Santuário de Fátima prepara novas publicações dos escritos da Irmã Lúcia
A Irmã Lúcia deixa um conjunto notável de escritos que constituem um testamento espiritual inédito na história da Igreja pela longevidade da Vidente de Fátima.
O mais recente é uma compilação de textos e reflexões com o título "Apelos da Mensagem de Fátima", publicado em várias línguas após a revelação da terceira parte do Segredo, em Maio de 2000.
Os escritos mais importantes, porém, são as quatro memórias que ela escreveu entre 1935 e 1941: Primeira Memória, em Dezembro de 1935 (sobre a Jacinta); Segunda Memória, em 21 de Novembro de 1937 (Aparições do Anjo-Imaculado. Coração de Maria); Terceira Memória, em 31 de Agosto de 1941 (as 2 partes do segredo: visão do Inferno e devoção ao Imaculado. Coração de Maria); Quarta Memória, em 8 de Dezembro de 1941 (sobre o Francisco e descrição pormenorizada das Aparições do Anjo e de Nossa Senhora). A pedido do Reitor do Santuário, Mons. Luciano Guerra, a Irmã Lúcia escreveu recentemente outras duas memórias (sobre o pai e sobre a mãe).
Testemunho inédito
D. Carlos Azevedo, novo Bispo auxiliar de Lisboa, presidente da comissão científica da edição da "Documentação Crítica de Fátima", refere à Agência Ecclesia que estamos na presença do primeiro “testemunho interpretativo de um fenómeno espiritual”.
“O período de vida longo que Deus lhe concedeu fez com que ela pudesse proceder à releitura do que foi o acontecimento original e ter a própria interpretação desse fenómeno”, aponta.
O especialista em História da Igreja considera que a Irmã Lúcia pôde fazer uma “leitura mais eclesial, mais alargada do que foi a sua experiência espiritual”. Esse caminho interior da Vidente é importante para o resto da Igreja na medida em que, segundo D. Carlos Azevedo, “estamos perante uma pessoa de uma fé muito simples, muito forte, uma figura profética na profundidade da sua relação com Deus”.
Toda a percepção do fenómeno de Fátima chegou, agora, ao final de um ciclo. D. Carlos Azevedo refere que as consequências desta morte não serão imediatas, mas avança com a possibilidade de “se fazer uma leitura e uma hermenêutica de Fátima, que tem sido muito pouco feita”.
“É preciso agora uma interpretação, não só histórica da visão global de Fátima, mas também teológica, porque está encerrada a fonte dos acontecimentos”, conclui.
Novas publicações
O Pe. Luciano Cristino, director do Serviço de Estudo e Difusão do Santuário (SESDI), revelou na conferência de imprensa que esta manhã decorreu em Coimbra que novas publicações estão a ser preparadas.
O responsável executivo pela publicação dos estudos e documentos sobre Fátima, entre os quais estão os escritos da Irmã Lúcia, lembrou que a documentação começa com os interrogatórios feitos pelo Pe. Marques Ferreira, pároco de Fátima na altura das aparições - o primeiro dos quais deverá ter sido no dia 27 de Maio de 1917. Várias outras pessoas interrogaram a Irmã Lúcia, oficial e particularmente, entre as quais o Cón. Formigão e o Pe. Lacerda (fundador do “Mensageiro”).
A partir desses interrogatórios surgiram os quatro volumes da Documentação Crítica de Fátima. Um quinto volume está para ser publicado, em Maio deste ano, sobre os primeiros escritos da Irmã Lúcia, precisamente. “São cartas escritas à sua mãe, depois de ter entrado no Instituto Vaz Zeller, popularmente conhecido como o Asilo do Vilar, onde foi educada a partir de 1921 até 1925”, revelou o Pe. Cristino.