo bíblico, e que lhe proporcionou, ao longo da sua vida, uma vivência mais rica dos tempos litúrgicos.

Uma das principais memórias que guarda desse período diz respeito ao tempo de Natal, já que teve oportunidade de viver esta quadra festiva “em lugar próprio”, em plena cidade de Belém.

“Estar lá naquele ambiente era qualquer coisa de impressionante, que nunca mais esqueci” afirma D. Teodoro de Faria, classificando o Natal de Belém como “único, pela sua simplicidade e pobreza”, tal e qual como a realidade que Maria e José terão enfrentado quando chegaram àquela região da Galileia.

“Ali nada tinha do consumismo do Natal feito nas nossas terras” acrescenta o bispo, trazendo à memória momentos de “poesia”, passados a observar “o campo dos pastores”, ou percorrendo as estradas estreitas, “por onde mal cabia um carro”.

Momentos que o prelado revive ainda hoje, na Diocese do Funchal, “quando os padres pedem para celebrar o Natal numa igreja pequenina, numa paróquia afastada”.

“Celebrar a festa, mas com um sabor bíblico, mais próximo de Belém, ajuda a interiorizar o mistério” realça.

Confessa-se feliz por ter tido a oportunidade de viver na Terra Santa uma realidade que se assemelhava ainda aos tempos de Jesus, especialmente entre “o povo simples, os árabes que ali viviam”.

“Ver as mulheres de Belém vestidas quase todas com as vestes bordadas das festas, mais ou menos como nos tempos antigos, certamente que nos dava mais um ambiente de Maria, de Isabel, de José”, realça D. Teodoro de Faria, apontando como exemplos a cidade de Hebron ou a aldeia de Aim Karim, que a tradição cristã identifica como a terra de São João Batista.

“Ainda hoje esse lugar é muito bonito” refere o bispo emérito do Funchal, relevando toda a envolvência “da montanha, das árvores, da fonte de Aim Karim, a subida até ao local da Visitação e o lugar da gruta onde, segundo a tradição, terá nascido João Baptista”.

D. Teodoro de Faria já teve ocasião de partilhar algumas das suas memórias através de um livro intitulado «A Harpa de Sião».

Para além de abordar a sua infância, na freguesia de Santo António do Funchal, o prelado recorda todos os acontecimentos e pessoas que influenciaram a sua vida, olhando também para o seu tempo de estudo bíblico em Jerusalém e Roma, e reflectindo sobre o seu trabalho ao serviço da Diocese do Funchal, entre 1982 e 2007.



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