Nacional

Tesouro da Basílica Real de Castro Verde

Luís Filipe Santos
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No próximo dia 17 de Outubro, realizar-se-á a inauguração do núcleo museológico de Castro Verde. A iniciativa, da responsabilidade do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e da Câmara Municipal, conta com o empenhamento das paróquias do concelho. O novo museu apresenta algumas das mais extraordinárias obras-primas do património religioso do Alentejo. Reconstruída de raiz, durante a primeira metade do século XVIII, a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição de Castro Verde deve-se ao mecenato de D. João V, corporizando uma homenagem do monarca, na qualidade de mestre da Ordem de Santiago, à vila em cujas imediações, segundo a tradição histórica, teve lugar a batalha de Ourique, decisiva para o afirmar de Portugal como reino independente. A escala grandiosa do edifício, projectado por João Antunes, o célebre arquitecto das ordens militares de Santiago e Avis, torna-o uma referência marcante na silhueta urbana, visível à distância. Mas o monumento é igualmente notável pelo seu património integrado e móvel, com realce para os ciclos de azulejaria e pintura mural – numa clara exaltação da importância nacional daquele acontecimento bélico –, os altares de talha dourada e policromada e a imaginária mariana. O interesse do Magnânimo pela valorização de Castro Verde levou-o a favorecer a Colegiada existente na sua igreja e a obter da Santa Sé uma distinção muito especial para ela, o título de basílica. Ainda hoje a matriz é conhecido pela designação de Basílica Real, tal como aparece em documentos antigos. A paróquia de Nossa Senhora da Conceição conserva um importante conjunto de alfaias litúrgicas, também elas resultantes, em grande parte, da encomenda régia, entre as quais sobressai a célebre custódia de aparato, da autoria de um dos mais destacados ourives do tempo de D. João V. Com o intuito de dar a conhecer este espólio, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e a Câmara Municipal uniram esforços para a instalação de um núcleo museológico numa das sacristias do edifício: o Tesouro da Basílica Real de Castro Verde. Trata-se de um espaço destinado a servir de “prólogo” à visita das igrejas históricas do concelho e dos interessantes percursos de turismo cultural, religioso e ambiental que elas suscitam, alguns deles coincidentes com as antigas canadas por onde circulavam os rebanhos do Campo Branco na sua plurissecular transumância. Para além da exposição rotativa do acervo da própria matriz, o Tesouro integra, a título de depósito temporário e com a indicação das paróquias a que pertencem, outras peças provenientes de santuários rurais de Castro Verde, como a cabeça-relicário de São Fabião, de Casével, obra-prima da ourivesaria românica peninsular (séc. XIII), e a imagem flamenga de Santa Bárbara, de Entradas (séc. XV).Constituindo a terceira unidade museológica a ser organizada pela Igreja no Baixo Alentejo, depois dos Tesouros da Colegiada de Santiago, em Santiago do Cacém, e da Igreja de São Vicente, em Cuba, o Tesouro da Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição passa a pertencer à rede de museus da Diocese de Beja e conta com o apoio do Projecto “Terras sem Sombra”, co-financiado pelo Programa Operacional da Cultura (Ministério da Cultura / Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional). O seu funcionamento insere-se no protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Castro Verde e a Diocese, em 2002, para a salvaguarda e divulgação dos monumentos religiosos do concelho.


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